UtupiAR: é urgente!

quarta-feira, maio 17, 2006

2 de Abril - domingo



Este Domingo fui pela primeira vez visitar um lugar que já o deveria ter conhecido à imenso tempo (dadas as recomendações de amigos e pessoal do GAIA): Can Masdeu (www.canmasdeu.net). Uma casa okupada a 1km (aproximadamente) da cidade, mas com características bem peculiares. Depois de andar sensivelmente 15 minutos a pé desde o metro, entrei num autêntico mundo a parte! Uma montanha de onde se via muito bem Barcelona e os seus inúmeros prédios e construção desorganizada (porque tirando o centro e a zona do Eixample, o planeamento e construção parecem caóticos). E que segundo nos foi explicado, aquela área da serra da Collserola (onde nos encontrávamos) era como que uma ilha verde de Barcelona e da sua área metropolitana, já que ao redor, mesmo as montanhas já começam a ser bastante urbanizadas.
À medida que me aproximava da área da casa o meu espanto aumentava: eram 11h da manhã e havia por ali muita gente, ora velhinhos, ora crianças, ora jovens de mochila de campismo às costas, ora adultos de bicicletas. Uma pequena encenação nos brindava à entrada: uma mesa com umas bolachinhas e muita papelada, um computador (a fazer de conta), um jovem engravatado atrás da secretária, outro em pé ao seu lado sorrindo para as pessoas que se aproximavam curiosas; ao lado deles, um painel com uma fotografia (não da casa okupada mas de uma casa grande que se vê ao lado que é uma dependência construída por um hospital público de Barcelona mas que nunca foi utilizado) e várias setas que indicavam “piscina”, “sauna”, “parque de estacionamento subterrâneo”, “ginásio”... Outro painel indicava os apartamentos ainda disponíveis para compra.
Faziam uma ironia ao facto da câmara querer urbanizar o vale, de quase inevitavelmente e como eles bem dizem “puxarem” a cidade para a montanha, em vez de “baixarem” a montanha à cidade (ao invés de mais áreas verdes, mais betão; infelizmente a política de muitas cidades parece ser esta); e já que há indícios que a câmara quer dar uma utilidade ao tal edifício do hospital (sem uso durante 50 anos), provavelmente encarregando uma empresa privada dessa concessão, os jovens ridicularizavam a situação, criando a imagem de um centro comercial e urbanização de luxo, cujos relações pública da empresa estavam de momento a promover. Foi com esta deixa que criaram ali uma interacção fantástica com os visitantes, que eram muitos: na rota guiada pelo vale éramos mais de 50 e durante o dia todo passaram por lá mais de 300 pessoas! Ligavam a parte da brincadeira (da tal ironia) com uma parte mais séria, de um lado os representantes da empresa imobiliária (personagens representadas pelos okupas) e do outro os jovens okupas (que se encontravam num plano de re-inserção social ;)
A rota passava por vários pontos chaves onde outros jovens da casa nos falavam de algum projecto em especifico, como as meninas do projecto da educação ambiental que nos explicaram como funciona esse projecto: grupos de crianças ou jovens contactam a CanMasdeu e fazem uma visita às hortas comunitárias, experimentam plantar, aprendem o ciclo da água, conversam sobre energias renováveis...
Noutro ponto mais adiante, uns “pássaros” pediram a nossa colaboração para ajudar a limpar a área, já que nós humanos a sujamos quando vamos para essa zona verde passear e picnicar!
Depois da visita animaram as crianças (e os mais graúdos, claro) com música (até um palco tinham, microfones e material de som) e danças colectivas. E enquanto se esperava pela calçotada (finalmente ía experimentar os famosos calçots!) podia-se ir petiscando na banquinha ecológica que se encontrava mesmo ao lado, onde vendiam sumos biológicos, cerveja artesanal (feita por eles), bolinhos e outros petiscos.
Algumas pessoas (como eu) consultavam atentamente o material disponível numa amostra da biblioteca que se encontrava cá fora, distribuído por 2 mesas, assim como uma mesa com panfletos e outro material de divulgação e outra com produtos para venda e um banco de sementes (onde o objectivo é preservarem-se sementes locais e antigas, com base na sua distribuição). A rapariga que se encontrava a “guardar” este espaço, era uma verdadeira relações públicas, falando com as pessoas que se aproximavam, explicando os projectos, perguntando se tinham alguma dúvida...

À hora marcada lá começou a calçotada (com um preço justo) e eu adorei os calçots e aquele ambiente todo: toda a gente ali sentada na relva, em amena cavaqueira, jovens e velhinhos, tocando música e dançando. Depois da calçotada quem quisesse poderia ver um video da assembleia de vizinhos do bairro de Canyelles e a sua luta com a câmara de Barcelona. Pois esta não foi capaz de defender os interesses dos moradores face aos interesses de uma empresa de construção imobiliária. E assim, aqueles reuniram-se em assembleia para ao fim de 6 anos, conseguirem as habitações a que tinham direito, embora tenha sido um processo difícil pois depois de 40 anos de ditadura é difícil as pessoas juntarem-se assim e falarem directamente sob um assunto que lhes preocupa, como contou a porta-voz da assembleia. Lembro-me de algo que esta disse que ficou na minha cabeça no decorrer do filme: quando fizeram o sorteio dos andares, a assembleia de moradores sugeriu que se realizassem dois sorteios, primeiro os andares que se encontravam no rés-do-chão ou primeiro andar que seriam sorteados só entre os mais velhos e/ou pessoas com mobilidade reduzida e depois outro sorteio para os restantes apartamentos e famílias. Ou seja, a assembleia teve em conta a facilidade que estes grupos de pessoas teriam se morassem mais perto do exterior, onde não teriam que subir escadas ou caminhar tanto. A câmara não se tinha lembrado de tal coisa. Aqui é demonstrado claramente que a auto-gestão é algo que faz sentido, que a gestão de algo pelos próprios que o usam ou vão utilizar é o mais correcto. Dado que além de mais verdadeiro, é mais rico. Se é certo que 3 cabeças pensam melhor que uma, também é certo que 100 cabeças pensam melhor que uma, embora a dificuldade que isto possa trazer. Tal como neste caso, quando mais pessoas pensam sobre algo é maior a probabilidade de boas ideias surgirem ou tocarem-se em pontos de que outra forma ninguém se lembraria. É assim um trabalho mais rico. E sincero, porque quem melhor conhece os seus problemas e necessidades do que as próprias pessoas? Não digo que não deva haver “técnicos” nestas “discussões”, até porque trazem uma visão “de fora” que pode ser importante, mas não devem ser apenas estes a decidir as coisas, como acontece na maioria dos projectos camarários, em que opiniões de arquitectos e outros profissionais contam mais que as das próprias pessoas que conhecem o local e o usufruem.

A seguir teve lugar a assembleia cujo tema era “Que queremos para o hospital abandonado?”, assembleia preparatória onde o objectivo era recolher ideias para aquele edifício enorme sem nenhum uso e em vias de ser privatizado, a não ser que ou: a) se fizesse um projecto forte, capaz de fazer com que a câmara cedesse o espaço à população como equipamento cultural e esta o pudesse auto-gerir (à semelhança dos feitos conseguidos pela Coordenadora Nou Barris – como o Ateneu Popular Nou Barris – com cujo apoio poderiam contar) ou b) se ocupasse totalmente o edifico de forma espontânea, sem dar explicações à câmara. Para ambos os casos, é preciso existirem ideias concretas em relação ao uso do edifício e foi isso que se teve a discutir: um espaço para idosos (já que há muitos no bairro vizinho), uma escola com pedagogias alternativas, uma cooperativa de habitação... No final, bailarico, onde uma senhora vizinha das hortas comunitárias, ensinou algumas danças tradicionais europeias e espanholas.
Estava tudo de facto bem organizado!

Falando um pouco mais sobre o projecto global da okupa e do que aprendi lá, a casa era uma antiga leprosaria, que também esteve abandonada mais de 50 anos, e que no final de 2001 começou a ser recuperada por um grupo de jovens, não só a casa, mas todo o seu envolvente, onde descobriram uma mina abandonada e reabriram os caminhos para a água. Alguns vizinhos do bairro mais próximo começaram a participar no cultivo da terra e assim em Setembro de 2002 surgiram as hortas comunitárias, onde em assembleia cerca de 80 pessoas repartiram as parcelas de terra como quiseram (ora um pedaço pertencia a uma família, ora outro pedaço pertencia a um grupo de mulheres, ora um pedaço aos jovens da okupa....), como bem nos explicarem 3 vizinhos que trabalham nas hortas, onde o único “requerimento” dos jovens okupas era que a agricultura praticada fosse biológica e que se reunissem em assembleia mensal para gerirem os recursos de forma comunitária.
Na casa vivem de momento 29 pessoas, mas enche-se de gente quando abre como centro social todas as quintas e domingos (só fecha mesmo no Natal e em Agosto e Setembro), com o bar ecológico RurBar, com a rota pelo vale, com a loja grátis (uma espécie de loja de roupa 2ª mão, mas onde a roupa não se compra, mas oferece-se), biblioteca onde encontramos o Centro de Documentação (livros, dossiês e revistas, que podes levar para casa durante 1 mês) e a oficina Rurbana (informação sobre alternativas no meio rural), a Distri Rurbana (venda de livros, cd’s...) e “Produtos para auto-renda” (produtos que eles próprios fazem, como sabonetes, chocolate...), cujos fundos destes dois últimos revertem para a organização das actividades e mantimento da casa.
Além destes espaços da casa que estão à disposição de todos, do projecto das hortas comunitárias e do projecto de educação ambiental, a Can Masdeu tem também um projecto chamado GACs (Grupos de Auto-aprendizagem colectivos) onde várias pessoas (que habitam na okupa ou não) se reúnem às quintas ou domingos para aprenderem de forma partilhada vários labores ou temas. De momento, há grupos que estão a aprender a fazer pão e a trabalhar na horta, há um circulo de mulheres, um grupo de contacto-improvisação (espécie de dança experimental), há uma oficina de auto-reparação de bicicletas, uma oficina de cerveja artesanal e um grupo que cultiva spirulina. Claro que estão abertos a mais propostas!

O mais impressionante deste dia foi a quantidade de pessoas que lá estavam e que conheciam o projecto!! E o ver que todos o apoiavam e embora com estilos de vida diferentes (no meio urbano) também era aquele o que desejavam.
Foi exactamente isso que senti, que é isso que desejo, mas como isso já o sabia, o importante foi sentir mais uma vez que o que sonho é possível, que as utopias estão mais próximas do que aquilo que se imagina. É o colocar em prática de tudo (ou quase tudo) aquilo em que acredito. É que fazendo parte do movimento ecologista, de estar familiarizada com compostagem, construção ecológica, agricultura biológica e bla bla bla bla bla bla, mas não praticar tudo isto, é muitas vezes muito frustrante. Ali eles faziam as duas coisas: tinham esta vertente prática, mas também a mais teórica, digamos, já que além de viverem muito perto da cidade e de muitos deles estudarem e trabalharem nela, as pessoas da cidade também vêm ao “campo” e aprendem com eles, tanto em debates e palestras que lá se organizam, como na participação das oficinas. É a teoria junto com a prática. É a construção de uma alternativa viva ao capitalismo sem escrúpulos que se vive lá em baixo na cidade. É uma resistência que resiste, embora com dificuldade, mas com apoio por parte de muitos. É aquilo que muitos querem fazer mas não têm coragem devido às imensas pressões sociais e familiares.
Vim de lá mesmo entusiasmada, mais confiante nos meus sonhos (e nos de muitas pessoas), e com mais vontade de voltar para Portugal e partilhar tudo isto, confesso. Mas cada coisa a seu tempo, e por aqui vou tentar conhecer mais projectos do género para aprender com eles.

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1 de Abril - sábado



Entramos num novo mês e sinto que o meu estágio não tá a ser o que esperava, mas tento rentabilizar o facto de estar numa cidade com imenso associativismo e participação. Em Portugal o número de associações também é elevado, mas é que muitas acho que não estão lá muito activas. Só existem praticamente no papel. Aqui muitas fazem realmente coisas, já que nas revistas e panfletos podem-se ver divulgadas várias actividades. E existem associações de todos os tipos e para todos os gostos. Há mesmo aquelas bastante curiosas, como uma associação de pessoas com apelidos de animais!
O que explica este número elevado de associações e actividades creio que é o carácter participativo, interventivo e reivindicativo que parecem ter os catalãos. É raro encontrar alguém que não pertença a nenhuma associação, seja ela a associação de vizinhos, uma associação de teatro, uma associação juvenil... Além do mais, em Barcelona há uma forte tradição reivindicativa, que começou talvez com a revolta social no final da ditadura franquista, protagonizada por onde anarquistas e outros grupos de carácter bastante critico e reivindicativo.
Mas em Portugal, apesar de termos também alguma história no que diz respeito ao movimento associativo, dado que também sofremos uma ditadura e daí advieram muitos movimentos de contestação e associativos; parece que adormecemos e todos esse borbulhar social reactivo, cessou, cansado, e só começa a despertar agora, na minha opinião. Somos muito poucos, mas isso trás algo positivo, é que damos mais valor a quem vem de novo. Insistimos mais em reuniões.. em fazer coisas. Temos uma vontade imensa, talvez por necessidade, e realmente tentamos insistir na participação.
Aqui a oferta é tanta, as pessoas são reivindicativas por natureza, que talvez quem se queira envolver mais seriamente e activamente seja difícil. Pelo menos tem sido esse o meu problema. Tenho conhecido associações e projectos interessantes mas é como se sentisse que não fizesse falta aqui. E sinto mesmo falta de me envolver e implicar mais com algum colectivo e/ou projecto, sentir que faço parte do grupo, e que posso dar a minha contribuição.


Hoje eu e a Marlene fomos passear para o parque da Cidadela, talvez a área verde mais conhecida de Barcelona, bem no centro desta, um espaço fresco e agradável, onde se ouvem os passarinhos e se vêm papagaios à solta. Fomos com o intuito de nos sentarmos agradavelmente na relva a fazer umas flores com arame e lã, artesanato, digamos, que temos estado para aí viradas no nosso tempo livre. Inclusive a “mãe” da família que está cá hospedada durante uns tempos (vão ficar cerca de 15 dias creio) ensinou-me a fazer uns polvos com lã e nós a fazer as flores. Um intercâmbio de saberes, assim muito espontâneo. Aliás, lembro-me do Sistema Trocal e de para mim se resumir apenas a “ampliar” essa rede e em vez de apenas as trocas serem efectuadas no seio familiar e de amigos e conhecidos também se efectuaria entre pessoas que antes não se conheciam.

No final do dia fui com a Ana e Helena ao museu da história da cidade, aproveitando que a entrada era gratuita. Vimos ruínas do tempo dos romanos em Barcelona e pensei como é “estranho” imaginar que uma cidade já foi tão diferente do que aquilo que vemos agora, que quase não dá para conceber essa outra realidade.

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segunda-feira, maio 08, 2006

31 de Março - sexta-feira


Tal como combinado, hoje fomos de novo ao Kl@b, espaço de jovens que a GATS gere em Canovelles, para falarmos sobre a nossa proposta. Apesar de terem gostado, acharam que a parte da dinamização do exercício sobre as virtudes não é possível com este grupo de jovens em especifico, que não vão participar. Já o quebra-gelo inicial também será difícil mas podemos tentar, que já que somos novas no espaço, eles podem colaborar mais. O trabalho manual é o que terá mais sucesso pois até estão a fazer coisas eles próprios para venderem na Festa de Sant Jordi para angariaram fundos para as colónias de férias, o que pode ser uma boa motivação para participarem.

Combinamos os dias em que podemos ir e pensamos logo em vários trabalhos manuais para os outros dias. Primeiro vamos ensinar a fazer as carteiras em tetra-pack, depois as flores e outras coisas com lã. Tanta uma actividade como outra podem-se prolongar para mais de um dia, conforme os jovens a acabem no próprio dia ou não.

Estivemos na sala de actividades com os miúdos, que estavam basicamente a ensaiar a tal dança para o Sant Jordi depois de um lanche entre todos. É uma actividade que têm todos os meses em que os próprios jovens vão comprar a comida sozinhos e a “organizam”, isto é, preparam a sala, fazem as tostas, etc. No entanto, só o Raúl, um jovem mesmo querido, completamente diferente dos outros nesse sentido (e que segundo a Olga, tem uma auto-estima baixíssima, vem de uma família numerosa onde os pais não lhe dão qualquer atenção, portanto apresentado também “problemas”, tal como os outros), é que preparava tudo! No fim do lanche, faz parte da actividade os educadores entregarem 3 “prémios” (gomas e outras guloseimas, desde logo pouco educativo) aos jovens que foram o “mais simpático”, o “mais aplicado” e o “que mais evolui” durante esse mês. No entanto, como lêem virtudes e coisas positivas (por mais simples que sejam) que aconteceram durante o mês sobre cada um, já não achei esta actividade tão má. É que normalmente não gosto de “concursos”, é uma forma pouco cooperativa, mas como aqui é a ideia é elogiar-lhes e encontrar pontos positivos e fazer-lhes sobressair, e a tod@s sem excepção, ficando a tal “competitividade” sem muita relevância, já considero uma boa ideia. Segundo o “projecto” do Kl@s, esta actividade serve para detectar hábitos incorrectos de alimentação e para dar responsabilidade aos jovens.

Antes estivemos no escritório a ver os dossiers do projecto do Kl@b (o que foi apresentado à câmara) e da memória anual. Ficamos a saber que no Kl@b a educadora tem acesso à história familiar das crianças, que lhe passe a assistente social, com a qual tem reuniões todas as semanas.

São cerca de 23 jovens, mas por dia a média é de 9, e têm idades entre os 12 e 16 anos (sendo a média de 14). Segundo a “memória” de 2005, 16 são filhos de imigrantes (e na actualidade os números são muito próximos), e a maior parte são derivados dos Serviços Sociais. Todas as quintas é o dia do desporto onde, depois de realizarem os trabalhos para casa da escola, vão para um ginásio. Um vez por mês fazem uma excursão. Estas duas “actividades” são as que têm mais aderência por parte dos jovens. Este trimestre a actividade educativa que estão a realizar com um formador exterior é “arte-terapia”, a qual ainda não tivemos oportunidade de assistir. No entanto, os jovens não costumam ser muito participativos, e como é um espaço de tempo livro, não se pode obrigá-los a participarem, segundo a Olga, coisa que eu também acharia errado, há que motivá-los e não obrigá-los. Mais que isso: há que incentivá-los a criarem eles próprios formas mais “educativas” de se entreterem (já que é essa a visão com a qual vão para ali). Mas a Olga também disse que tenta-se que eles digam o que querem fazer, só que isso também lhes custa.

O trabalho com a família também é complicado, a assistente social é que lida mais com eles. No entanto, fizeram-se reuniões de pais, às quais na primeira não apareceu nenhum pai, mas na segunda como se divulgou muito (por diferentes meios: telefone, carta..) apareceram alguns e saiu um debate interessante.

O projecto da GATS para o centro de jovens, tem uma vertente individual e outra mais grupal, apresentando várias ferramentas educativas, como a “folha de autorização/inscrição” no local; o “contracto de compromisso”; os “PEI’s” (Protocolos Educativos Individuais), uma folha que corresponde a cada criança, onde em função das suas necessidades interesses, existe uma série de objectivos a cumprir; a “folha de valorização social” (documento de avaliação de diferentes competências básicas de cada jovem); a “folha de assistência mensal”, uma grelha onde se anota a assiduidade e pontualidade de cada um; o “quadro mensal”, onde se escreve as actividades que se fazem cada dia; “folha de seguimento diário”, onde se avalia cada participante; uma “ficha de controle das actividades”, com a descrição da actividade e sua avaliação; documentos para pedido de autorização para excursões, oficinas concretas, colónias de férias; e por último, “protocolo de derivação” que é um documento elaborado conjuntamente entre serviços sociais e Kl@b, sendo uma espécie de diagnóstico da situação de cada criança.

Fiquei bastante surpresa por todas estas ferramentas estarem na categoria de “instrumentos pedagógicos”, pois a mim mais me parecem instrumentos organizativos.

A GATS nisto tudo é apenas um intermediário. A Olga tem uma “tutora” que é a Raquel (da GATS) cujos problemas laborais lhe são comunicados e esta ajuda Olga a resolvê-los. É uma espécie de supervisão externa, pois como bem disse a Olga, “ás vezes estás tão “metido” que não vês as coisas”.

A pequena freguesia de Canovelles é tipicamente de imigrantes (principalmente ciganos e africanos) e, diferentemente de Barcelona, isso nota-se muito bem. É engraçado porque nota-se que ainda não “perderam” uma das suas manifestações culturais: a vestimenta. É que vê-se as pessoas na rua vestidas como se estivessem no país de origem: com os vestidos africanos, com os turbantes, com os chapéus árabes... Digo ainda, por em Barcelona talvez já estejam mais influenciados pela “moda” citadina e então não se vê tantos imigrantes que saibamos identificar (ou tentar adivinhar) a sua nacionalidade.

Quando chegamos a festa cá em casa estava a começar. Era aniversário do Pablo, um galego muito simpático que está cá a trabalhar e é amigo da casa. Eu e a Marlene fizemos um bolo, mas a mesma ideia tiveram outros convidados, e então havia cerca de 3/4 bolos o que fez com que cantássemos os Parabéns várias vezes. É engraçado como a versão portuguesa é das únicas que não segue a melodia do “Happy Birthday to you...”.


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sexta-feira, abril 28, 2006

30 de Março – quinta-feira

Fui a uma reunião especial para voluntários da SOS Racismo Catalunha (www.sosracisme.org). Fui um bocado com o pé atrás, confesso, já que tinha visto um anúncio deles a pedir voluntários num site na Internet, enviei e-mail, e não me responderam. Nem sequer me avisaram desta reunião, tive conhecimento dela porque, por acaso, recolhi um boletim mensal da associação.

Cheguei um pouco atrasada (porque perdi-me de bicicleta) e estavam 2 pessoas na reunião, que era de facto especial para voluntários, onde uma senhora explicava (em castelhano!) um pouco da associação e os vários projectos existentes.

A SOS Racismo nasceu na Catalunha em 1989, tendo agora grupos espalhados por todo o país. Antes de mais, é necessário compreender que esta associação compreende racismo como qualquer tipo de discriminação baseado em qualquer característica da pessoa como cor, género, religião...

O seu trabalho divide-se em duas vertentes: denúncia e sensibilização (fez-me lembrar a campanha do eco-consumidor do GAIA). Sobre a primeira, têm uma oficina de denúncia que funciona de segunda a quinta no horário das 16h às 19h, na qual trabalha um educador social (confirmar), juntamente com um advogado, que “recebem” todo o tipo de denúncias de discriminação. Dependendo do grau e tipo de discriminação sofrida, fazem mediação, aconselham acompanhamento psicológico, ou ajudam a procurar emprego, ou reencaminham para outros serviços mais indicados. Trabalham também muito em equipa, por exemplo, se se trata de uma discriminação laboral, sabem que podem contar com a ajuda dos sindicatos.

Cada ano (em Março) apresentam uma memória da oficina de denúncias (cuja senhora nos mostrou), que é dividido em temas. Em Abril apresentam um relatório anual (em formato de livro) comparando as várias memóridas descritivas de todos os grupos SOS racismo de Espanha, dando uma imagem assim da situação em todo o país. É publicado em várias línguas, para mais pessoas terem acesso. Lembro-me que a SOS Racismo portuguesa também publica algo do género.

Aliás, mal cheguei, tirei a dúvida que tinha sobre a SOS Racismo pertencer a uma rede europeia, já que em Portugal há uma associação com o mesmo nome. Não pertence a nenhuma rede europeia, pelo menos a SOS Racismo espanhola.

Paralelamente à denúncia do racismo através das memórias, têm campanhas de comunicação e sensibilização em relação a este tema.

Uma das campanhas é contra o racismo social, e envolve uma exposição audiovisual (com videos, fotografias, texto), um concurso de fotografia, um manifesto, e uma página web (www.prouracismo.org). É pena que a exposição não esteja de momento em Barcelona, pois depois da descrição entusiasmada da senhora, fiquei com vontade de a ver. A minha ideia é perceber-me até que ponto esses materiais (a exposição e campanha em si) podem ser usados (com umas pequenas adaptações) em Portugal.

Outra das campanha é a campanhas pelo direito ao voto dos imigrantes. É que em Espanha, os americanos passado dois anos de cá residirem, podem ter nacionalidade espanhola e votar, outros países como Inglaterra, Holanda, passado 5 anos, a maioria dos restantes apenas passado 10 anos. No bairro do Raval, por ex., a maioria das pessoas (cerca de 70%) são imigrantes e não podem votar na sua própria freguesia, o que faz com que os eleitos o sejam por uma minoria. Esta campanha ainda não foi iniciado sendo a sua inauguração para breve.

Há ainda a campanha “Filhos Imigrantes”, já iniciada o ano passado, quando organizaram um grande encontro no Verão com diferentes organizações internacionais que trabalham o tema. Este ano, a ideia é de uma Escola de Verão aberta a todos, mas gostavam que tivesse uma forte participação de ONG’s criadas por filhos de emigrantes.

Na manga, há uma campanha sobre racismo e desporto, onde pretendem criar uma claque contra o racismo no Barça.

Transversal às campanhas têm o boletim “colors” que editam cada mês, com várias noticias, com um testemunho da oficina de denúncia e outros artigos de interesse.

Existem também os grupos de trabalham temático, que se dedicam a estudar e investigar algo em especifico como racismo e habitação, racismo e mulheres...

Parece-me que a SOS Racismo é uma associação bastante activa e com projectos interessantes, sendo assim uma boa associação para futuros estágios no nosso curso. Eu cá, vou ajudar-lhes a estabelecer contactos com algumas associações em Portugal que trabalham com imigrantes por causa de do tal projecto da Escola de Verão. Por isso, se souberem de alguma, comuniquem-me (sem ser a SOS Racismo portuguesa, porque aí já tenho contactos).

De seguida fui com a Ana e Helena mais uma vez ao centro cívico de Drassanes ver a última peça do ciclo de teatro de marionetas. Infelizmente, não achei nada de especial.

Ainda por cima, perdi o meu cachecol azul que gostava tanto por aí algures no dia de hoje...



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29 de Março – quarta-feira

Mais uma tarde na biblioteca a pesquisar...

Recebi um e-mail de um amigo português, do GAIA Lisboa, que estava em Barcelona de momento. Como o e-mail já tinha sido enviado à praticamente uma semana e eu não o tinha visto porque como os meus pais estavam cá acho que nem houve tempo para ir à Net. Telefonei-lhe logo e ainda se encontrava na cidade, era o último dia.

Então combinamos um café e falamos sobre Barcelona e sobre o GAIA. Curiosamente, quando em despedidas nas Ramblas, encontrou uma amiga dele que eu já tinha contacto pois está bastante envolvida na Plataforma contra os transgénicos de cá (www.transgenicosfora.org), à qual eu já tinha enviado e-mail e nunca me chegou a responder. Ficamos então de contactar brevemente, assim como uma rapariga que estava com ela e que tinha uma amiga que estudava educação social e que tinha um projecto que me devia interessar. Ficaram com o meu e-mail e número de telemóvel e disseram que me iam contactar. Esqueço-me sempre que nestas coisas também devo ficar com o contacto pois pode haver esquecimento do outro lado.

Fico sempre admirada como estes espanhóis não param. Era quase 1h da manhã, numa quarta-feira, e as ruas estavam bastante movimentadas. Ás vezes penso que devem ser os turistas e os estudantes Erasmus mais adeptos de festa (que são quase todos, diga-se de passagem...) mas o grupo da tal rapariga amiga do Gualter ainda eram 5 ou 6 catalãos.

Hoje foi a primeira vez que andei de bicicleta e fiquei arrependida de não o ter feito mais cedo. Não é que não soubesse que adoro andar de bike, mas é que as bicicletas que temos cá em casa sempre me pareceram pouco seguras e nunca me deu vontade para pegar numa delas, atravessar o apartamento e descer as escadas com ela... Uma estava fora de questão por ser demasiado grande e eu nem sequer chegar ao pedal. A outra, a pequena (como eu gosto), não tem mudanças, um dos travões não funciona, o outro funciona mal, e tem um ar muito instável. Mas como me disseram que até se porta bem, resolvi experimentar. E de facto não é má, como a cidade é bastante plano as mudanças nem fazem muita falta.

Andei cerca de uma hora de bicicleta pela zona do Eixample e adorei. É que num instante (porque em mais de metade do tempo que a pé) faz-se uma rua inteira! E vê-se as coisas na mesma com calma, como a pé, e de uma forma muito diferente do que através de um vidro de um carro um de um autocarro turístico.

Difícil é estacioná-la! Não há assim tantos parques de estacionamento para bicicletas, aqueles ferros muito simples, então tenho que procurar um poste livre ou uma árvore. E como a bicicleta não é minha, estou sempre com medo que me roubem-na, já que dizem ser uma coisa muito comum aqui.

Certo é que a vou utilizar mais vezes.


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28 de Março - terça-feira

Hoje fui dar um passeio com a Marlene pelo bairro. Fomos ao mercado Hostafrancs para vermos uma exposição sobre as mulheres do mercado em tempos antigos, organizada, claro está, no seguimento do dia da Mulher trabalhadora. Queríamos comprar umas alcachofras para experimentar, que se comem muito aqui e nunca experimentamos (eu sei que experimentei uma vez num restaurante vegetariano mas já não me lembro...) e como só queríamos duas (estávamos com medo que não gostássemos) o senhor vendedor até nos ofereceu! Depois voltamos lá para umas tangerinas e quase não as pesou e levou-nos mesmo pouco dinheiro pelas ditas cujas! Não sei se parecia que éramos pobres ou algo do género, ou se simpatizou connosco ou se é simpático por Natureza. De qualquer forma, o senhor velhinho era uma simpatia. Assim como muitas pessoas que encontro aqui a trabalhar no Comércio.

Mesmo em cima do mercado havia algo que nos chamou a atenção pois era uma cooperativa de produtos educativos. Fomos ver e parecia um supermercado de jogos de tabuleiro, material de trabalhos manuais, livros na área da educação, psicologia, animação de grupos... Claro que escusado será dizer que perdemos lá meia tarde! Pena os livros serem tão caros! Ficamos foi entusiasmadas foi com os livros de trabalhos manuais e “memorizamos” umas ideias!

Contudo, o sol ainda brilhava lá fora, e fomos procurar uns centros sociais que tinha apontado no meu bloquinho que eram nessa zona. Primeiro identifiquei a Cooperativa Germinal, que só abre às quintas (pelo que então não foi desta que visitei). De seguida encontramos o Centro Social de Sants, com uma grande montra virada para a rua onde poderíamos ver vários cartazes, dentro fez-me lembrar uma sala das finanças ou algo do género. É que o hall tinha uns sofás e cadeiras ou bancos em formato de “L” e ao fundo via-se uma espécie de balcão corrido, com 3 pessoas do outro lado a trabalhar ao computador ou à volta de papelada. Como pareciam ocupados não fizemos perguntas, também porque não tínhamos nada preparado.

Por último visitamos Can Vies, uma okupa que também é centro social, onde já várias tive conhecimento de actividades que lá se iriam realizar. Entramos apenas na parte de baixo, que penso ser a de acesso ao público, que funciona como uma espécie de bar. Parecia um armazém, assim um pouco para o escuro e com um cheiro não muito agradável. Vimos os panfletos que estavam em duas estantes e demos uma olhadela nos cartazes e viemos embora.

Pelo caminho também passamos por outra okupa! Não me lembro se já referi que Sants é um bairro bastante activo no que toca a okupação e que há cerca de 40 casas okupadas. Um pormenor interessante que demonstra de certa forma a coesão do movimento é que há um calendário chamado “Usurpa” que está à porta de todas as okupas, no exterior, de forma a que qualquer pessoa que passe na rua tenha acesso (até na okupa ao lado da nossa casa há). Esse calendário (o Usurpa), que é semanal, tem no seu lado esquerdo uma coluna com o nome e endereço de todas as CSO (Centro Social Okupado) e outros locais/colectivos com uma filosofia não muito diferente das CSO e do lado direito várias colunas com os dias e todas as actividades e eventos durante essa semana em cada lugar.

Mudando de assunto, hoje soube que já tenho o que fazer nas férias de Verão! Uma parte das férias, pelo menos. É que um projecto de uma associação da Bélgica no qual o GAIA também se envolveu, foi aprovado. Podem ir 4 pessoas do GAIA. Acho que vou. É sobre uma campanha contra armamento nuclear chamada qualquer coisa como “presidentes da câmara pela paz” cuja a tal associação na Bélgica dinamizou, e que segundo me parece conseguiu que alguns presidentes de câmara declarasse o seu município livre de armas nucleares e a favor da paz.

O projecto em si é um intercâmbio (através do programa Juventude) que envolve 15 países europeus e 45 pessoas no total. Do programa fazem parte uma visita ao Museu da Paz em Ypres, biketour desde essa cidade até à capital, com paragens em 3 cidades diferentes da Bélgica (uma biketour a sério, bem organizada, eheh, com ciclovias, por isso família, não se assustem!), visita à NATO de Bruxelas, workshops armas nucleares e sobre a campanha, actividades interculturais, visitas “turísticas”...

É de 31 de Julho até 10 de Agosto! Só tenho de pagar 30% da viagem. O resto da viagem, a alimentação, o alojamento está incluído. Acho que é uma boa oportunidade e já estou ansiosa!

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27 de Março - segunda-feira

De manhã fomos até ao mosteiro de Pedralbes, mas não era nada de especial. O que valeu foi o caminho para lá, pois era numa zona que ainda não tinha estado, zona rica da cidade, e cheia de edifícios luxuosos e bonitos.

Apanhamos um autocarro para ir visitar o Palácio de Pedralbes mas não deu sequer para ver o exterior porque o funicular que nos levaria lá em cima não estava a funcionar, tal como o meu guia previa. No site Internet da câmara de Barcelona é que já não me posso fiar, já que foi lá que vi que não funcionava só ao fim de semana, mas também durante a semana. Como nós, muitas outras pessoas estavam a ir para lá ao engano. Fomos só até a um ponto da montanha com vários miradouros, ou melhor, com restaurantes/cafés com miradouros, onde fomos num instante admirar as vistas e tirar fotografias.

Ainda deu tempo de irmos ao centro antes de terem que ir para o aeroporto. Foram 7 dias bem passados e divertidos!


No final da tarde fui à biblioteca, que os e-mails para pôr em dia eram bastantes.



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26 de Março – domingo


Hoje levamos o farnel e fomos a pé até Montjuic (juntamente com a Marlene), passando por vários pontos de interesse. E como é o último domingo do mês a entrada é gratuita no jardim botânico (que se encontra na mesma área) e também lá fomos. Era um jardim agradável com árvores de diferentes cantos do Mundo. Fartamo-nos de tirar fotos.

Ainda fomos ao Pueblo Español, que não sabia bem o que era e tinha curiosidade. Réplicas de várias casas que representavam várias construções típicas de diferentes regiões espanholas. Era uma espécie de Portugal dos Pequeninos para os grandes, pois as réplicas eram em tamanho real e albergavam várias oficinas e lojas de artesãos.

Engraçado é que já tinha estado no mesmo local quando andava no 9º ano na viagem de finalistas. Só depois de percorrer algumas ruas é que comecei a aperceber-me e a associar tudo.

Á noite fomos ao Teatro, foi a minha prenda de anos para a minha mãe. Teatro no “L’ Antic Teatre” (www.lanticteatre.com), uma pequena sala que parecia clandestina mas particionada pelo “Ministério da Cultura”. “O Homem Esquizofrénico do séc. XXI” de Luis Brusca, fez os meus pais rir às gargalhadas. Um só actor interpretava cerca de 20 personagens diferentes no seu percurso de autocarro. Uma história hilariante, ou melhor, várias histórias, contadas através de muita mímica e alguma voz. Só mesmo visto, ainda por cima com uma certa mensagem social, ou política, conforme preferirem.


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25 de Março – sábado


Hoje o almoço foi em casa e vegetariano pois foi feito por mim e com muito gosto. É um prazer cozinhar para os outros, ainda para mais quando dão valor. O meu pai gosta muito de vegetais por isso é um prazer vê-lo comer.

Como o dia estava bastante solarengo, fomos passear pela área da Barceloneta, a área da praia. As portuguesas foram ter connosco e também nos encontramos casualmente com o Joseph.

À noite acabamos não sei como num Irish Coffee, infelizmente, já que preferia mostrar-lhes algo mais típico. Só que a minha família é um bocado complicada no que toca a decisões e foi difícil um local que agradasse a todos. Como faltava pouco para a meia noite (que seria o aniversário da minha mãe) queríamos encontrar rapidamente um local e aquele era o que estava mais à mão. E azar dos azares, a empregada era uma antipática!

Ainda fomos um bocadinho a uma discoteca (já que um colega me tinha ligado a perguntar se queríamos estar na guest list para não pagarmos) pois a minha mãe gosta de dançar. Claro que não aguentamos muito tempo pois estávamos cansados.

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24 de Março - sexta-feira

Antes de sairmos de casa, dei uma vista de olhos ao “programa” que tinha feito para estes 4/5 dias que a minha família está cá. É que assim dá para gerir melhor o tempo e para não me esquecer de mostrar-lhes nada!

Hoje o fim da manhã foi de visita ao parque Guel, que gostaram bastante e eu também já simpatizei mais com ele.

Almoçamos mesmo perto da casa Vicents, que viemos a saber depois pela cozinheira do estabelecimento que é a primeira casa que o Gaudi desenhou. A senhora era de uma simpatia, daquelas que gosta de falar e o faz de uma forma despreconceituosa.

Seguiu-se o passeio pela freguesia da Grácia, das minhas favoritas, onde não perdemos as praças principais.

Os meus pais e irmão (embora este a resmungar mais) ainda tiveram fôlego para caminhar até ao Hospital de San Pau, não porque alguém se tivesse magoado mas porque eu tinha ouvido dizer que é um edifício modernista que também vale a pena dar uma olhadela. E sem dúvida vale. Ainda por cima as enfermeiras estavam em greve e o edifício tinha um ar mais colorido com as suas faixas reivindicativas anexadas e as enfermeiras de uniforme defronte dele a recolher assinaturas ou algo do género. Estes barcelonenses são mesmo reactivos, em todos os sectores, ou então são os sindicatos que têm bastante representação.

Descendo a Avenida Gaudi, pequena mas bem movimentada com as suas esplanadas agradáveis, chegamos à ansiedade Sagrada Família que queriam relembrar. De facto é um dos expoentes máximos da cidade, embora eu nem a ache grande piada. Só daqui a 14 anos estará pronta, mas pelo andar das obras não sei se não serão mais anos. Também por isso nunca a visitei por dentro, dado que já ouvi várias vezes dizer que não vale a pena porque quase só se vêm andaimes.

Continuamos pela Avenida Diagonal, uma das principais artérias da cidade já que a atravessa por completo exactamente na diagonal. Apesar de ter bastante tráfico, o seu percurso torna-se agradável devido ao grande passeio central e ciclovias. Fomos à Casa Ásia, que gosto de apelidar de “Pedrera dos pobres”, já que não se paga para entrar, mas pode-se circular por toda a casa (ver exposições, tirar fotografias nas suas salas com bonitos vitrais, navegar na Internet gratuitamente...) e inclusive subir ao seu terraço de onde se tem uma peculiar vista sobre a Sagrada Família com a Casa Tres Punxes à frente.

Descemos o Passeio da Grácia onde vimos as fachadas das famosas Casa Pedrera e Casa Batlô do Gaudi e outros exemplos de arquitectura art-nova e modernista de outros arquitectos.

O jantar foi num restaurante de Tapas, para nos deliciarmos com estes petiscos bem típicos da gastronomia espanhola, e não só, também do pão com tomate, especialidade catalã.

À noite fomos, depois de umas dicas do J., ao café mais antigo de Barcelona que fica na área do Raval. Voltamos cedo para casa, claro, que estava tudo estafado depois de outro dia quase sem parar.



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23 de Março - quinta-feira

Depois de visitarmos os dois espaços que a GATS gere, os dois “casais” de jovens, fizemos uma proposta de acção. No entanto, dado ao pouco tempo que nos resta cá e que poderemos intervir, e dado o facto de não conhecermos bem o grupo-alvo com quem vamos trabalhar, não é, na minha opinião, uma verdadeira actividade sócio-educativa. Quer dizer, é um começo para. É uma forma de aproximação dos jovens com o intuito de deixar algo. Assim, o que propomos são um quebra-gelo inicial, uma actividade sobre virtudes (à semelhança do que aprendi na oficina de não-violência) e um actividade manual (reutilização de embalagens tetra-packs).

Hoje os meus pais e irmão chegaram e vão ficar cerca de 5 dias. Já estavam com saudades, e eu apesar de elas não serem fortes, estava com vontade de os ver. É que já na Finlândia não sentia muitas saudades da minha família e amigos, isto é, não me dava vontade de chorar nem nada, porque me adapto bastante bem a outros países, vejo sempre as coisas como desafios. Mas por outro lado, dou muito valor e penso muito neles, em Portugal, no que não fiz lá, no que poderia melhorar. Às vezes sinto que até passo mais tempo a pensar nas minhas atitudes e forma de agir em Portugal do que em Espanha ou noutro país onde esteja. Fico com a sensação que penso mais no Passado e no Futuro do que no Presente. Mas é certo que tudo isso é por causa deste último.

A vontade de lhes mostrar a cidade e tudo o que me encantava nela era imensa. E agora com as árvores a florirem e tudo verdinho parece mesmo uma cidade encantadora. É que no início não conseguia compreender porquê o encanto mundial por esta cidade, achava que não era assim nada de especial, com poucos monumentos que justificassem tamanha admiração e uma cidade suja e confusa. Agora a minha opinião muda drasticamente e começo agora a ficar enfeitiçada por esta cidade.

Depois de irmos até a uma praça perto de casa que gosto muito (Praça da Concórdia) fomos até ao centro e por lá passeamos o resto da tarde toda.

Na Rambla do Raval, passámos por uma espécie de manifestação pequena, com mais jornalistas que participantes. Mas pareceu-me uma espécie de contra-manifestação contra o Botellón no Raval da semana anterior. Segundo o que li no jornal, os estragos foram imensos, muitos pequenos proprietários tiveram prejuízos e foram muitas as pessoas que não dormiram toda a noite. Assim, muitas das pessoas que até compreendiam os motivos da “manifestação” ficaram contra. É o tal problema de pôr tudo no mesmo saco. No entanto, não tenho nada contra esta contra-manifestação, até porque só vão demonstrar a essa minoria que “estragou” o protesto que estavam errados. Li no jornal que houve 68 feridos leves e 54 detidos no dia do Botellón!!! Os bombeiros receberam cerca de 200 chamadas e realizaram à volta de 50 saídas, enquanto as urgências receberam também mais de 100!

À noite vimos mais uma peça de teatro marionetas em Drassanes, onde também se juntaram a Marlene e as outras portuguesas. A peça chamava-se “Um kilo de judias” e sinceramente, não gostei muito. Valeu pela sua originalidade já que durante toda a peça uma mulher estava a cozinhar (a cozinhar de verdade) num lado do palco e no outro uma mulher estava debaixo de uma mesa que tinha um buraco no meio através do qual ela manipulava duas marionetas; no entanto, muitas vezes a mulher levantava-se e a mesa era como se fosse a sua saia e manipulava as marionetas de uma forma visível.



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22 de Março - quarta-feira


Hoje fomos visitar o outro “casal de jovens” que a GATS gere. Este também fica fora da cidade, em Canovelas e desta vez o tempo demora a passar pois é quase uma hora de comboio.

No “casal” trabalha a Olga, jovem educadora social (embora esteja contratada como tal, o curso que frequentou foi o de pedagogia social) e o Santi, monitor. Este, ainda mais jovem, está mais em contacto directo com os jovens, enquanto que a Olga está mais na parte de organização de actividades e de atendimento pessoal aos jovens.

O “casal” funciona todos os dias das 17h30 às 19h30 e a frequências dos jovens é incerto. Estes rondam os 12 e 16 anos e são jovens “problemáticos”, isto é, reencaminhados para lá através dos Serviços Sociais que detectaram (em conjunto com a Escola que frequentam) histórias de vida complicadas (pobreza, alcoolismo, violência doméstica...) ou apenas jovens com necessidades muito vincadas (como necessidade de atenção, de aprendizagem...). Os adolescentes derivados dos Serviços Sociais são obrigados a frequentar o casal um x número de horas por semana, enquanto os outros jovens também o têm de frequentar um x número de horas mas porque assinaram voluntariamente uma espécie de “compromisso” no inicio do ano de como queriam frequentar o “casal” e o fariam determinados dias. Desta forma não tiram lugar a outros jovens que também querem participar, porque o “casal” tem de ter um limitado número de participantes.

Nas poucas horas que lá estivemos podemos comprovar que os jovens são de facto bastante irrequietos, parecem mais novos do que o que são, nada simpáticos, e há uns que são bastante agressivos. Lembro-me de uma rapariga estar sempre a mandar murros à parede e a enervar-se facilmente.

Prevejo que a nossa comunicação com eles vai ser um pouco difícil. E é engraçado que se não soubesse a história de vida de alguns deles perdia logo a vontade de fazer algo naquele local. Muitas vezes o que motiva é o facto de sabermos que estas crianças e jovens não são assim por vontade própria, digamos, mas porque várias condicionantes e histórias passadas e sua situação actual familiar influencia bastante a sua personalidade e maneira de ser. É como se não tivessem culpa da baixa auto-estima que têm, da agressividade que demonstram, da antipatia que são donos... Precisam mesmo de acompanhamento antes que seja tarde demais para reduzir esses pontos fracos.

Também têm pontos fortes, claro, têm um forte sentido de grupo e unem-se para atingir determinado objectivo, por exemplo. Gostei muito de os ver defender o seu ponto de vista em relação a um assunto que passo a explicar: alguns deles estavam a ensaiar uma dança para actuarem no dia de Sant Jordi numa festa que a vila vai realizar; a Olga propôs que “contratassem” um jovem para lhes ensinar uns passos para a dança, os jovens não queriam e diziam afincadamente que esse jovem (que pelos vistos já tinha dado um workshop de dança no “casal”) não dança o mesmo tipo de música que eles, e que não gostam dele e que querem fazer os passos por eles próprios. Todos do grupo da dança falavam e mesmo uma que não dançava enfatizava que concordava. Os argumentos que davam pareciam-me bastante inteligentes. E de facto, sou a da mesma opinião, porque haveria de vir uma pessoa de fora ensinar-lhes?? Assim, fazendo eles os passos, mesmo que a qualidade fosse muito inferior, tinham mais orgulho naquilo que estavam a fazer, sentiriam protagonismo, poderiam dizer “fomos nós que fizemos tudo sozinhos). Foi com esta opinião que questionei a Olga do porquê da insistência para vir o formador, ao qual ela responde que a ideia era juntar o útil ao agradável, digamos, já que esse tal rapaz que seria o formador também é derivado dos serviços sociais e está agora a tentar “encaminhar-se”, como sabe muito de dança queriam dar uma oportunidade a esse jovem. Isto claro, eram sugestões da GATS que os educadores deveriam tentar cumprir. Acho que muitas vezes, o que parece estar à frente destes “casais” e serviços assim mais institucionais é a vontade dos gestores e não das crianças e jovens, algo que considero errado.

Ao início da noite fui (juntamente com a Ana) a um workshop de não-violência. Tinham-me entregue o panfleto de divulgação à saída do metro no dia anterior e como conversei um pouco com a rapariga, fiquei curiosa (já que o tema por si só me interessa). O engraçado é que só eu, a Ana e outro rapaz é que estávamos a participar. Esse e o “formador” eram moçambicanos, então praticamente metade do workshop foi em português, se bem que eu insistia para ele falar em castelhano já que ele estavam mais habituado e nós precisávamos de aprender.

O workshop fazia parte de um conjunto de workshops sobre o tema não-violência e este era o 2º. O formador falou sobre uma regra de outro que deveríamos ter sempre presente: tratar os outros como gostasses que te tratassem a ti. Soou-me um pouco religioso, que não gosto, mas tentei ver as coisas por outro lado. Seguiu salientando que há vários tipos de violência: violência económica, violência religiosa, violência racial, violência psicológica (impõe formas culturais, por ex.), mas todas elas partem das relações humanas. Então a relação consigo mesmo é muito importante trabalhar.

Foi assim que introduziu, com uma voz calma e segura, o tema das virtudes, que era o tema que estava preparado para hoje. Pediu-nos para escrevermos num papel virtudes, qualidades, pontos fortes de nós mesmos. Lembrei-me das análises SWOT! Depois tivemos que escolher 4 das virtudes que nos identifiquem melhor e escrever sobre elas. Aquando finalizado, falamos sobre as nossas virtudes, coisa que para mim foi mais fácil do que o primeiro exercício, pois com uma explicação tudo parece mais perceptível.

A seguir a proposta foi que escrevêssemos virtudes de duas pessoas que conhecêssemos bem, como amigos e/ou familiares. Igualmente comentamos, embora não tivéssemos lido os nossos apontamentos. Foi engraçado que para todos, uma das escolhas foi a mãe. Quase a finalizar, eu escrevi qualidades da Ana e vice-versa, e o formador do outro rapaz, e trocamos “conclusões” com o nosso parceiro.

Para terminar, falamos sobre qual das tarefas foi a mais difícil; se é mais fácil encontrar virtudes em nós mesmos ou nas outras pessoas; quais são as dificuldades que encontramos; se costumamos dizer aos nossos amigos e familiares as suas virtudes... Gostei especialmente deste último ponto, já que ele sugeriu que há várias coisas que se podem fazer como dizer a pelo menos 5 amigos diferentes durante uma semana as suas virtudes; ou mesmo a pessoas que não conhecemos, mas que cruzamos com elas e trocamos palavras por breves momentos quando compramos algo numa loja, pedimos ajuda numa rua...

Respondendo à primeira parte da conversa, para mim o mais difícil foi escrever sobre mim, já sobre os outros era muito mais fácil. Sobre mim tenho dificuldade em dizer as coisas da forma como quero, é como se me conhecesse muito bem e então tudo parece-se demasiado complexo para passar para o papel... Com os outros consigo ser mais objectiva. Tentei até fazer o exercício pensado em pontos fracos e também é fácil. Isto claro, se tiver a pensar em familiares e amigos que conheço bem; embora tenha na mesma essa necessidade quase irritante de usar mais palavras que o próprio adjectivo para explicar melhor a tal qualidade ou defeito.

No fim, e já não sei como lá chegamos, acabamos por discutir diferenças entre humanismo e ecocentrismo, já que eles pertencem ao Movimento Humanista que defende o Humanismo que diz que o Homem tem de estar no centro de todas as preocupações. Ora eu dizia-lhes que achava essa posição antropocentrica, muito de superioridade do Homem em relação à Natureza e todas as outras formas de vida, sugerindo que talvez o ecocentrismo fosse uma melhor opção já que vê as coisas de uma forma mais holística, em que tudo está interligado e tem valor.


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21 de Março - terça-feira

Depois de um dia passado na biblioteca a pesquisar e a requisitar livros sobre o movimento okupa e movimentos sociais em Barcelona, fui à reunião semanal dos Ecologistas em Acção. Na sala só estava uma rapariga e um senhor. Fiz as apresentações necessárias e a rapariga disse-me que não estavam a ter reunião, porque um dos grupos da associação ía usar a sala mas que afinal estavam noutra e se eu queria ir lá ver. Ainda chegamos a espreitar à porta, estavam a ver umas projecções sobre energia e mas a falar em catalão. Mas por isso, porque eram muitos e porque ninguém me chamou, não quis entrar. Fiquei antes a falar com a rapariga sobre a associação na sala de reuniões. É uma espécie de fundação, pois reúne várias associações como associações de direitos dos animais, associações locais de ambiente... Trabalham por grupos de trabalho e fiquei a saber que em Barcelona o grupo mais activo e que costuma reunir semanalmente é o grupo da mobilidade e transportes. Deu-me os contactos tanto deste grupo como do grupo de consumo que ás vezes também faz umas coisas.

À noite fui ter com uma rapariga e um rapaz do Hospitality Club que estavam aqui de passagem e me tinha contactado. Eram austríacos e estavam a gostar muito de Barcelona. Ela ia de volta para Barcelona no dia a seguir pois estava em aulas, ele ia continuar a viagem para Marrocos onde ía ficar um mês a viajar. É de facto um facto como as pessoas de países mais a norte da Europa (assim como pessoas dos Estados Unidos e Canadá) viajam mais que nós do Sul. Não me sai da cabeça o que um foto-jornalista que esteve na ESEC a dar uma conferência sobre a sua volta ao Mundo: “em toda a minha viagem encontrei cerca de 30 dinamarqueses que estavam a viajar grandes distâncias, portugueses apenas 1”, algo deste género. Os portugueses, e também espanhóis, italianos e gregos, são mais agarrados à família e à terra Natal, se antes fomos uns aventureiros e ávidos de descobrir mais terra, hoje somos agarrados a esta e não nos queremos afastar dela por muito tempo. Um factor que também contribui é o económico, não temos em geral tanto dinheiro como os outros países que referi.

Lembro-me também de na nossa casa em Coimbra a maior parte das pessoas que recebemos tarem a fazer uma espécie de pausa no percurso académico. Ou seja, depois do secundário tiravam um ano para viajar, ou interrompiam a universidade. O famoso “taking a gap” americano e a ser cada vez mais adoptado noutros países. Eu cá acho uma boa ideia, viajar, foi das coisas com que mais aprendi. O não passado na Finlândia e o facto de ter conhecido tantos países e pessoas diferentes nesses meses enriqueceu-me muitíssimo. Começo a precisar de repetir.



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20 de Março - segunda-feira

Hoje saí de casa bem cedo.

Comecei por visitar o CIAJ Centro de Informação e Assessoramento para Jovens (www.bcn.es/ciaj). É o serviço oficial de informação aos jovens da câmara de Barcelona. Outro dos serviços é o de associativismo e intercâmbios juvenis que podemos encontrar no Casal d’Associacions Juvenils de Barcelona. A página www.jovebcn.net é a página oficial da câmara de Barcelona dedicada à juventude.

O espaço CIAJ tinha muita informação disponível como jornais e revistas diversas, cartazes, panfletos de diversos centros cívicos e associações, um espaço de consulta na Internet, várias mesas e um grande mapa com os serviços de apoio a jovens existentes na cidade. Várias pessoas dirigiam-se ao “balcão de atendimento” e depois umas vi-as dirigirem-se para as mesas com um livro a consultar, ou a marcar hora na Internet, ou a serem atendidas durante mais tempo. Situações que explicavam o serviço do CIAJ de “assessorament” personalizado e de auto-consulta. Os temas são vários: alugar e comprar casa; procurar emprego; encontrar na cidade o curso e/ou oficina que procuras; informação sobre formação especifica; informação sobre apresentação de trabalhos e projectos pessoais; indicação de entidades que dispõem de serviços de apoio ao imigrante; divulgação de programas de intercâmbio estudantil; “viatgeteca” (uma espécie de biblioteca super especializada em viagens, com guias, mapas, videos, revistas...); informação sobre associações, ong’s, voluntariado; informação sobre saúde; divulgação dos centros sociais da cidade e informação sobre tempo livre e cultura em Barcelona.

Fiquei com a ideia que é sobretudo um serviço de reencaminhamento. Durante o pouco tempo que lá estive, estiveram também cerca de 5 pessoas, mais 5 na sala de Internet, e outras 3 de passagem, o que demonstra que é um espaço com uma boa frequência de pessoas. Talvez porque serviços de reencaminhamento e onde temos meios e recursos disponíveis para procurar aquilo que precisamos e queremos são sempre bastante úteis. Ainda para mais numa cidade com tanta oferta.

Reparei que ainda não disse o que fui lá fazer: saber alguns endereços de lojas de 2ª mão e aproveite para ver nas páginas amarelas onde ficavam vários endereços de algumas associações que procurava. Acabei por não obter o que queria nas lojas de 2ª mão. Primeiro porque encontrei poucas, e depois porque ou pareciam lojas de estilistas com peças caríssimas, ou porque estavam fechadas. Apenas queria ver bicicletas em 2ª mão e um casaco corta-vento (porque aqui em Barcelona há dias que dá uns chuviscos valentes). Em 2ª mão porque sou uma consumidora responsável e prefiro reutilizar do que estar a contribuir para mais um desgaste desnecessário de matérias-primas ou quiçá contribuir para o trabalho infantil, o trabalho precário e até mesmo para a exploração de povos.

Mesmo ao lado vi algo que me despertou a atenção: “Raval Text” era o nome do estabelecimento, através do vidro consegui avisar algumas mulheres a trabalhar em máquinas de costura e li na janela “empresa de inserção laboral”. Como vizinha estava a loja de roupa de 2ª mão que procurava, mas que estava fechada. Através do panfleto fiquei a perceber que a loja faz parte de um programa chamado “Roupa Amiga” (www.robaamiga.net) que através de vários contentores instalados na Catalunha recolhem roupas em 2ª mão. Este projecto é da Fundação “Um só Mundo” (www.unsolmon.org) da Obra Social da (www.caixacatalunya.es/obrasocial) Caixa Catalunha (que por sua vez é um banco). Juntamente com a Raval Text que arranja a roupa, abriram a Loja “Moda Amiga”. Assim, ao mesmo tempo que contribuímos para a inserção laboral de pessoas em situação de risco de exclusão, estamos a consumir responsável e ecologicamente.

Por falar em consumo responsável, fui logo de seguida a uma associação, a SETEM (www.setem.org/catalunya), ONG de solidarieadade internacional nascida em Barcelona em 1968, membro da Federação SETEM e da Federação Catalã de ONG’S para o Desenvolvimento. Têm uma loja de Comércio Justo onde comprei alguns livros e apercebi-me que um deles (“Guia para o Consumo Responsável de Roupa”) pode ser muito útil para a campanha eco-consumidor do GAIA, da qual sou coordenadora, dado que um dos temas trimestrais da campanha foi a indústria têxtil. Assim, perguntei se haveria a possibilidade de o GAIA traduzir o guia para português e distribui-lo em Portugal. Assim, acabei por falar com o coordenador da campanha “Roupa Limpa”, onde está inserido o guia, que, muito simpático, me disse que não haveria qualquer problema, e que o GAIA até podia fazer parte dessa rede (“roupa limpa”). Vou falar com o resto do pessoal do GAIA e propor que eu faça a tradução e mesmo a ingressão na rede.


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19 de Março – domingo



Estava entusiasmadissima para esta calçotada, e com razão. Nem dormi para não correr o risco de adormecer.

A ideia desta calçotada era dar a conhecer ao público a horticultura em varandas e terraços e, de certa forma, promover a agricultura biológica em meio urbano. Assim, podemos encontrar várias oficinas práticas, como oficina de horticultura urbana e reutilização de plantas com vasos reutilizados, oficina de preparação do molho dos calçots, oficinas para crianças (de desenho, e de fazer aqueles bonecos feitos com uma meia e com serrim dentro onde em cima se colocam umas sementes de relva que se vão transformar no “cabelo”) e oficina de cozinha solar (que não chegamos a ver pois não havia sol suficiente). Havia um painel de um ecoclube de uma escola, expondo os seus trabalhos.

Segundo uma noticia no jornal estiveram presentes cerca de 240 pessoas, muitas das quais ligadas de alguma maneira à horticultura urbana.

Para mim foi bastante proveitoso dado que aprendi a reutilizar garrafas de água de plástico para plantar alfaces e outros legumes de uma maneira eficiente e prática, como podem ver na imagem. A tirinha laranja é apenas um pedaço de filtro que vai absorvendo a água e dando de beber à terra, com uma autonomia admirável.

Foi pena foi termos vindo embora antes de começar o almoço, porque a Marlene estava cansada de esperar e a mim não me apetecia estar por ali sozinha.

A actividade foi organizada pela associação “Lluïsos de Gràcia” pela Fundação Terra e pelo projecto Horturbà.

A associação sem fins lucrativos “Lluïsos de Gràcia” (www.lluisosdegracia.org), tem um âmbito sócio-cultural e desportivo, cuja missão é a formação das crianças, dos jovens e dos adultos no seu tempo livre. Segundo a senhora que nos atendeu quando lá fomos pela primeira vez, é uma associação já com mais de 150 anos e por isso têm bastante prestigio, muitos sócios e muitos apoios e assim mantêm o espaço enorme que tivemos a oportunidade de ver.

Embora começassem com actividades de carácter religioso e espiritual, agora têm um âmbito muito mais abrangente, realizando exposições diversas, oficinas e cursos, aulas de catalão, um serviço estilo “ATL”, festas, cujo algumas são organizadas em colaboração com outras entidades. É também no espaço da “Lluïsos” que vários colectivos e associações encontram infra-estruturas adequadas para realizar eventos. Com todas estas actividades e eventos, tentam atingir os seus objectivos principais: desenvolvimento dos valores humanos de cada um (como a solidariedade, a tolerância, o civismo e o respeito), fomentar o crescimento pessoal e colectivo e o aprofundamento da fé.

É de salientar que foi das primeiras associações que vi com um horário tão extenso (durante a semana fecha à meia noite; à sexta e sábado à uma da manhã, por ex.). É um factor bastante positivo dado que assim a população local tem um espaço colectivo aberto bastante tempo e há assim mais oportunidades para aqueles que trabalham até tarde ou têm um horário menos comum poderem também usufruir de cultura e lazer.

Sobre a associação Terra já falei aquando da festa da água.

Quanto ao “Hortubà” (http://www.horturba.com), ou em português “horta-urbana”, é um projecto que me atrai muito. Se as pessoas não vão ao campo, há que trazer o campo à cidade. Nada melhor que os terraços, as varandas, ou as pequenas hortas comunitárias. Já dizia o Bill Molisson que a permacultura está mesmo debaixo do nosso nariz. Podemos substituir permacultura (que explicarei noutra oportunidade o que significa) por agricultura e entendemos que o que Molisson quer dizer é que é mais fácil do que parece fazer aquilo que à partida parece ser só possível num grande pedaço de terra.

Numa altura em que cada vez se fala mais em agricultura biológica, em consumo local, em vegetarianismo, em economia social, ou dito de outra forma, fala-se também em poluição, transgénicos, gripes das aves, materialismo, consumo insustentável, nada melhor que nós próprios cultivarmos os nossos alimentos. E não é a alimentação parte essencial do nosso dia-a-dia? Devemos então entender tudo o que esta implica e o que está por trás dos nossos actos quotidianos, dando a devida atenção a algo tão inevitável como comer. Daqui nasce a necessidade de cultivar para obter essa alimentação mais responsável e consumo ecológico.

Se antes todas as pessoas tinham um quintal em casa e a agricultura era a base de subsistência de muitas famílias, hoje já muitas vivem em grandes cidades e sem quintal. No entanto, para consumo próprio não é necessário grande espaço, e assim surgem as hortas urbanas, que estão pensadas para produzir pequenas quantidades de verduras variadas e assim, através de um cultivo biológico, sem utilização de fertilizantes químicos e insecticidas, colmatar tudo o que foi dito anteriormente.


Quando a esta ideia se junta o aspecto comunitário, ainda melhor, já que em grupo se aprende mais, partilham-se ideias e enriquecesse o resultado final. No Porto há um projecto de hortas comunitárias em bairros sociais. Há também um projecto da Lipor chamado “Horta à Porta” que disponibilizada talhões de terra às pessoas e um pequeno curso de agricultura biológica para elas levarem avante o cultivo do pequeno pedaço que lhes calhou e produzirem assim para auto-consumo.



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17 de Março - sexta-feira


Hoje a tarde foi passada na biblioteca a pesquisar informação.


À noite saí com a Marlene, com as outras portuguesas, com o J. (o tal meu amigo catalão), com um amigo dele e com umas raparigas lituanas do Hospitality Club que estavam
hospedadas na casa dele.

Primeiro fomos ver o que se passava na Rambla do Raval por causa do Botellón. É incrível como os meios de comunicação movem massas. Em Sevilha uma mensagem convocando um “Macrobotellón” para celebrar o fim dos exames correu rapidamente e foi tanta a gente que apareceu no local que a polícia não conseguiu impedir a festa. Depois do “alarido” nos meios de comunicação (a minha mãe disse-me que viu em Portugal na Tv e tudo!), Sevilha convoca outro Macrobotellón para o dia de hoje. Assim também o faz Granada e outras cidades espanholas, e como não podia deixar de ser, Barcelona.

Os objectivos são ao mesmo tempo criticar o preço absurdo das bebidas nos bares (e assim levar as bebidas de casa) e criticar a nova lei de convivência cidadã (que entre outras coisas, como urinar na rua e jogar à bola, proíbe beber na rua em grupo).

Fomos um grupo de cerca de 7 pessoas, e todas as entradas da Rambla do Raval estavam barradas pela polícia, que verificava se não levávamos bebidas connosco. Na Rambla estava muita confusão, muita gente já bêbada, outros a tocar música, e uma personagem completamente bêbada a queimar a sua própria roupa. A policia aproxima-se, alguns tiram objectos não identificados a essa, que também não tem a fama de ser muito pacífica. Aliás, acho que a polícia da Catalunha tem fama de ser das mais repressivas. E como nestas coisas há sempre aqueles que se exaltam e que armam confusão, que muitas vezes acaba mal, lá nos fomos afastando.

Fomos a uns bares engraçados e depois à discoteca do outro fim de semana, onde o português que lá trabalha nos tinha colocado na guest list (e assim não pagamos, já que sair à noite em Barcelona fica caro).

Pelo caminho, por volta das 3h da manhã, nas Ramblas, a confusão da noite do Botellón ainda continuava... Baldes do lixo deitados, entradas do metro destruídas, vidros de estabelecimentos partidos... Mesmo no meio do passeio das Ramblas, em frente à esquadra da policia, sentia-se gás lacrimogéneo (penso eu) e via-se um cordão de policias com o escudo bem visível...


Acabamos a noite já de manhã, na amena cavaqueira pelas ruas de Barcelona com um francês, um rapaz de Maiorca e um catalão. Momento bastante engraçado! O rapaz francês era muito simpático, o catalão era guia turístico e até nos deu o número dele, e o outro parecia um desenho animado, fazia umas expressões tão engraçadas que até lhe aconselhei a fazer teatro!

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quinta-feira, abril 27, 2006

18 de Março – sábado



Hoje não podia ter faltado à manifestação contra a guerra. Vou sempre, basicamente, porque sou contra todas as guerras. E isso já constitui motivo mais que suficiente para marcar presença, para fazer número, para que em vés de 351, sejamos 352 (ou mais, dependendo daqueles que consigo influenciar a ir também). Pode parecer que não faz qualquer diferença, mas se todos pensamos assim, ninguém participaria em manifestações. E bom relembrar que esta participação é uma forma de democracia participativa, que muitas vezes remitimos apenas para o voto. Eu cá ás vezes prefiro ser uma má cidadã e não votar, mas participar em todas as outras formas de cidadania: petições, boicote, voluntariado, associativismo...
Falando agora desta manifestação em especifico, foi convocada a nível internacional para marcar o inicio da guerra contra o Iraque 3 anos atrás. Para relembrar o inicio de uma guerra que ainda não acabou. E para dizer basta também a outras guerras como a ocupação da Palestina.
Na Catalunha foi convocada pela Plataforma “Aturem la Guerra” (“parem a guerra” – www.aturemlaguerra.org) pois o povo iraquiano continua a lutar pela libertação do seu país das tropas americanas e o governo da Catalunha, foi um dos que votou na ONU a favor da ocupação do Iraque. Por isso neste dia reuniram-se cerca de 5000 pessoas num percurso cheio de bandeiras, faixas e tambores pela cidade de Barcelona.
Em relação a Portugal, também existiram manifestações pela paz neste dia no Porto e em Lisboa. No Porto, dia 20 de Março, o manifesto continua, com uma espécie de encontro de activistas pela paz que vão fazer uma acção de sensibilização. À noite, há a projecção de um filme alusivo à temática da Guerra e Militarismo. Tudo organizado pela rede RISEUP (http://riseupfest.blogspot.com/), que passo a explicar, nasceu pela mão do GAIA quando sugerimos um ciclo de filmes sobre globalização e ambiente. Mas que cresceu com a inclusão de outras organizações (Aacilus, Forum Activix, GAIA, SOS Racismo) e pessoas a titulo individual que também organizaram o ciclo de video e começam agora a pensar em mais acções em conjunto, sempre na mirada da crítica ao capitalismo e à globalização neoliberal.

Também com a Ana e a Helena fomos à festa da água no Arco do Triunfo, festa organizada pela câmara de Barcelona.
A Associação Intermón Oxfam (http://www.intermonoxfam.org/) também foi muito simpática. Começou a falar connosco em catalão e eu estava a perceber tudo. Como me parecia, a associação pertence a uma confederação global de 12 ONG chamada Oxfam Internacional. Em Espanha nasceu em 1997, tendo já vários grupos espalhados pelo país, onde o de Barcelona é um dos mais fortes, com imensos núcleos locais na região autónoma de Catalunha. É uma associação de desenvolvimento e cooperação com os países do Sul. Sendo assim, têm vários projectos de desenvolvimento espalhados, projectos de ajuda humanitária e prevenção de emergências, de sensibilização e mobilização social e comércio justo.
É de notar que todas as associações ali presentes, mesmo as com um campo de acção bastante diversificado, estavam ali para mostrar as suas actividades em relação à água.
Admiravelmente a Greenpeace (www.greenpeace.es) também estava presente, disse que lhes enviei um e-mail a perguntar como podia colaborar com a associação e que eles não me tinham respondido. Expliquei que era de Portugal e que aí participava numa associação ambiental, que estava em Espanha a estagiar e que gostava de participar activamente nalguma associação ecológica enquanto cá estivesse, embora não tivesse muitos conhecimentos técnicos na área do ambiente e não falasse catalão. Disseram que podia participar, para aparecer numa das reuniões que se realizam (apenas) uma vez por mês e que me enviavam um e-mail com mais pormenores.
Havia também no recinto uma associação que já tinha ouvido falar pois estava na organização da Calçotada Urbana. Chamava-se Fundação Terra (http://www.terra.org/) e em resposta às minhas explicações e pedido, disseram que eram uma associação mais académica e técnica e que se calhar os meus conhecimentos não eram importantes e que era melhor falar com a Ecologistas em Acção. Nem sei se foram brutos ou eficientes!
E claro que falei com a Associação Ecologista em Acção, onde frisei que já tinha ido à sede e enviado e-mails e sempre sem conseguir uma resposta. Foram muito simpáticos, disseram para aparecer numa das reuniões na sede pois as pessoas que estavam na banca eram apenas do grupo de trabalho da água. Ficaram com o meu e-mail para me contactarem e fiquei especialmente contente quando em resposta ao meu relembrar que não sabia falar muito bem castelhano, a rapariga disse algo como “mas estás a falar, caramba!”.
Quanto às oficinas presentes, eram várias, mas desta vez, ao contrário da Festa do Consumo Responsável, estas não eram só levadas a cabo pela câmara mas também por diferentes associações. Havia uma oficina “as gotas do mundo”, na qual uma rapariga me explicou que apenas as crianças tinham de ligar a palavra água em diferentes línguas ao país que correspondia. Não achei lá muito didáctico.
Havia também as oficinas “alertar para as inundações”, “faz um peixe com a tua mão”, “chapa solidária”, “o jogo da água limpa”, “ajuda-me a transportar a água” (caminho pequeno, tabuleta com quilómetros, transportar um garrafão grande de plástico), “a poça das grandes ideias” (com ideias escritas ou desenhadas nas gotas de água), “o rio que tu pintas”, “os sentidos da água” (ouvir, provar...), “os segredos do rio”...
Vim embora contente com um crachá a dizer “a água é de todos” com uma gotinha muito mal desenhada e pintada por mim.

Por volta da hora do jantar fomos todos, juntamente com um casal catalã amigo do J. petiscar a um bar (o tal Antic Teatre) onde comi um “panecito releno” (escrevo o nome para pesquisar pois era muito bom) e descobrimos mais um português (rapaz que lá trabalhava)! Esta cidade tem mesmo bastantes portugueses; não é que tenha encontrado muito, mas é também o que toda a gente catalã que conheço afirma.
Íamos todos ver um concerto integrado na programação da festa da água. Era um grupo de flamenco fusão (“Gertrudes”), aconselhado pelos catalãs que nos acompanhavam, mas estava a chover e portanto não houve concerto para ninguém!
Lá decidimos ir conviver para uns bares mas desta vez para a freguesia da Grácia. E o bairro tem o mesmo encanto que de dia, com inúmeros bares tranquilos. Parece mais uma zona de sair à noite para conversar e não para dançar! Bastante agradável.
Eu, a Ana e Helena viemos a pé para o centro da cidade, já que o metro aqui fecha às 2h ao fim de semana e só volta a abrir às 5h. Gosto sempre de ver cidades à noite, parece que as coisas são diferentes, repara-se melhor nos edifícios e sua arquitectura...
Aquando no centro, nas Ramblas (a artéria mais movimentada da cidade em qualquer hora do dia), estávamos com fome e decidimos procurar algum estabelecimento aberto. Ora nem pequenos restaurantes, nem mini-mercados, nada estava aberto. Fiquei super admirado porque eram 3h30m e nada estava aberto numa cidade com tanta gente e com uma noite tão concorrida como Barcelona.

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