UtupiAR: é urgente!

quarta-feira, março 29, 2006

2 de Março - quinta-feira



No Centro Cívico Can Basté está a decorrer desde Fevereiro, todas as quintas às 21h30, um ciclo de cinema gratuito que me parece bastante interessante. Chama-se “Habitar a cidade” e no panfleto de divulgação podemos ler algo como: “Uma vez mais, o cinema e o documental convertem-se numa forma de ver a realidade através dos problemas sociais. A especulação, a dificuldade para ter ou manter uma habitação digna, a necessidade dos vizinhos e vizinhas em associarem-se para poderem defender os seus direitos, o direito de defender o uso social e comunitário dos espaços da cidade... São realidades que se reproduzem desde há muitos anos através de diferentes disciplinas artísticas e claro, através do cinema. Este ciclo convida-o, então, a conhecer como se habita a cidade e a pensar sobre ela.”. Claro que fiquei entusiasmadissima e fui ver o documentário “En Construcción” sobre o bairro do Raval.
Apesar do documentário ter a maior parte das falas em catalão (o que fazia com que não percebesse tudo) estava a gostar. Tive pena que uns problemas técnicos tivessem ocorrido e nem sequer o filme até ao fim pudéssemos ver.
Era sobre a construção de um novo imóvel no bairro do Raval e o que isso implica no dia-a-dia das pessoas que habitam no bairro e que vêm e sentem toda essa destruição e construção de perto. É que quando há uma mudança da paisagem urbana também há mudança da paisagem humana. As pessoas falam sobre a obra, as suas casas enchem-se de pó, os miúdos brincam com tijolos e outros materiais de construção, trabalhadores e habitantes do bairro enamoram-se... Todo este quotidiano mostrado de uma forma sincera e transparente é nos “contado” no filme.
O edifício ficará por 800 mil pesetas e vão vendê-lo por 20 milhões, ouve-se reclamar uma das personagens. E de facto é o que acontece. O negócio, o dinheiro, é que está sempre em jogo, é o mais importante. É assim nas sociedades capitalistas. O capital passa a ter mais valor que o ser humano. O markting e outras técnicas de relações públicas fazem com que muitas vezes acreditemos que multinacionais, empresas de construção, entre outras, agem por boa vontade e tudo para melhorar as condições de vida de todos. No entanto, desde o inicio, desde o plano de projecção, seja de uma urbanização, seja de um projecto cívico, até à sua execução e avaliação, as pessoas são postas de lado, as pessoas que vivem no local, as pessoas que sabem melhor do que ninguém das suas necessidades... Mas não, as coisas são feitas de cima para baixo, são apresentadas às pessoas sem qualquer tipo de ideias delas incluídas, ou pior ainda, são impostas às pessoas.
Será que, por ex, esta destruição de uns prédios degradados para dar lugar a um imóvel de luxo não é uma imposição para as pessoas que sempre lá viveram?
A mim custa-me que se alterem coisas, que se construam estátuas, que se façam alterações, que se coloquem ou retirem ecopontos, etc. etc., sem as pessoas que vão usufruir ou não dessas coisas digam da sua justiça. Porque raio é que hão-de colocar aquela estátua ou não outra? De certeza que não é porque as pessoas que vão ter que vê-la todos os dias a preferem em vez de outra, mas talvez porque é obra de um escultor famoso a quem a câmara não quer recusar trabalho, ou é filho do presidente da câmara, ou alguma empresa com fortes ligações com a câmara está a fazer pressão para, ou, ou, ou, tanta coisa pode ser...
Os bairros, com tudo o que lhes compete - ruas, praças, jardins, edifícios, escolas - pertencem às pessoas que nele habitam. E pertencem-lhes seja de uma forma individual como colectiva. As pessoas sentem o bairro como seu. Colectivamente, reúnem-se, discutem sobre os problemas e necessidades do seu bairro, organizam actividades, sob a forma de associações de moradores, comissões de festas.... Aqui em Barcelona, então, parece que estas associações e colectivos estão em peso e são bastante participativos e colectivos. Há então que devolver os bairros e as ruas às pessoas, pois a sua gestão, as decisões importantes e modificações estão a ser feitas sem se ter verdadeiramente em conta a opinião dos moradores.

Esta situação faz-me lembrar a Avenida dos Aliados no Porto, que está a ser destruía à rebelia de alguns cidadãos e sem tod@s serem devidamente informados. É mesmo uma vergonha. É que se trata de uma praça com grande importância para muitas pessoas (se não mesmo a mais importante), faz parte da história da cidade, tem uma carga emocional bastante forte para muitas pessoas (principalmente as mais velhas).. É nela que se celebram vitórias, que se fazem manifestações, que se passeia.... E sem consultarem verdadeiramente os cidadãos, vão alterá-la quase completamente. Não deveriam ser os cidadãos do Porto os primeiros a dizer se concordam ou não com essas alterações? Mas não, um arquitecto famoso como o Siza Vieira faz um projecto, é aceite, e já está! Quando digo consultar verdadeiramente os cidadãos faço-o porque apesar da câmara dizer que enviou cartas via postal a informar do que se iria passar, muitas das pessoas afirmaram não ter conhecimento do que se iria passar. Apatia dos cidadãos? Mas não deveria ter a câmara (supostamente) um papel facilitador neste ponto e não deixar que isso acontecesse? E nas assembleias abertas da câmara (desculpem, mas não sei o termo “técnico”), como explicam que várias pessoas fiquem de fora da discussão, ou porque não houve tempo para as ouvir, ou porque não se inscreveram para falar porque simplesmente não sabem escrever, ou porque já é a 3ª vez que lá vão e não vêm nenhum progresso sobre o assunto que a câmara prometeu prestar atenção?
Cada vez mais, acho que os órgãos camarários, por muita boa vontade que tenham algumas das pessoas que neles trabalham, têm uma estrutura muito vertical e acabam por se perder com tantas burocracias e a não dar a devida resposta aos pedidos das pessoas. Aliás, o problema, na minha opinião, é exactamente esse de ter que se dar resposta aos pedidos das pessoas, em vez de serem elas próprias a resolver os seus problemas, com a devida orientação, claro está. Explico melhor, tal como há ou já houveram durante vários anos, associações de moradores, associações culturais, ateneus populares, comunidades com bastantes pessoas, geridas pelas próprias pessoa de uma forma horizontal, transparente, onde a opinião de cada um valia o mesmo, também poderia existir o mesmo tipo de gestão em câmaras e outros organismos “tidos” como mais importantes. As pessoas devem ter uma participação forte na organização da sua rua, do seu bairro, da sua cidade, quanto mais não seja, devem ser plenamente informadas, e a tal participação fortemente incentivada. Pode parecer utópico, mas é só uma questão de se caminhar para lá em vez de por outros caminhos. Veja-se o caso do orçamento participativo que já começa a ser implantado nalgumas câmaras, como a de Palmela. Claro que é um processo mais demorado, mas mais rico, e mais justo, claro, e por isso o esforço deve ser tido.
Pior pior, e já que falamos de factos, é quando as pessoas quererem participar e contribuir, não o deixarem, ou não o facilitarem. Quando as pessoas sentem que estão a destruir algo que é delas, quando sentem que afinal aquilo não é delas (porque alguém destrui sem pedir autorização), quando as suas reivindicações são em vão, cada vez querem participar menos. Acontece isso no Raval, acontece no Porto, acontece, infelizmente, em várias partes do Mundo.
No entanto, há imensas iniciativas que surgem para contrapor essa situação. Ora iniciativas mais organizadas e estruturadas como as que vêm das associações de moradores e vizinhos que continuam a esforçar-se, ora movimentos cívicos criados especialmente para “combater” algo em especifico (como a Plataforma “Pelos Aliados” no Porto ou o movimento contra o AVE – comboio de alta velocidade Madrid/Barcelona – em Barcelona), ora movimentos mais espontâneos - muitas vezes chamados, e tão bem, de coincidências organizadas - (como o movimento Okupa, o movimento “Reclaim the street”, a Massa Crítica...).

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sexta-feira, março 17, 2006

1 de Março - quarta-feira


Sempre que vou à biblioteca dou uma olhadela na prateleira dos dvds, pois lembro-me que a minha lista de filmes a ver tem uns bons (presumo) filmes espanhóis. Ao mesmo tempo também é uma maneira de aprender a língua.

Ontem encontrei um, que apesar de não pertencer a essa lista, parecia bastante interessante: “!Hay motivo!“ (www.haymotivo.com) um filme de vários autores. Na sinopse lia-se: “!Hay motivo! é um alerta, é uma chamada de atenção que 33 realizadores de cinema realizam com a intenção de denunciar a situação política e social que se viu especialmente deteriorada durante a Legislatura transcorrida entre o ano 2000 e 2004. É um filme composto por 32 curtas metragens, de cerca de 3 minutos cada, mais um epílogo.”

Quis ver este filme essencialmente porque pensava que me poderia mostrar um lado mais “negativo” de Espanha que talvez não seja tão visível aos meus olhos neste momento. Só que claro, o governo passou de um partido extrema direita como o PP para um partido socialista, e claro que as coisas devem estar bastante diferentes agora. No entanto, há aquelas que mantêm iguais. Porque não as querem mudar, porque são difíceis de “remediar”, levam o seu tempo, e porque algumas são até “problemas” que ultrapassam barreiras e fronteiras, como a violência doméstica ou a solidão nos idosos. Além do mais, tudo o país tem o seu lado negativo, o seu lado “escondido”, o seu lado que não passa facilmente para fora, por mais “bem visto” que seja. Também podemos falar do que eu costumo chamar de “escalas de avaliação”. É que a maneira como avaliamos as situações tem muito a ver com ambição. E como seres humanos ambiciosos que somos, queremos sempre mais. Então, se para uns estamos muito bem, para nós mesmos podemos estar muito mais, porque somos exigentes e tentamos sempre ver o lado negativo das coisas. É como se a escala de avaliação tivesse tamanha diferentes dependendo da maneira como cada um percepciona as coisas. Cada um cria a sua escala. Eu cá gosto que a minha escala seja flexível e de compreender e ficar mais perto de escalas de outros por momento. Agora é a vez de ficar mais perto da escala de avaliação de muitos espanhóis.

No final, o filme motivou-me para querer saber mais acerca da situação política de Espanha actualmente. E como funcionam em relação às regiões autónomas, se são de partidos diferentes, etc.

Falando das curtas-metragens em si, algumas apresentavam dados assustadores, outras eram mais poéticas, outras extremamente simples, outras mais complexas. Por ordem cronológica, vou escrever apenas sobre as que mais gostei ou que de certa forma captaram a minha atenção e a da minha caneta e bloco de notas!

A primeira era a “Libre” de Joaquín Oristrell, uma viagem de taxi onde o cliente conversava com a taxista sobre a situação política e social do país. Era como uma introdução que nos dizia exactamente que nem tudo está bem, ou que tudo está negro (para os mais pessimistas).

Outras eram mais de carácter ambiental como a curta de Pere Potabella – “El Plano Hidrológico” – que explicava a diferença entre água-vida e água-negócio. Destaco por exemplo uma frase que diz algo como “como se diz a uma população de uma aldeia na montanha para abandonar as suas terras em solidariedade com os negócios urbanísticos”? Isto leva pensar em muitas coisas. Será que a construção de barragens e mais barragens, por ex., dá-se devido a necessidades humanas ou devido à avareza e ambição dos ricos? Lembro-me por exemplo da barragem que querem construir no rio Sabor em Portugal, destruindo assim um dos últimos rios selvagens de Portugal.

Também posso referir aqui a curta “La Pesadilla” de Álvaro del Amo sobre uma das maiores reservas naturais de Espanha, Donana, e a sua progressiva destruição.

“Cerrar los Ojos” (David Trueba) é daquelas simples. Só nos diz “Espanha é o país com maior quantidade de dinheiro negro em circulação.”

“¿Dónde Vivimos?” de Gracia Querejeta, também simples mas mais difícil de digerir: imagens de prédios a desmoronarem, mas sem parar. Era uma espécie de manifesto contra o betão ou manifesto contra a especulação imobiliária. Tanta coisa construída a ser destruída lembra-me todos os recursos que foram utilizados e então desperdiçados. Tanta coisa que tiramos da Natureza e não devolvemos, pelo contrário, retribuímos com lixo, com destruição.

“La insoportable levedad del carrito de la compra”, de Isabel Coixet, foi uma divertida curta onde um sem-abrigo (penso eu) nos fala dos problemas económicos dos reformados em Espanha, começando por dizer que agora vê mais avózinhas com o cabelo branco o que significa que não têm dinheiro para pintá-lo. Para um tom mais sério, alguns números são dados ao espectador: 3 em 4 reformados recebem menos de 600€ por mês; 800 mil mulheres recebem reformas inferiores a 400€; os reformados perderam 28% de poder de compra em 4 anos; foram visto tomates a 7€ o kilo em vários mercados do estado espanhol; e acaba em tom de brincadeira “não há dados sobre o aumento de mulheres idosas que deixaram de pintar o cabelo, mas eu vejo cada vez mais mulheres com o cabelo branco”.

Ainda sobre os idosos, “Soledad”, de José Ángel Rebolledo, apresentava-nos uma personagem só, terrivelmente só. Uma senhora de idade que vive sozinha e triste desde que o marido morreu, há 10 anos. Não é a única, em Madrid, no ano de 2003, 115 velhinhos morreram em completa solidão. Será que em Portugal o valor é também assim tão elevado? Fiquei bastante admirada!

Há ainda os temas mais polémicos, como a adopção em casais homossexuais, que vemos abordada na curta-metragem de Sigfrid Monleón “Adopción”. Existe um pai e um filho biológico, que não tem mãe. Existe o companheiro do “pai” que vivem juntos há 18 anos e cuidam juntos da criança. A pergunta que o filme nos deixa é “porque é que esse homem não pode ocupar legalmente o lugar de mãe?”. Em Espanha, faltam dados sobre quantas crianças vivem nesta situação (mas crê-se que são muitas), mas têm de gozar dos mesmos direitos que outras. Deixa-nos ainda a achega que as novas tipologias de famílias que surgem podem ser uma solução para milhares de crianças sem família. Eu cá concordo plenamente. A nossa sociedade é que parece ter palas à frente dos olhos, e teimar em ver as coisas só de uma maneira, a de sempre. É que ao longo da histórias existem vários exemplos de família e a que nós concebemos não tem de ser a mais correcta. Há famílias poligâmicas, homossexuais, etc. Nós insistimos na monogâmica e heterossexual porque foi sendo o mais comum. No entanto, se existem outras hipóteses, há que aceitá-las.

“Por tu bien” de Icíar Bollaín, só mesmo visto! Um Homem a ter um bébé. Tudo para nos demonstrar a desumanização dos partos nos hospitais.

Ainda sobre mulheres, temos a curta “El club de las mujeres muertas” de Víctor Manuel, bastante perturbante. Em 2003, 68 mulheres morreram devido a maus tratos, mais 30,7% que no ano anterior. Não fazia ideia que o numero fosse assim tão elevado, imaginava que maus tratos eram imensos mas que chegavam a morrer assim tantas nunca pensei. Será que em Portugal o número é também bastante elevado?

O filme ”Hay Motivo!” parece abordar vários questões sociais e grupos diferentes. Os “Adolescentes” (realizado por Chus Gutiérrez) também têm lugar. Falam sobre a escola obrigatória e dos professores que não motivam e como gostavam que houvesse uma relação mais de apoio e ajuda. Tive alguma dificuldade em perceber tudo porque o calão era muito. Há 29% de desistência da escolaridade obrigatória. E Espanha é o país que menos gasta por aluno em educação. Um professor também falou, dizendo que os professores não têm uma boa formação. 84% das doenças de professores são problemas psicológicos ou psíquicos. Nesta película achei curioso o facto de uma rapariga referir que na zona onde vive e vai à escola não há nada para fazer, então as drogas são a única novidade e uma maneira de fugir à rotina. Já se sabe que os jovens gostam e querem sensações novas, mas a oferta não é muita. Depois admiramo-nos do aumento do consumo de drogas nos jovens.

“Se vende colegio” (Pedro Olea) e “Catequesis” (Yolanda García Serrano) falam-nos da religião, dos estados que se dizem laicos, mas que apoiam actos mais obscuros.

Víctor García León apresenta-nos “Las barranquillas”, um bairro degradado nos arredores de Madrid. Extremamente sujo, pobre, feio, onde vemos bastantes toxicodependentes. Um trabalhador social fala, dizendo que as campanhas do governo são mais dirigidas para quem não consome. Quem consome fica à margem.

“Madrid, mon amour“, de Ana Díez e Bernardo Belzunegui, surge como uma curta-metragem peculiar. Uma visão de Madrid poética, e uma visão “negativa”. Uma visão que vê o que é bonito, uma visão que mostra o que está mal.

A partir desta curta todas as outras abordam directamente o governo e a política, falando de partidos, personagens, etc., o que fez que não percebesse tudo pois não conheço bem a historia e contextos políticos de Espanha.


Miguel Ángel Diez com a “Arma de destrucción mediática” e Imanol Uribe com “Manipulación” demonstram-nos como a informação pode ser manipulada e como existem imensas conexões entre os média e o governo.

“Verja” (Alfonso Ungría) é sobre Ceuta e os seus refugiados. Em 2001/2003 pedem asilo 20.964 pessoas. A 19.217 pessoas foi negado asilo. E 53,607 foram interceptadas na fronteira. Mortos e desaparecidos foram 468 pessoas, mas o número deve ser muito maior. A curta-metragem termina com uma respiração ofegante até que alguém diz “por favor, tenho fome, tenho medo, posso passar?”.

“Español para extranjeros” de José Luis García Sánchez, também é sobre imigrantes. Achei esta película bastante bem construída.

Começa com um barco pequeno a motor, com “refugiados”, e continua com imagens do dia-a-dia de refugiados em Espanha. Como contraste, temos vozes que nos lembram o dia a dia de um turista em Espanha: “Benvindos a Espanha, o motivo da sua viagem é de negócios ou de férias?”, “O que vai desejar para o almoço?”...

Mostra-nos assim de uma maneira crua e dura diferenças entre estrangeiros ricos e pobres em Espanha, terminando com a frase: “O ano passado localizaram-se 92 cadáveres de imigrantes. Os mortos reais foram provavelmente muitos mais”.

Em “¿Legalidad?” (Daniel Cebrián) ouvimos uma criança dizer: “Nada pode ser privado da sua liberdade”. Depois uma menina islâmica, imigrante em Espanha, conta o caso do seu irmão, também imigrante, que está preso em Guantânamo. Intercaladamente, imagens da base militar americana, de uma senhora a explicar o que se passe a nível de violação de direitos humanos e noticias de jornais.

Na pequena sinopse de “La pelota vasca” de Julio Medem lê-se: “Medem não aprende. Segue perigosamente empenhado em que as pessoas digam o que pensam. Como se a falar é que nos entendêssemos.”. Várias pessoas falam da situação de repressão do povo basco. “Kontrastasum” de Mireia Lluch, também era sobre os Bascos, mas desta vez com poesia e versos.

Houve uma altura que tinha bastante curiosidade sobre os bascos, procurava informação na Internet e sempre que conhecia espanhóis (quando estava em Erasmus, principalmente) perguntava o que achavam dos bascos. Com a informação lida na Internet fiquei com a ideia que os bascos são um povo muito peculiar, com características muito próprias. A língua, por ex., não tem mesmo nada a ver com o castelhano, nem com nada; não tem mesmo raízes semelhantes com outras línguas latinas ou anglo-saxônicas. À partida, isto parece não trazer qualquer confusão, só que o problema é que essa cultura peculiar está a ser “abafada” pelo resto de Espanha, segundo alguns. Quando uma cultura começa a ser submissa de outra ou mesmo a ser reprimida temos aqui um caso sério, digamos, é que há diversidade quando se consegue que culturas interajam e convivem, mas não quando uma se sente fraca. Aos poucos, vai-se perdendo e perde-se também um pouquinho mais de diversidade e riqueza cultura de um país.

No entanto, também ouço falar da ETA e dos partidos violentos que queria a independência do País Basco. Ao mesmo tempo que acho bem as pessoas organizarem-se (mesmo económica e politicamente) por grupos de afinidade (neste caso, a cultura e a língua podiam ser um deles), acho mal o uso da violência e não sei até que ponto é que os bascos querem mesmo a independência ou apenas a querem um grupo bastante convicto. Além do mais, faz-me confusão a criação de ainda mais fronteiras.

Concluindo, tenho de falar é com mais bascos, porque assim é que a gente se entende, tal como quer Medem, que por sinal é um dos meus realizadores favoritos.

“Cena de Capitanes”, Pere Joan Ventura, nesta curta os pescadores defendem o capitão do Prestige que estava a ser acusado embora não tivesse a ver directamente com o derrame, sendo apenas o capitão do barco, segundo o pouco que consegui perceber.

Também sobre o Prestigo, “Mayday”, de Manuel Rivas, desta vez dando especial enfoque ás manifestações que surgiram em toda a Espanha com uma força incrível. Para além da beleza que constituem, para mim, as manifestações no geral (pela visão das pessoas unida, juntas, concentradas, pela mesma causa, embora com a individualidade de cada um), a imagem destas foi particularmente bela dado que era um dia de chuva, mas mesmo assim o número de pessoas era bastante elevado e a quantidade de guarda-chuvas também. Mais do que a beleza da imagem, era o facto de me fazer pensar que os Espanhóis são muito mais activos e reactivos do que os portugueses. Acho que em Portugal, se está a chover, já é “desculpa” aceite para ficar em casa.

O Epílogo é de Diego Galán e é como se torna-se óbvio o que parecia querer dizer toda a película: que Espanha não votasse no Partido Popular, que não votasse no Aznar. É uma espécie de retrospectiva que começa com uma referência ao dia 3 de Março de 2003 e à declaração da guerra ao Iraque por parte do Bush, Blair e Aznar. Em Espanha, 3 dias antes das eleições gerais, no dia 11 de Março de 2004, ocorreu o tal ataque num comboio em Madrid, cujas primeiras suspeitas recaíam sobre a ETA. Apesar de as “investigações” apontarem para Al Quaeda, o governo continuava a insistir na ETA. Isto porque se o ataque terrorista fosse da Al Quaeda, os espanhóis teriam mais uma razão para não votar Aznar, dado que quis a guerra e agora Espanha estava a sofrer as consequências. Houve uma tentativa de manipulação por parte do governo, o que conduziu a grandes manifestações por toda a Espanha, principalmente Madrid, um dia antes das eleições, onde todos gritavam “antes de votar, queremos a verdade”.

Porém, o governo de Aznar continuou a afirmar que tinha sido a ETA, quando muitos indícios apontavam o contrário. Claro que perdeu, dando a vitória ao Partido Socialista.

No fim, os agradecimentos e as notas típicas de qualquer filme. No entanto, a diferença é que fizeram notar que muitos nomes não figuram devido a possíveis represálias. “Hay motivo” para pensar, não?

Hoje os nossos primeiros amigos espanhóis de Barcelona, aqueles do Hospitality Club que nos alojaram na primeira semana, cancelaram à última da hora o jantar que tínhamos marcado. A Marlene ficou fula já que tinha estado a cortar batatas e cenouras para o jantar!!

À noite, eu, a Marlene e o P. (holandês que vive connosco) até à Praça da Concórdia (que por sinal é das minhas praças favoritas daqui de Barcelona) relativamente perto de nossa casa, para assistirmos ao último dia de Carnaval! Organizado pelo Centro Cívico Can Deu (aquele muito bonito) e pela Comissão de Festas do bairro, como nos explicou a senhora simpática do centro que nos reconheceu e foi ainda mais simpática, e financiado pela câmara. Sardinhas em cima de um pão foram servidas (parece ser um prato típico daqui, parecem pizzas de sardinha!), a praça estava animada (mas não com muita gente) e um espectáculo de teatro e fogo foi “oferecido”. A mim encanta-me ver espectáculos com fogo, apesar de me assustar um bocado e de não conseguir deixar de pensar no insustentável que aquilo deve ser (poluente, perigoso e de certa forma desnecessário). Mas todas aquelas cores, movimentos, sons, formam um todo delicioso de ver. Mantém os olhos abertos, vivos e despertos.

segunda-feira, março 13, 2006

28 de Fevereiro - terça-feira

Hoje fomos ver uma peça de Teatro e Poesia de e sobre mulheres Centro Cultural Les Corts, que é uma espécie de Centro Cívico que também tem o Casal de Jovens Les Corts (já falei uma vez sobre este espaço). Acho que é um evento que vai repetir mais 2 vezes por causa da comemoração do Dia das Mulheres (a 8 de Março). Aliás, é incrível como aqui em Barcelona há uma montanha de actividades e eventos em relação ao Dia da Mulher!! Em todos os locais encontramos panfletos! É como se esta primeira semana de Março fosse o Dia da Mulher!

Sobre a poesia, só 10% era em castelhano. Logo, não percebi nada. Mas gostei de ouvir, sobretudo. Catalão ouvido parece uma mistura de português, russo e castelhano. Porque tem uma quantidade de sons com “s” e “chs” incrível. Se o português tem os “s” nos finais das palavras, o russo os “chs” e o castelhano aquele som “tss” com a ponta da língua no céu da boca, então o catalão tem isto tudo. Engraçado também é que algumas frases ou palavras pareciam mesmo português, como “sabes?”. É que parecia mais do que o castelhano parece português. Ou seja, a pronúncia era exactamente a mesma.

Depois eu fui ter com o tal rapaz advogado catalão simpático do Hospitality Club e dois franceses que estão na casa dele esta semana. Como estavam atrasados, fui dar um volta pelas Ramblas e por umas ruinhas. Terça à noite, 22h e as ramblas cheias de gente, parecia sábado à noite. Quando caminhava, os meus ouvidos poucas vezes identificavam castelhano ou catalão (será que já consigo identificar?), a maior parte eram turistas. Aliás, assisti a uma situação cujo guia da Ana Helena (como ela me contou) adverte: uns senhores que fazem umas partidas com 3 caixas e um objectivo que está escondido debaixo de uma delas, depois roda as caixas e o público vai apostando em relação à caixa que tem o objectivo. É claro que, devido a algum truque do “habilidoso”, o “turista” raramente acerta. Para ajudar, há alguma personagem que aposta e acerta; mas essa personagem é alguém “combinado” com o “habilidoso”. E realmente, parecia mesmo, pois depois dessa “vitória” ele não se afastou da zona, enquanto tudo o resto dispersou. Muito estranho.

Muito estranho também é o facto de eu não sentir medo nenhum quando estou sozinha nesta cidade. Lembro-me de algumas pessoas dizerem para termos cuidado, para não andarmos nas Ramblas à noite, bla bla bla.. Mas eu sinto-me segura. Isso não quer dizer que não tome as minhas precauções, não ando por exemplo a mostrar objectos de valor como máquinas fotográficas ou telemóveis e talvez seja exactamente por saber que não tenho um aspecto muito “arranjadinho” e “direitinho” que acho que não me vão “escolher” como alvo de assalto.

Não sinto medo nenhum talvez pelo facto de as ruas serem movimentadas. De ter sempre algo para ver. De não ter tempo para pensar em ter medo. No fundo, é um misto de tudo.

Os franceses eram muito simpáticos, daquelas pessoas por quem eu sinto logo empatia. Demos umas voltas a pé pela parte antiga da cidade para os franceses (que só vão ficar em Barcelona até sábado) verem mais alguma coisa de Barcelona. Foi bastante engraçado porque o J. (o tal rapaz do HC) parecia não conhecer muito bem essa parte da cidade e então ora íamos por caminhos errados, ora eu é que identificava os edifícios... Acabávamos todos na brincadeira com isso! Houve também uma situação que me ficou na memória, pois o J. perguntou a uma senhora já com uma certa idade onde ficava o Palácio da Música (edifício bem bonito, mesmo muito), pelos vistos enganamo-nos a seguir as indicações e viramos numa esquina. Entretanto ouvimos umas vozes, olhamos para trás, e vinha a senhora a correr atrás de nós advertindo-nos que nos tínhamos enganado! Há pessoas tão simpáticas e prestáveis.

Depois fomos até a um bar que tem uma sala de teatro e um terraço muito acolhedor, é gerido por uma associação cultural e temos que ser sócios dessa associação para poder frequentar o bar (basta uma pessoa do grupo e não é caro: 3€ por ano, tendo em conta que se tem descontos nesse e noutras salas de teatro “alternativas”).

Estivemos a conversar sobre várias coisas, e eu aproveitei para esclarecer as minhas dúvidas catalãs! Fiquei a saber que aquele “prou soroll” que está escrito num pano branco em todas (quase) janelas e varandas de uma praça aqui na zona onde moramos significa “suficiente ruído”. Tanto pode ser por causa de obras, como do barulho que fazem na praça.

Também fiquei a saber que aquele “sabes?” do momento poético que me parecia tão português, é “saps?”!!! É mesmo um língua diferente do castelhano. Lá tive uma mini-aula, e para verem: “Como te chamas?” em castelhano é “Cómo te llamas?” e em catalão fica “Com et dius?”. Completamente diferente, não? E a resposta: “me llamo...” (castelhano) e “em dic...”.

Acabamos a noite com todos a chamarem-me chauvinista, isto porque eu dizia que não gostava de aprender outras línguas e que era muito agarrada à língua portuguesa. É claro que depois expliquei melhor: é que gosto mesmo de escrever e falar em português, e sou, digamos que, picuinhas com a língua. Na escola lembro-me que não gostava muito de línguas, nunca conseguia pensar noutra língua, era como se não me conseguisse desligar do português. A inglês, por ex., quando escrevia uma composição, fazia sempre tradução directa e então quando queria dizer uma coisa tinha que ser exactamente aquilo. Se perguntava como se dizia certa expressão ou palavra, eu muitas vezes contrapunha “não, não é isso que quero dizer, é mais aquilo”. É esta dificuldade que tenho ao aprender línguas. É que é mesmo como se tivesse que esquecer tudo aquilo que aprendi em criança... Por isso é que quero que os meus filhos aprendam logo várias línguas desde pequenos.

Lá vim eu para casa contente, é que estava mesmo a precisar de estar com outras pessoas, de fazer amigos. E sinto que o J. vai ser o meu 1º amigo catalão!



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27 de Fevereiro - segunda-feira


Hoje fomos a outra biblioteca, à Joan Miró. Fica num jardim. Um jardim que ás 16h da tarde tem pessoas a passear os cães, velhinhos a jogar à malha, crianças a brincar, jovens a conversar... Já lá tínhamos ido uma vez na primeira semana e agora sabemos que fica relativamente perto de casa.

Parece estranho andarmos sempre em bibliotecas. Só que como ainda não temos actividades marcadas com a GATS, a Internet é um meio bastante útil para pesquisarmos informação sobre Barcelona. Eu por exemplo estou à procura de associações ambientais, ou outras associações e colectivos, mas que sejam parecidos com o GAIA, isto é, que tenham uma estrutura horizontal, e com as quais me posso vir a identificar e a querer participar nas reuniões, etc. Estou mesmo com saudades do activismo do Porto. Parece que aqui por haver tanta coisa é difícil achar o que quero!!

Além disso, estamos a escrever bastante, a registar tudo aquilo que observamos, fazemos e sentimos. A Marlene disse no outro dia uma coisa engraçada: que se sentia como uma jornalista ou repórter fotográfica. E é bem verdade, é que andamos sempre de máquina na mão (eu não ando muito, o que é estranho, já que adoro fotografar) e de bloco (isso ando, parece que ando trocada eheh). Mais: recolhemos panfletos em todo o lado, lemos jornais locais, analisamos montras, apontamos dizeres que estão afixados em varandas para depois perguntarmos o que significa, vamos aos mercados, participamos em actividades mesmo que sejam em catalão, vamos a pé para todo o lado (quase todo)... Tudo é motivo de observação, comentário, comparação, análise, registo.. Afinal, é também para isso que estamos cá!

As bibliotecas são espaços agradáveis para passar para o computador aquilo que registei, seja na memória ou no papel.

Mas como hoje já não tinha muito para registar e não conseguia conexão Internet para pesquisar, resolvi ir à procura de mais coisas para observar! Sabia que havia alguns centros cívicos perto portanto fui à procura.

Fui primeiro ao Centro Cívico Hostafrancs, onde o senhor que estava na secretaria parecia não perceber muito sobre o centro. Acho que tem um Casal de Gent Grand (centro de dia de idosos) devido à grande quantidade de idosos que se encontravam numa sala perto. Tem bastantes cursos mas a nova lista ainda não saiu. Da parte de fora do edifício que dava para um parque/jardim (embora não pertença ao centro) viam-se umas salas amplas e com grandes janelas (daquelas que vão desde o chão ao tecto). Uma das salas estava cheia de cavaletes, deve ser a sala das oficinas de pintura e desenho.

De seguida, sem saber, fui parar a um espaço que reconheci. É que uma vez passamos ao longe e perguntamo-nos sobre o que seria. Entrei para ver e é um “Ponto multimédia / Ponto Jovem”. Pelo que me apercebi é um espaço da câmara onde os jovens podem navegar na Internet, tirar fotocopias, realizar trabalhos multimédia, utilizar câmaras de video e material de gravação, etc., mediante uma taxa diária ou mensal. Organizam também oficinas e cursos na área da multimédia e tecnologias.

No caminho do outro Centro Cívico, passei por ruas cujos nomes não me eram estranhos e abri o meu bloco de apontamentos. Uma delas era uma rua onde se situava o Casal Independentista de Sants (que referi anteriormente) mas estava fechado. No entanto, “descobri” uma livraria muito fixe chamada “La cidade invisible” que tinha uma mesa cá fora na entrada com vários panfletos e uma plaquinha a dizer “gratuito”, assim como na parede um calendário semanal com várias actividades e eventos que pareciam assim mais fora do “politicamente correcto”. Escusado será dizer que recolhi alguns panfletos que pareciam interessantes, mas desta vez com atenção redobrada e selecção (primeiro porque não eram muitos, depois porque já estou farta de tanta papelada em casa, e comecei a pensar nos recursos que ando a “gastar”, de certa forma) e passei alguns eventos interessantes para o meu bloco. Ainda que já tivesse conhecimento da maior parte deles, valeu a pena pela novidade de mais um espaço social em Sants: Nou Espai Obert.

Por fim fui ao Centro Cívico Cotxeres de Sants onde fiquei a saber que não é especializado em alguma coisa e que nem sequer tem alguma daquelas valências típicas (lar de idosos... atl...) mas apenas cursos e oficias, e claro, infra-estruturas como auditório, salas de reuniões... Há cursos que até gostava de fazer, como um de danças africanas, só que nos centros cívicos os cursos e costumam ser sempre trimestrais. Ou seja, esta nova época vai começar em Abril e durará até à primeira semana de Junho. Por isso iria perder talvez uma ou duas aulas.

À noite vimos um filme do Almodóvar, e sem legendas, ou seja, foi sempre a ouvir castelhano e a tentar compreender. É uma forma de nos habituarmos à língua.



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26 de Fevereiro – domingo



Ontem a festa correu bem, ao contrário do que os rapazes esperavam, não apareceram mais de 100 pessoas, e talvez por isso o chão não acabou preto nem com pessoas de rastos!

Estavam pessoas de vários cantos do Mundo: Chile, Brasil, Israel, Rússia, Estados Unidos, França, Itália (que estava bem representada, pois quase metade eram italianos), Polónia, Holanda, e claro, Espanha e Portugal. A maior parte das pessoas ou estava cá em Erasmus ou então eram imigrantes. Foi mais com estes que falei, sobre Barcelona, porque tinham decidido vir para cá, diferenças, línguas...

Hoje para além das limpezas à casa, ainda fomos ao Terceiro Festival de Sopas Do Mundo Mundial (traduzindo exactamente o título em catalão). Tendo Barcelona muitos emigrantes de todo o Mundo, é o palco ideal para um festival como este. Festa que também acontece noutras cidades do Mundo, havendo já uma plataforma internacional de cidades organizadores de festivais de sopas do Mundo.

“É a similaridade entre a diversidade dos nossos bairros e a das sopas que deu origem ao festival de sopas do mundo. A sopa é como uma desculpa para o convívio e como uma símbolo: todas as sopas têm na sua essência o mesmo apesar de únicas, todas diferentes apesar de semelhantes, como as pessoas”[1]

Penso que é mesmo uma boa ideia isto das sopas do Mundo. Acho que tem potencialidade para mobilizar os imigrantes. Em Portugal, lembro-me de algumas (poucas) associações (como o GAIA, a SOS Racismo, o Musas, o 555, e principalmente a Assembleia Libertária do Porto da qual fazem parte várias pessoas a titulo individual ou como representantes destes diversos grupos) terem-se juntado para organizar uma Festa Sem Fronteiras cuja um dos objectivos era juntar associações de imigrantes e de luta contra o racismo para organizarem actividades futuras conjuntas. No entanto, o esforço feito (contactos, telefonemas..) não teve grandes consequências já que na festa não apareceu nenhuma das associações de imigrantes contactadas (e só uma ou duas apareceram nas reuniões de organização) e tão pouco imigrantes apareceram. Falta algo que una as pessoas, algo mais palpável. Por mais estranho que possa parecer assim de repente, a sopa acho que é uma dessas coisas! Vou propor isso lá no Porto para a próxima Festa Sem Fronteiras!!

Quanto à festa de cá, eu cá acho é que o convívio foi muito pouco já que começou ás 13h30 e às 14h30 já estava tudo a arrumar e a ir embora!! E como só chegamos às 14h20, as sopas já tinham acabado. Mas havia o prazer de ouvir boa música dada por um grupo que actuava num palco no centro do pavilhão. E um pormenor interessante: a organização tinha um plano B! Estava a chover, portanto o evento em vez de decorrer numa praça decorria num pavilhão. E para demonstrar a boa organização, na praça, estavam afixadas folhas a dizer que o local se alterou devido à chuva (e era mesmo lá perto) e depois também reparei que no panfleto de divulgação também estava indicada a possibilidade de alteração do local se mau tempo.

E valeu, mais uma vez, pela observação: as mesas estavam em forma de quadrado gigante, as pessoas circulavam com a tijelinha e eram servidas com a sopa que quisessem. Tinham várias à escolha: sopas regionais de Espanha (o gaspacho da Galiza, por ex.), sopas indianas, africanas e mesmo sopas “inventadas” como “Sopa de fígado de porco capitalista” ou “Sopa rap”. Todas elas eram servidas pelo próprio grupo que a confeccionou. Nós chegamos a pensar em participar com um caldo verde e escrevemos para a organização, mas já não íamos a tempo. No entanto, era só preciso enviar a receita (provavelmente para eles fazerem um dossier com todas as receitas) e depois levar a sopa já feita na quantidade que quiséssemos que eles lá aqueciam. E claro, estarmos lá, servirmos a sopa e aproveitar o facto (imagino eu) da sopa ser um motivo de inicio de conversa com várias pessoas de vários cantos do Mundo.

E ainda falei com um rapaz da Can Masdeu (a tal okupa na montanha - www.canmasdeu.net) por causa de um panfleto que estavam a distribuir sobre um grande evento em Abril, de forma a tentar saber qual o melhor dia para os visitar o quanto antes. A resposta foi que além de uma actividade em concreto (cuja programação de Março vão já colocar na Internet), a altura melhor é ao Domingo pois é um dia aberto ao público onde fazem visita guiada pela casa e área. Antes desta rápida conversa, falamos com um senhor para nos ajudar a perceber o tal panfleto e dessa forma esclareci uma curiosidade anterior: “calçotada” é o nome de um prato típico da Catalunha que são apenas cebolas assadas (percebi eu) com salsa (posso comer!!!).

Depois desta “saída” e tanta limpeza, não houve tempo foi para ir à inauguração do “Ateneu Llibertari de Sants”.

A nossa rua: Vallespir

Para já, gosto do nome, um misto de suave (valle) com forte (spir).

Saí à rua para comprar pão e aproveitei para conhecer a rua de uma ponta à outra (ainda que superficialmente). Claro que pão, não havia. Barcelona realmente tem muitos estabelecimentos abertos depois das 19h (lembro-me agora de uma francesa ontem na festa responder-me que gosta mais de aqui estar porque na cidade de onde era, ao final da tarde já estava tudo fechado e não havia nada para fazer...) mas a um domingo às 21h30 não se espera que alguém vá comprar pão!!

Quanto à rua, tem de tudo: padarias, frutarias, mercearias, lojas de alimentação indianas (não quer dizer que vendam produtos indianos, mas são pequenas lojas estilo mercearia com disposição de mini-mercado que há muito por cá, normalmente de indianos), restaurantes, cafés, sapatarias, lojas de roupa, lojas chinesas, esteticistas, cabeleireiros, retrosarias, papelarias, drogarias, lojas de móveis e decoração, imobiliárias, clínicas médicas e dentárias, lojas de viagens, bastantes “lucotórios/Internet” (imagino que sejam locais para telefonemas para o estrangeiro e para usar a Internet), uma casa de envio de dinheiro (estes dois últimos pontos mostram-nos mais uma vez que Barcelona tem bastantes imigrantes), uma clínica veterinária, uma farmácia, cinema no fim da rua, uma sala de ensaios, infantário, escola secundária, escola primária, uma escola de línguas, uma empresa de trabalho temporário, uma curiosa Fundação Privada para a Promoção da Auto-Ocupação da Catalunha (não faço ideia que seja isto, ainda para mais com um aspecto estilo clínica médica), no fim da rua um jardim público com palmeiras e outras árvores mesmo ao lado, e até uma casa okupada (e mesmo ao lado da nossa casa!). E não é uma rua grande, só tem um sentido e são cerca de 200 números de porta.

A nossa casa fica mais no inicio da rua, perto da estação principal de comboios de Barcelona (Sants) e na freguesia com o mesmo nome. A meio da rua, temos a Plaza del Centre (com estação de metro), que faz cruzamento com uma grande avenida (Avenida Madrid), está em obras, e talvez por esses dois motivos não a ache muito bonita. Muito perto, na rua ao lado e também na zona mais baixa, há uma biblioteca e uma praça bonita: Plaza de Sants (também com metro).

Nunca antes tinha morado assim numa rua e numa zona com estas características. Pequena e com tudo!


[1] Traduzido do panfleto de divulgação do evento.



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quinta-feira, março 09, 2006

24 de Fevereiro – sexta-feira


Ontem aproveitamos uma das muitas ofertas culturais de Barcelona, pois esta era gratuita, e fomos ver um filme à “La Pedrera”, uma das famosas casas do Gaudi, no Passeio da Grácia (onde se encontram muitas casas famosas e bonitas, do movimento Arte Nova, que diga-se de passagem, é dos meus movimentos artísticos favoritos). O filme, “Persona”, como é sueco e estava legendado em catalão, não percebemos muito bem. Além do mais, os filmes de Ingmar Bergman não são particularmente fáceis de “digerir”. Mas valeu a pena por ser mais uma espécie de trabalho de observação: a sala estava cheia, com muita gente jovem e muitos falavam catalão entre eles.

De seguida, tinha marcado encontro com um rapaz catalão do Hospitality Club, aparece-nos ele de bicicleta e de fatinho! Um advogado bastante simpático e com uma cara que me era muito familiar! Mostrou-nos dois espaços culturais que estavam fechados, um deles a Casa da Ásia que por sinal era muito bonita, e ficamos de combinar outra saída.

Hoje fomos à biblioteca pesquisar associações em Barcelona e recebemos um e-mail da GATS, dizendo que sem falta nos telefona no inicio da semana para reunirmos com eles. De resto, o dia foi passado em casa, a actualizar o Diário de Bordo e outras coisas relacionadas com o estágio como um “trabalho” que o Carlos da nossa turma nos pediu para uma exposição na ESEC.



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23 de Fevereiro – quinta-feira


Ontem à noite, estava eu a escrever no Diário de Bordo, já devia passar da meia noite e diz-me a Marlene que estava na sala a conviver com os nosso colegas de casa e 2 amigas holandesas que estavam cá de visita: “olha eles vão a uma festa de anos do amigo do C. (o italiano) e tão a perguntar se também queremos ir. Eu vou!”. Lá pensei “já cá faltavam as típicas festas!”.

É que quando estava em Erasmus, festas e convívios em casas uns dos outros era algo comum. Algumas não gostava nada porque era o mesmo de sempre: comida e bebida. Outras eram bem mais interessantes e sentia mesmo todas as vantagens de estar noutro país e rodeada de pessoas de diferentes países. Era quando conhecia pessoas com as quais gostava de conversar e ia-se para além daquelas conversas banais. Foram poucas, mas boas! E é pena, porque isto de muitas nacionalidades num espaço tem mesmo muito potencial e podia ser muito mais rentabilizado. Ainda assim, lembro-me das festas gastronómicas (com pratos típicos de cada país cozinhados pelos próprios), das festas temáticas (festa italiana, festa espanhola).. Lá em casa onde morava (espécie de residência estudante) lembro-me de ter sugerido uma noite temática por semana, então, cada país (os seus representantes disponíveis no momento) faziam um jantar típico para todas da casa e o que mais quisessem. Lembro-me da noite escocesa em que as raparigas decoraram a sala com informação sobre a Escócia, canções e fotografias e no final estivemos a dançar danças tradicionais escocesas!

Em relação à festa, era apenas uma festa de anos. E até senti que estava ali a mais porque nem sequer conhecia o aniversariante. Mas claro que depois apercebi-me que é tudo numa boa, o pessoal está lá é para divertir-se e quem bem por bem (o mesmo que dizer amigos de amigos) é bem-vindo!

E eram só italianos! É incrível como eles se juntam!!! Lá na Finlândia os italianos também andavam sempre em grupo. Eles e os espanhóis eram as nacionalidades que mais se juntavam. Isto falando da população estudantil. Como era um pequeno, era fácil as pessoas conhecerem-se e fazerem aquelas redes em cadeia, mas acho que eles esforçavam-se para não desfazer a cadeia. Os portugueses não achava que eram assim, uma vez fiz um jantar português lá em casa em que apareceram bastantes (mesmo sem nos conhecermos) mas não continuamos a andar sempre em grupo. Assim como franceses, alemães, também não se “agarravam” tanto. Agora os italianos e espanhóis.....Parece que têm medo de misturas! Não sei se era por serem muitos e talvez os outros “países” não tivessem tanta oportunidade de se “encontrarem” e formarem grupos.. Mas agora aqui acontece o mesmo!

Faz-me confusão! É que parece que estão noutro país, mas ao mesmo tempo continuando no país dele. Não sei se é dificuldade em adaptação, dificuldades com a língua (acho mesmo que não porque muitos sabiam falar castelhano, neste caso), saudades de casa (por serem, embora tal como os portugueses e países do sul, mais “ligados” à família).... É que cá eu quero é conhecer espanhóis e catalãos, embora dê imenso valor aos portugueses que conheço cá, que me apoiam e com quem por vezes é tão bom falar e sentir aquela sensação de “sentir em casa”. Mas se estou noutro país, há que rentabilizar essa oportunidade ao máximo, fazer dele a minha casa por uns momentos e isso implica conhecer os meus companheiros de casa que cá habitam há mais tempo que eu e dela sabem mais!

Ainda sobre o dia de ontem, para acabar a noite em grande, eu e a Marlene ficamos cerca de meia hora a dormir nas escadas do prédio onde moramos porque viemos mais cedo da festa e reparamos só à chegada que nos esquecemos da chaves e tivemos que esperar que eles chegassem.

Hoje fui à Biblioteca e finalmente consegui ter Internet sem fios e enviar o meu trabalho. Um funcionário simpático da biblioteca ajudou-me!

Como já devem ter reparado, já estivemos em muitas bibliotecas aqui em Barcelona, e é bom de ver tanta gente nelas!! São espaços, de facto, activos! Ao fim da tarde as pessoas que por lá andam são imensas, até é difícil encontrar um lugar! Ora os computadores com Internet estão todos ocupados, ora as mesas de leitura/estudo estão sobrelotadas. E são jovens, crianças, idosos....

Estive a ler panfletos que recolhi nas e sobre as bibliotecas aqui de Barcelona e acabei de confirmar aqui as Bibliotecas são fantásticas!!! Existem 29 Bibliotecas em Barcelona, isto só na cidade de Barcelona, não estou a falar do que nós portugueses chamamos distrito, mas sim do concelho. Pois se contasse com as do distrito, seriam muitas mais. (ver panfleto MAPA BIBLIOTEQUES BCN)

Sendo assim, por cada “freguesia” (que eles aqui chamam distrito) existem cerca de 2, 3 bibliotecas, sendo uma delas maior e mais completa. Algumas das bibliotecas estão no mesmo edifício que centros cívicos. Mas o engraçado é perceber que cada biblioteca parece estar está de acordo com as necessidades e potencialidades locais. Ora vejamos: a Biblioteca Nou Barris, que parece ser a mais completa da freguesia com o mesmo nome, está especializada em circo e artes teatrais. Na freguesia de Nou Barris existe um Ateneu Popular, que já visitamos, especializado em artes circenses e uma Escola de Circo (associada ao Ateneu). Parece então que a freguesia tem uma certa “história” relacionada com o circo e a Biblioteca vai aproveita essa potencialidade e oferece recursos sobre o tema. Outro exemplo pode ser também o da Biblioteca de Barceloneta que tem uma secção de Literatura Infantil sobre o Mar, exactamente por Barceloneta ser uma zona junto ao mar, que comporta um bairro típico de pescadores.

Outro aspecto bastante positivo das bibliotecas é que muitas delas têm uma sala de estudo e/ou sala de trabalho que funcionam das 21h à 1h! Bastante positivo é também o facto do serviço de empréstimo permitir requisitar vário material e durante bastante tempo (comparando com bibliotecas portuguesas). As bibliotecas de Barcelona permitem o utilizador ter ao mesmo tempo 20 documentos, que podem ser 6 livros durante 21 dias, 4 revistas, 4 cd’s, 4 vídeos ou dvd’s, 2 cd-rom durante 7 dias.

Talvez melhor que tudo isto, é o facto das bibliotecas realizarem um série de actividades, como por exemplo umas jornadas sobre a guerra de 1936/1939 intitulada “Barcelona 1936/1939 – Viver e sobreviver no marco de uma guerra” (ver panfleto). Com o objectivo de contribuir para a recuperação da memória histórica desde o quotidiano das pessoas, através de uma visão do conflito com a presença de testemunhos reais apresentados em formas diferentes: a literatura, o documental, o cómico, a história e um itinerário pela cidade; as Bibliotecas organizam, com a colaboração do Museu da História da Cidade, entre outras, uma palestra sobre “A educação na guerra – os mestres republicanos e os seus métodos educativos, a difícil escolarização em pleno conflito bélico”, uma sessão sobre “O povo em armas – a resposta popular e a construção de um mundo novo condicionado pela guerra” com uma projecção de um filme e uma conversa com testemunhos reais sob o titulo “Mulheres aprisionadas – a dura realidade das mulheres antifranquistas”.

A rede de Bibliotecas editou também vários panfletos interessantes, como por exemplo um panfleto intitulado “O cantinho dos pais e das mães – perguntas pequenas, grandes respostas” (ver panfleto), apresentando um espaço que existe na sala infantil das bibliotecas que é uma espaço de consulta para os pais com filhos até 13 anos. O espaço dispõe de livros, vídeos, jogos sobre o crescimento dos filhos, as necessidades educativas especiais, entre outros temas relacionados assim como serviços e projectos em execução á volta de temas como a importância de ler em voz alta e o fomento da leitura.

Ainda sobre panfletos conjuntos de todas as bibliotecas, além de uma agenda trimestral que é um guia de todas as actividades das bibliotecas, têm panfletos de divulgação de actividades por temas, como por exemplo, debates e conferências, não só relacionados com Leitura e outros temas que tendemos a associar a bibliotecas, mas de outros âmbitos, como uma conferência intitulada “Os jovens e a sexualidade”. (ver panfleto T’!NTERESSA). Cada Biblioteca, tem ainda, um panfleto próprio com as actividades a decorrer no seu espaço (ver panfleto “Biblioteca Les Corts – MIGUEL LLONQUERAS).



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22 de Fevereiro – quarta-feira


Fomos ao Centro Cultural Riera Blanca (na freguesia ao lado da nossa), que comporta no mesmo edifício um centro cívico e uma biblioteca.

Foi pena o Centro Cívico estar fechado (só abria às 16h) mas acabou por ser um dia produtivo na Internet de outra biblioteca que ainda não conhecíamos.

Comecei logo por pesquisar pela expressão “Can Punxes” (que está escrita numa bandeira na varanda dos nossos vizinhos) e as minhas expectativas confirmaram-se: é uma casa okupada. Segundo o que consegui retirar de uma notícia em catalão, a casa foi okupada por jovens este ano, e embora o proprietário queira despejá-los, os vizinhos estão com eles! E os jovens estão a reabilitar a casa, e pretendem em breve organizar lá actividades.

Sem querer, mas ainda bem, fui parar a uma página sobre a freguesia de Sants (onde moramos) - www.barrisants.org. Acho que é uma página mantida por um colectivo chamado “La Bruxa” que também edita um seminário sobre o bairro e o seu movimento associativo.

Através dessa página fiquei a saber que aqui na zona existe o Casal Independentista de Sants, que segundo uma notícia é um dos espaços mais emblemáticos dos movimentos sociais e do tecido associativo de Sants. Dia 5 de Março é a “Tradicional Calçotada del Casal”, que apenas percebi ser algum evento com produtos da terra a preços populares. Como é perto, devo ir de certeza para ver de que se trata. Há também o “Ateneu Llibertari de Sants” cuja inauguração será dia 26 com apresentação do projecto, xocolatada e recital de poesia.

Em Sants, existe também algo chamado “Can Vies”, que também não percebi exactamente o que é (tenho mesmo que saber o que significa “can”), na/o qual vai haver uma noite feministas de teatro e música dia 4 de Março. É também a sede de pelo menos dois colectivos:

- Colectivus Negres Tempestes”, que curiosamente tinha na página web opção em português para selecção da língua;

- Txinorris – colectivo barcelonés en defensa de nin@s y adolescentes” (www.barrisants.org/txinorris) que reúnem nas 3 primeiras terças de cada mês a partir das 20h;

Sants também tem um Centro Social, do qual faz parte o “colectiu de Migracions de l’assemblea de Barri de Sants”. Quem me dera que todas as freguesias em Portugal tivessem um panorama associativo como este!

Já fora de preocupações geográficas, noutras pesquisas, estive a ver um site de contra-publicidade e anti-consumismo (www.consumehastamorrir.com) e descobri que devem ser de Barcelona pois têm uma exposição aqui num Bar algures. Fui parar também ao site do “El Brot” – associação cultural com diferentes projectos auto-gestionados como bar vegetariano, uma distribuidora de livros, música e biblioteca de movimentos sociais. Gostava de dar lá um saltinho.

Estive também na página da associação ambientalista Ecologistas Em Acção (www.ecologistasenaccion.org/) para tentar saber quando se reúnem e qual a sua sede, para ver se apareço numa das reuniões e começo a colaborar com eles. Curiosamente, a sede é no Centro Cívico Can Rosés (onde já estivemos mas estava fechado).

Enviei também e-mail para massa critica de Barcelona a perguntar quando era a próxima, como posso falar com algum dos participantes e onde se compram bicicletas em 2ª mão.

Começo mesmo a sentir saudades do GAIA e todo o envolvente, das idas às reuniões, dos panfletos feitos à pressa...

Vi também um site que estava num autocolante que trouxe de um centro cívico. É sobre as Mulheres e os Média (www.observatoridelesdones.org), bastante interessante, é um projecto de denúncia de anúncios publicitários sexistas, machistas ou que de forma alguma reflictam violência contra mulheres.

Como num dos panfletos do Ateneu Libertário Nou Barris falava de um concerto solidário para “Setmanaridirecta” (www.setmanaridirecta.info) tentei saber do que se tratava. É um semanário com informação sobre os movimentos sociais de Espanha e de fora. Por falar em seminários é incrível a quantidade de jornais gratuitos que por cá andam. Cada freguesia tem o seu jornal!

Um pequeno aparte: hoje eu e a Marlene resolvemos experimentar fazer fideos, que é uma massa muito fininha e partida aos bocadinhos que os espanhóis usam muito (conhecia-a com amigos de Madrid que conheci na Finlândia) e que fazem um prato assim bastante “cheio” com carnes. Nós fizemos com grão de bico, e ficou muito bom!



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21 de Fevereiro – terça-feira


Finalmente mudamos de casa, ou melhor dizendo, temos uma casa pela primeira vez!

Foi boa a sensação de arrumar o quarto, limpar, desfazer malas, decorar... Então sim, agora parece que tudo vai começar! Nunca pensei que me chegasse a incomodar o facto de não ter casa, de viver assim saltando de casa em casa (como quando fiz um inter-rail, por ex.), só que como estou aqui não com o objectivo de viajar, mas sim algo mais “sério”, digamos, que implica mais responsabilidades, a falta de um espaço próprio, algo estável e seguro, estava-me a fazer confusão.

Pior sensação, é a que sinto agora nos meus braços, cujos músculos estão todos doridos de ter transportado as malas até casa.

Ainda tivemos tempo para irmos à biblioteca mas não conseguimos ter wireless, então mais uma vez não consegui enviar o meu projecto de estágio aos professores.

Algo curioso é que numa das folhas de rascunho da biblioteca, reparei no que lá dizia: www.eduso.net - el portal de la educación social – tenho que dar uma vista de olhos!

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20 de Fevereiro – segunda-feira


Saímos em direcção à freguesia da Horta, a 30 minutos de metro do centro de Barcelona, mas acabamos por ir parar à freguesia de Nous Barris. Sabíamos que pelo menos na área, encontraríamos um Centro Cívico e um Ateneu Popular. O Centro Civico Can Basté estava fechado! Vamos lá ver se aprendemos de uma vez por todas que em Espanha muitos estabelecimentos fazem uma pausa das 12h às 16h! Fomos a uma pastelaria comprar pão e como as senhoras eram extremamente simpáticas aproveitamos para perguntar como se ia para o Ateneu Popular. No entanto, fomos foi parar a uma biblioteca.

Na zona de entrada da biblioteca, estivemos a paramos a ver panfletos e informação, da qual fui retirando vários endereços de centros cívicos e outras instituições na zona: Casal de Barri Prosperitat, Casal Jove Prosperitat, Casal Jove les Roquetes, Centre Civic Zona Nort, Centre de Recursos Pedagógicos, Centre Civic Torre Llobeta, Centre Civic Les Bosses e Centre Porta-Sóller.

Aproveitei para visitar o site do ateneu popular 9 barris www.noubarris.net/ateneu e entusiasmou-me, é que faz parte de uma rede chamada “Independent Culture Centres (www.teh.net) o que me leva a imaginar que deve ser um pouco diferente dos outros centros que temos visto até agora, pelo menos a nível de gestão, e assim aprender algo novo.

Com toda a informação recolhida e com o mapa na mão, fizemos uma espécie de percurso mental do que iríamos visitar.

Sempre a pé, lá encontramos o Casal de Barri Prosperitat (www.noubarris.net/cbarri). Ficava na praça Angel Pestana, onde suportes de jogos desenhados no chão (como um tabuleiro de damas/xadrez) e um moral onde se lia “Jocs na Praça” nos afirmavam que ali se jogavam diversos jogos. O Casal tinha um ar amigável devido talvez ao grafiti que ocupava uma das paredes exteriores e das grandes janelas que deixavam ver tudo para dentro. Pelo que percebemos, numa conversa rápida com uma das pessoas que se encontrava numa sala mais de trabalho (dado que a outra que vimos era um grande espaço com bar, estilo sala de convívio), o Casal é uma espécie de centro social do bairro, gerido pela própria associação de vizinhos/moradores, num espaço cedido pela câmara. Deram-nos um calendário muito fixe, com o mapa da freguesia na parte superior e com todos os meses preenchidos com várias actividades organizadas por diversas instituições da freguesia. Como os só um centro físico fazia parte do calendário, perguntei porque é que os outros não faziam e qual era a diferença entre os centros cívicos e aquele casal. O senhor explicou-nos que Nou Barris têm uma forte participação cidadã e que as pessoas gostam elas mesmas de organizar as coisas de forma independente e sem estarem conectados com a câmara. Os centros cívicos estão fortemente dependentes da câmara. E a associação que elaborou o calendário (Coordenadora Cultural de 9 Barris) lá achou que só queria colocar aquelas actividades organizadas mesmo pelas pessoas da comunidade e não por funcionários da câmara. Pelo menos, foi assim que interpretei.

Mais uma olhadela no placar com informação e tivemos conhecimento de um Festival Sopas do Mundo que se vai realizar no dia a seguir ao Carnaval lá na praça, com mais de 60 sopas de culturas diferentes; e de umas jornadas contra a guerra, a 25 de Fevereiro. À das sopas vamos de certeza! Eu cá também fiquei interessada nas jornadas, só que como devem ser em catalão, não vou perceber nada, portanto acho que me vou ficar pela manifestação contra a guerra dia 18.

O espaço que se seguia era o Casal de Jovens do Barri Prosperitat, mas encontrava-se fechado. Seguimos então para o Centro Cívico Via Falencia onde fomos muito bem recebidas por uma senhora que coordena um serviço de alguns centros que é uma espécie de ponto de apoio à Mulher. Para além desse serviço, neste centro podemos encontrar um Casal de Gent Grand (Centro de Dia para idosos) e uma vasta oferta formativa. Foi engraçado ver tanta gente idosa animada a conversar.

Por último visitamos o tão ansiado Ateneu Popular 9 barris (www.noubarris.net/ateneu). Foi difícil lá chegar e pelo caminho vimos pela 1ª vez Barcelona de um ponto bastante alto. A imagem: uma cidade grande, com algumas torres e um pouco cinzenta, com poucos espaços verde, onde o único que se destacava era o de Montjuic (a pequena montanha que foi palco da exposição universal de 1929 e dos jogos Olímpicos de 1992).

Avistamos uma tenda de circo e pensamos que deveria ser a Escola de Circo que faz parte do Ateneu. Descemos e confirmarmos. Mesmo ao lado estava o Ateneu, numa antiga fábrica de asfalto que em 1977 foi reconvertida através da luta dos moradores do bairro num centro cultural e social. Num dos armazéns havia um bar, uma sala ampla, um pequeno palco para actuações e uma exposição sobre a Mulher e a Prostituição intitulada “Trabalhador/a do sexo, e porque não?”, cuja associação organizadora (L.I.C.I.T. - “línia d’Investigació i cooperação com inmigrants treballladores del sexe) reivindica soluções pela parte dos políticos para esse grupo em vez de “marginalizações” e que os direitos humanos, laborais e civis das pessoas que trabalham no sector do sexo sejam reconhecidos. As fotos da exposição eram acompanhadas de uma pequena história de vida das mulheres, e lê-las lembrou-me como as pessoas, no geral, põe tudo no mesmo saco; lê-las relembrou-me que cada um de nós têm uma história para contar, um pensar que nem sempre é expressado, ou mesmo uma coisa tão simples como gostos diferentes, ou melhor, opinião própria; relembrou-me que vivemos em liberdade de expressão e de opinião, mas que se pensarmos bem, também conseguiríamos justificar que não o vivemos.

Mal entramos na zona do bar, fomos encontrar a tal senhora da Associação de Mulheres Vitimas de Violência que conhecemos no Centro Cívico Via Falência, que fomos encontrar ali sem contar! Estava numa espécie de reunião com outras mulheres, reconheceu-nos logo e até nos deu um panfleto que deveria ter acabado de “sair” daquela reunião, sobre umas jornadas sobre mulheres em 9 Barris a acontecer em Março.

O outro armazém tinha várias salas e no inicio uma secretaria onde perguntei algumas coisas sobre o Ateneu. Ficamos a saber que é gestionado por uma associação sem fins lucrativos (a “Associació Bidó de Nou Barris), e que a câmara apenas cedeu o espaço, e embora financiando-o, não tem peso nenhum no planeamento de actividades e gestão do centro. No panfleto de apresentação do Ateneu podemos ler que “o sistema de tomada de decisões é baseado num mecanismo aberto e participativo em que as diversas comissões de trabalho (comissão da participação, da programação, da “revista i junta directiva”) funcionam a partir de ideais de independência, responsabilidade, eficácia e transparência.” Tal como outros espaços, aqui também vários grupos e associações têm sede e organizam actividades, além de estar aberto a outras propostas e projectos. Assim, o Ateneu tem uma série de espaços disponíveis para emprestar ou alugar, como um Teatro/Sala polivalente com capacidade para 320 pessoas; espaço com bar e pequeno palco com espaço para 150 pessoas; 3 salas de reunião; uma oficina; um ginásio; um armazém de material e uma sala de ensaio para músicos.

Quanto à intervenção comunitária do Ateneu, segundo o panfleto, vemos que se regem por 3 eixos básicos: a participação cidadã e o voluntariado; incentivo, apoio e valorização de iniciativas surgidas dos grupos e movimentos associativos; dinamizar um espaço de debates, encontros e conferências à volta de novas propostas políticas e sociais.

Gostei bastante deste espaço, não só por me fazer lembrar do GAIA quanto à sua forma de organização e gestão, mas especialmente porque acho que deve fazer um “trabalho social” mais “cara à cara” e de construção de alternativas.

Como comentei com a Marlene, acho que este espaço social é um bom local para se fazer um estágio de animação, por tudo o que disse, pelo carácter construtivo e diverso das actividades que realizam e principalmente, porque seria um local “cívico” mas com uma organização e gestão diferente de outros que conhecemos (que a ESEC, neste caso) melhor como os Centros Cívicos.

Além do mais, é uma freguesia com bastantes equipamentos culturais e sociais. Para além destes que vimos ainda há o Casal Jove Prosperitat, Casal Jove les Roquetes e cerca de mais 4 centros cívicos nesta freguesia.

De noite dormimos na casa da Anna G., que foi nossa professora em Coimbra no 1º ano, mas é cá de Barcelona. Gostei muito de a rever! Está a trabalhar agora com uma Fundação que “ganhou” a coordenação dos “Casais de Gent Grand” (espécie de lares de idosos) da Câmara. E diz estar a gostar, dado que como faz parte da equipa de coordenação, anda sempre de centro cívico em centro cívico, nunca está num só local.

Ela e o seu companheiro não nos podiam ter recebido melhor! Obrigada!

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19 de Fevereiro - Domingo


Ontem à noite lá as convenci a irmos até a um bar com um rapaz do Hospitality Club que antes tinha contacto por causa de alojamento (uma das poucas pessoas que contactado e que respondeu, ainda que negativamente). O rapaz era um bocado chato, mas ainda deu para trocar umas impressões com ele (cuja mãe era colombiana, embora ele fosse catalão) e com os seus amigos colombianos imigrantes em Barcelona, sobre estes dois países.

Hoje acordei primeiro que todas (talvez porque primeiro vim embora no “1º grupo” e depois porque não estava de ressaca) e fui sozinha dar uma volta a pé, pela Cidade Velha e por Barceloneta. Na primeira zona “descobri” uma praça que ainda não conhecia e que passa a estar agora na minha lista de preferidas: a praça das Olivés, com uma árvore em tons de dourado, que protege uma esplanada pequenina e dá sombra a dois prédios de cores quentes.

Sobre Barceloneta, gostei desta área junto ao mar, um bairro típico de pescadores. Mas em vez de casas (confesso que imaginava assim) eram pequenos prédios todos juntos e alinhados numas quantas diagonais. Dá-me um prazer imenso seguir as ruas com o mapa, identificar edifícios, perceber que estou na rua errada e voltar atrás... Parece um filme de suspense, sei que ao virar daquela esquina vou encontrar tal praça, os olhares dividem-se entre o mapa e a rua, entre o chão e os telhados, entre as cores e os sons...

Depois das ruinhas do bairro, cheguei à zona das praias e também me admirei! Estavam cheias, não de pessoas a tomar banho, mas de pessoas sentadas na areia a ler, de grupos a conversar, outros a jogar à bola.... A marginal então, essa é que estava concorrida: uns patinavam, outros andavam de bicicleta, os mais novos de trotinete, os turistas tiravam fotografias, alguns imigrantes alugavam bicicletas... As marginais são sempre concorridas, a ligação que as pessoas têm ao mar é bonita de se ver, nem que seja uma ligação só de gostar de tê-lo por perto!

E hoje estava um sol tão bom!!! No entanto depois quando saímos todas juntas para um voltita “turística por volta das 18h estava mesmo frio, fiquei logo constipada. Estou a ver que o Tempo de Barcelona também não dá para mim. De manhã e de tarde está sempre sol e bom tempo, mas ao fim da tarde fica logo muito frio, daquele frio que dá vontade de usar luvas!



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18 de Fevereiro - Sábado


Faz hoje uma semana que chegamos a Barcelona. E acho que foi uma semana bem aproveitada: encontramos casa, conhecemos vários Centros Cívicos, trocamos impressões com catalãos, e sinto que já “domino” um pouco mais da língua castelhana. Além do mais, tive a oportunidade de ir fazendo uma coisa que adoro: o denominado Turismo. Adoro andar com o mapa na mão, seguir ruas, visitar praças (adoro praças!), pontos ditos de interesse... Mas gosto sobretudo do jogo da orientação, de me enganar, de voltar para trás, de descobrir, de traçar caminhos, de marcar pontos, do adivinhar, da sensação de orientação.....É como “conhecer os cantos à casa”, é importante. Sinto que já me oriento um bocadinho melhor!

Ontem à noite fomos sair, claro. Como elas moram mesmo na parte antiga da cidade, e é aí que se concentra o turismo todo, logo, a maior oferta a nível de bares, foi só dar uns passos e estávamos num barzinho. Que não podia deixar de ser, tinha fila para entrar. À nossa frente, meteu conversa connosco um espanhol, e nós lá tentávamos comunicar numa mistura de castelhano com português. Entretanto atrás de nós, por sorte ou azar, estava um grande grupo de portugueses que repararam no nosso “esforço”. Lá começou a conversa típica “de onde são?”, “que estão cá a fazer?”, “ah! Vocês estão em Erasmus”, “mas vamos embora daqui a uma semana”, “nós acabamos de chegar, vamos daqui a 3 meses”, “Barcelona é altamente”... Entramos com eles, mas “fugimos” logo porque queríamos era conhecer malta espanhola. Conhecemos, claro, e digamos que têm uma abordagem um bocado para o estranha (se não, original). Não é que de repente vem um rapaz ter comigo com um telemóvel a dizer que me estavam a ligar!!! Ora eu não conhecia o rapaz de lado nenhum, não fazia qualquer sentido. Só lhe respondi “impossível” e bazei, claro, que eu nestas coisas não sou lá muito simpática. Mais tarde veio outro rapaz com a mesma história (amigo do outro, por sinal) e elas entusiasmaram-se e bla bla bla bla bla e acabamos por ficar na conversa com eles: 1 catalão, um argentino, um uruguaio, e depois chegaram mais uma italiana e outro catalão. Só gostei de falar com um deles, um dos catalãos, que parecia não ser daqueles com “2ªs intenções”. A sério que me irrita esta coisa da noite às vezes!

Acabamos por ir parar à mesma discoteca que na primeira noite e voltamos a não pagar porque eles conheciam os donos ou assim. E o resto da noite foi como a outra, ainda por cima a mesma discoteca, logo, o mesmo tipo de música (que até nem é má!). O mesmo tipo de reflexões me vêm à cabeça. Não vale a pena repetir, sob o risco de ficar deprimida!

Mas para não acabar em tom pessimista, eis uma situação curiosa. A Marlene começa (sabe-se lá como) à conversa com dois catalãos que eram fãs de Portugal! Sabiam imenso sobre Portugal, sobre a História, Literatura... Incrível!! Um deles vai passar férias a Portugal todos os anos, adora o Alentejo. Lembro-me de lhe ter dito que se não tivesse naquele momento cá em Barcelona estaria no Alentejo; ao que ele pergunta onde exactamente; ora eu não esperava é que ele conhecesse Colos e outras muitas pequenas aldeias alentejanas!!! Quando lhes perguntei de onde eram exactamente um responde “catalão, de Barcelona” e o outro “espanhol, de Barcelona”; eu contexto em tom de brincadeira “ai são os 2 de Barcelona mas um é da Catalunha e outro é de Espanha!” ao qual o “de Espanha” (que era o que adorava o Alentejo) responde: “eu sou é da Península Ibérica”!. É engraçado quando encontramos pessoas que gostam do nosso país. Apenas porque é um pais pequenino, assim num dos fins da Europa... Ainda para mais tenho aquela ideia ou preconceito que os espanhóis no geral não têm assim grande interesse por Portugal! Então é sempre bom encontrar excepções à regra, ou que sirvam para talvez um dia (quiçá) destruir essa regra!

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