UtupiAR: é urgente!

sexta-feira, abril 28, 2006

22 de Março - quarta-feira


Hoje fomos visitar o outro “casal de jovens” que a GATS gere. Este também fica fora da cidade, em Canovelas e desta vez o tempo demora a passar pois é quase uma hora de comboio.

No “casal” trabalha a Olga, jovem educadora social (embora esteja contratada como tal, o curso que frequentou foi o de pedagogia social) e o Santi, monitor. Este, ainda mais jovem, está mais em contacto directo com os jovens, enquanto que a Olga está mais na parte de organização de actividades e de atendimento pessoal aos jovens.

O “casal” funciona todos os dias das 17h30 às 19h30 e a frequências dos jovens é incerto. Estes rondam os 12 e 16 anos e são jovens “problemáticos”, isto é, reencaminhados para lá através dos Serviços Sociais que detectaram (em conjunto com a Escola que frequentam) histórias de vida complicadas (pobreza, alcoolismo, violência doméstica...) ou apenas jovens com necessidades muito vincadas (como necessidade de atenção, de aprendizagem...). Os adolescentes derivados dos Serviços Sociais são obrigados a frequentar o casal um x número de horas por semana, enquanto os outros jovens também o têm de frequentar um x número de horas mas porque assinaram voluntariamente uma espécie de “compromisso” no inicio do ano de como queriam frequentar o “casal” e o fariam determinados dias. Desta forma não tiram lugar a outros jovens que também querem participar, porque o “casal” tem de ter um limitado número de participantes.

Nas poucas horas que lá estivemos podemos comprovar que os jovens são de facto bastante irrequietos, parecem mais novos do que o que são, nada simpáticos, e há uns que são bastante agressivos. Lembro-me de uma rapariga estar sempre a mandar murros à parede e a enervar-se facilmente.

Prevejo que a nossa comunicação com eles vai ser um pouco difícil. E é engraçado que se não soubesse a história de vida de alguns deles perdia logo a vontade de fazer algo naquele local. Muitas vezes o que motiva é o facto de sabermos que estas crianças e jovens não são assim por vontade própria, digamos, mas porque várias condicionantes e histórias passadas e sua situação actual familiar influencia bastante a sua personalidade e maneira de ser. É como se não tivessem culpa da baixa auto-estima que têm, da agressividade que demonstram, da antipatia que são donos... Precisam mesmo de acompanhamento antes que seja tarde demais para reduzir esses pontos fracos.

Também têm pontos fortes, claro, têm um forte sentido de grupo e unem-se para atingir determinado objectivo, por exemplo. Gostei muito de os ver defender o seu ponto de vista em relação a um assunto que passo a explicar: alguns deles estavam a ensaiar uma dança para actuarem no dia de Sant Jordi numa festa que a vila vai realizar; a Olga propôs que “contratassem” um jovem para lhes ensinar uns passos para a dança, os jovens não queriam e diziam afincadamente que esse jovem (que pelos vistos já tinha dado um workshop de dança no “casal”) não dança o mesmo tipo de música que eles, e que não gostam dele e que querem fazer os passos por eles próprios. Todos do grupo da dança falavam e mesmo uma que não dançava enfatizava que concordava. Os argumentos que davam pareciam-me bastante inteligentes. E de facto, sou a da mesma opinião, porque haveria de vir uma pessoa de fora ensinar-lhes?? Assim, fazendo eles os passos, mesmo que a qualidade fosse muito inferior, tinham mais orgulho naquilo que estavam a fazer, sentiriam protagonismo, poderiam dizer “fomos nós que fizemos tudo sozinhos). Foi com esta opinião que questionei a Olga do porquê da insistência para vir o formador, ao qual ela responde que a ideia era juntar o útil ao agradável, digamos, já que esse tal rapaz que seria o formador também é derivado dos serviços sociais e está agora a tentar “encaminhar-se”, como sabe muito de dança queriam dar uma oportunidade a esse jovem. Isto claro, eram sugestões da GATS que os educadores deveriam tentar cumprir. Acho que muitas vezes, o que parece estar à frente destes “casais” e serviços assim mais institucionais é a vontade dos gestores e não das crianças e jovens, algo que considero errado.

Ao início da noite fui (juntamente com a Ana) a um workshop de não-violência. Tinham-me entregue o panfleto de divulgação à saída do metro no dia anterior e como conversei um pouco com a rapariga, fiquei curiosa (já que o tema por si só me interessa). O engraçado é que só eu, a Ana e outro rapaz é que estávamos a participar. Esse e o “formador” eram moçambicanos, então praticamente metade do workshop foi em português, se bem que eu insistia para ele falar em castelhano já que ele estavam mais habituado e nós precisávamos de aprender.

O workshop fazia parte de um conjunto de workshops sobre o tema não-violência e este era o 2º. O formador falou sobre uma regra de outro que deveríamos ter sempre presente: tratar os outros como gostasses que te tratassem a ti. Soou-me um pouco religioso, que não gosto, mas tentei ver as coisas por outro lado. Seguiu salientando que há vários tipos de violência: violência económica, violência religiosa, violência racial, violência psicológica (impõe formas culturais, por ex.), mas todas elas partem das relações humanas. Então a relação consigo mesmo é muito importante trabalhar.

Foi assim que introduziu, com uma voz calma e segura, o tema das virtudes, que era o tema que estava preparado para hoje. Pediu-nos para escrevermos num papel virtudes, qualidades, pontos fortes de nós mesmos. Lembrei-me das análises SWOT! Depois tivemos que escolher 4 das virtudes que nos identifiquem melhor e escrever sobre elas. Aquando finalizado, falamos sobre as nossas virtudes, coisa que para mim foi mais fácil do que o primeiro exercício, pois com uma explicação tudo parece mais perceptível.

A seguir a proposta foi que escrevêssemos virtudes de duas pessoas que conhecêssemos bem, como amigos e/ou familiares. Igualmente comentamos, embora não tivéssemos lido os nossos apontamentos. Foi engraçado que para todos, uma das escolhas foi a mãe. Quase a finalizar, eu escrevi qualidades da Ana e vice-versa, e o formador do outro rapaz, e trocamos “conclusões” com o nosso parceiro.

Para terminar, falamos sobre qual das tarefas foi a mais difícil; se é mais fácil encontrar virtudes em nós mesmos ou nas outras pessoas; quais são as dificuldades que encontramos; se costumamos dizer aos nossos amigos e familiares as suas virtudes... Gostei especialmente deste último ponto, já que ele sugeriu que há várias coisas que se podem fazer como dizer a pelo menos 5 amigos diferentes durante uma semana as suas virtudes; ou mesmo a pessoas que não conhecemos, mas que cruzamos com elas e trocamos palavras por breves momentos quando compramos algo numa loja, pedimos ajuda numa rua...

Respondendo à primeira parte da conversa, para mim o mais difícil foi escrever sobre mim, já sobre os outros era muito mais fácil. Sobre mim tenho dificuldade em dizer as coisas da forma como quero, é como se me conhecesse muito bem e então tudo parece-se demasiado complexo para passar para o papel... Com os outros consigo ser mais objectiva. Tentei até fazer o exercício pensado em pontos fracos e também é fácil. Isto claro, se tiver a pensar em familiares e amigos que conheço bem; embora tenha na mesma essa necessidade quase irritante de usar mais palavras que o próprio adjectivo para explicar melhor a tal qualidade ou defeito.

No fim, e já não sei como lá chegamos, acabamos por discutir diferenças entre humanismo e ecocentrismo, já que eles pertencem ao Movimento Humanista que defende o Humanismo que diz que o Homem tem de estar no centro de todas as preocupações. Ora eu dizia-lhes que achava essa posição antropocentrica, muito de superioridade do Homem em relação à Natureza e todas as outras formas de vida, sugerindo que talvez o ecocentrismo fosse uma melhor opção já que vê as coisas de uma forma mais holística, em que tudo está interligado e tem valor.


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1 Comments:

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6:15 da manhã

 

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