UtupiAR: é urgente!

segunda-feira, maio 08, 2006

31 de Março - sexta-feira


Tal como combinado, hoje fomos de novo ao Kl@b, espaço de jovens que a GATS gere em Canovelles, para falarmos sobre a nossa proposta. Apesar de terem gostado, acharam que a parte da dinamização do exercício sobre as virtudes não é possível com este grupo de jovens em especifico, que não vão participar. Já o quebra-gelo inicial também será difícil mas podemos tentar, que já que somos novas no espaço, eles podem colaborar mais. O trabalho manual é o que terá mais sucesso pois até estão a fazer coisas eles próprios para venderem na Festa de Sant Jordi para angariaram fundos para as colónias de férias, o que pode ser uma boa motivação para participarem.

Combinamos os dias em que podemos ir e pensamos logo em vários trabalhos manuais para os outros dias. Primeiro vamos ensinar a fazer as carteiras em tetra-pack, depois as flores e outras coisas com lã. Tanta uma actividade como outra podem-se prolongar para mais de um dia, conforme os jovens a acabem no próprio dia ou não.

Estivemos na sala de actividades com os miúdos, que estavam basicamente a ensaiar a tal dança para o Sant Jordi depois de um lanche entre todos. É uma actividade que têm todos os meses em que os próprios jovens vão comprar a comida sozinhos e a “organizam”, isto é, preparam a sala, fazem as tostas, etc. No entanto, só o Raúl, um jovem mesmo querido, completamente diferente dos outros nesse sentido (e que segundo a Olga, tem uma auto-estima baixíssima, vem de uma família numerosa onde os pais não lhe dão qualquer atenção, portanto apresentado também “problemas”, tal como os outros), é que preparava tudo! No fim do lanche, faz parte da actividade os educadores entregarem 3 “prémios” (gomas e outras guloseimas, desde logo pouco educativo) aos jovens que foram o “mais simpático”, o “mais aplicado” e o “que mais evolui” durante esse mês. No entanto, como lêem virtudes e coisas positivas (por mais simples que sejam) que aconteceram durante o mês sobre cada um, já não achei esta actividade tão má. É que normalmente não gosto de “concursos”, é uma forma pouco cooperativa, mas como aqui é a ideia é elogiar-lhes e encontrar pontos positivos e fazer-lhes sobressair, e a tod@s sem excepção, ficando a tal “competitividade” sem muita relevância, já considero uma boa ideia. Segundo o “projecto” do Kl@s, esta actividade serve para detectar hábitos incorrectos de alimentação e para dar responsabilidade aos jovens.

Antes estivemos no escritório a ver os dossiers do projecto do Kl@b (o que foi apresentado à câmara) e da memória anual. Ficamos a saber que no Kl@b a educadora tem acesso à história familiar das crianças, que lhe passe a assistente social, com a qual tem reuniões todas as semanas.

São cerca de 23 jovens, mas por dia a média é de 9, e têm idades entre os 12 e 16 anos (sendo a média de 14). Segundo a “memória” de 2005, 16 são filhos de imigrantes (e na actualidade os números são muito próximos), e a maior parte são derivados dos Serviços Sociais. Todas as quintas é o dia do desporto onde, depois de realizarem os trabalhos para casa da escola, vão para um ginásio. Um vez por mês fazem uma excursão. Estas duas “actividades” são as que têm mais aderência por parte dos jovens. Este trimestre a actividade educativa que estão a realizar com um formador exterior é “arte-terapia”, a qual ainda não tivemos oportunidade de assistir. No entanto, os jovens não costumam ser muito participativos, e como é um espaço de tempo livro, não se pode obrigá-los a participarem, segundo a Olga, coisa que eu também acharia errado, há que motivá-los e não obrigá-los. Mais que isso: há que incentivá-los a criarem eles próprios formas mais “educativas” de se entreterem (já que é essa a visão com a qual vão para ali). Mas a Olga também disse que tenta-se que eles digam o que querem fazer, só que isso também lhes custa.

O trabalho com a família também é complicado, a assistente social é que lida mais com eles. No entanto, fizeram-se reuniões de pais, às quais na primeira não apareceu nenhum pai, mas na segunda como se divulgou muito (por diferentes meios: telefone, carta..) apareceram alguns e saiu um debate interessante.

O projecto da GATS para o centro de jovens, tem uma vertente individual e outra mais grupal, apresentando várias ferramentas educativas, como a “folha de autorização/inscrição” no local; o “contracto de compromisso”; os “PEI’s” (Protocolos Educativos Individuais), uma folha que corresponde a cada criança, onde em função das suas necessidades interesses, existe uma série de objectivos a cumprir; a “folha de valorização social” (documento de avaliação de diferentes competências básicas de cada jovem); a “folha de assistência mensal”, uma grelha onde se anota a assiduidade e pontualidade de cada um; o “quadro mensal”, onde se escreve as actividades que se fazem cada dia; “folha de seguimento diário”, onde se avalia cada participante; uma “ficha de controle das actividades”, com a descrição da actividade e sua avaliação; documentos para pedido de autorização para excursões, oficinas concretas, colónias de férias; e por último, “protocolo de derivação” que é um documento elaborado conjuntamente entre serviços sociais e Kl@b, sendo uma espécie de diagnóstico da situação de cada criança.

Fiquei bastante surpresa por todas estas ferramentas estarem na categoria de “instrumentos pedagógicos”, pois a mim mais me parecem instrumentos organizativos.

A GATS nisto tudo é apenas um intermediário. A Olga tem uma “tutora” que é a Raquel (da GATS) cujos problemas laborais lhe são comunicados e esta ajuda Olga a resolvê-los. É uma espécie de supervisão externa, pois como bem disse a Olga, “ás vezes estás tão “metido” que não vês as coisas”.

A pequena freguesia de Canovelles é tipicamente de imigrantes (principalmente ciganos e africanos) e, diferentemente de Barcelona, isso nota-se muito bem. É engraçado porque nota-se que ainda não “perderam” uma das suas manifestações culturais: a vestimenta. É que vê-se as pessoas na rua vestidas como se estivessem no país de origem: com os vestidos africanos, com os turbantes, com os chapéus árabes... Digo ainda, por em Barcelona talvez já estejam mais influenciados pela “moda” citadina e então não se vê tantos imigrantes que saibamos identificar (ou tentar adivinhar) a sua nacionalidade.

Quando chegamos a festa cá em casa estava a começar. Era aniversário do Pablo, um galego muito simpático que está cá a trabalhar e é amigo da casa. Eu e a Marlene fizemos um bolo, mas a mesma ideia tiveram outros convidados, e então havia cerca de 3/4 bolos o que fez com que cantássemos os Parabéns várias vezes. É engraçado como a versão portuguesa é das únicas que não segue a melodia do “Happy Birthday to you...”.


">
(<$BlogItemCommentCount$>) comments