20 de Fevereiro – segunda-feira
Saímos em direcção à freguesia da Horta, a 30 minutos de metro do centro de Barcelona, mas acabamos por ir parar à freguesia de Nous Barris. Sabíamos que pelo menos na área, encontraríamos um Centro Cívico e um Ateneu Popular. O Centro Civico Can Basté estava fechado! Vamos lá ver se aprendemos de uma vez por todas que em Espanha muitos estabelecimentos fazem uma pausa das 12h às 16h! Fomos a uma pastelaria comprar pão e como as senhoras eram extremamente simpáticas aproveitamos para perguntar como se ia para o Ateneu Popular. No entanto, fomos foi parar a uma biblioteca.
Na zona de entrada da biblioteca, estivemos a paramos a ver panfletos e informação, da qual fui retirando vários endereços de centros cívicos e outras instituições na zona: Casal de Barri Prosperitat, Casal Jove Prosperitat, Casal Jove les Roquetes, Centre Civic Zona Nort, Centre de Recursos Pedagógicos, Centre Civic Torre Llobeta, Centre Civic Les Bosses e Centre Porta-Sóller.
Aproveitei para visitar o site do ateneu popular 9 barris www.noubarris.net/ateneu e entusiasmou-me, é que faz parte de uma rede chamada “Independent Culture Centres (www.teh.net) o que me leva a imaginar que deve ser um pouco diferente dos outros centros que temos visto até agora, pelo menos a nível de gestão, e assim aprender algo novo.
Com toda a informação recolhida e com o mapa na mão, fizemos uma espécie de percurso mental do que iríamos visitar.
Sempre a pé, lá encontramos o Casal de Barri Prosperitat (www.noubarris.net/cbarri). Ficava na praça Angel Pestana, onde suportes de jogos desenhados no chão (como um tabuleiro de damas/xadrez) e um moral onde se lia “Jocs na Praça” nos afirmavam que ali se jogavam diversos jogos. O Casal tinha um ar amigável devido talvez ao grafiti que ocupava uma das paredes exteriores e das grandes janelas que deixavam ver tudo para dentro. Pelo que percebemos, numa conversa rápida com uma das pessoas que se encontrava numa sala mais de trabalho (dado que a outra que vimos era um grande espaço com bar, estilo sala de convívio), o Casal é uma espécie de centro social do bairro, gerido pela própria associação de vizinhos/moradores, num espaço cedido pela câmara. Deram-nos um calendário muito fixe, com o mapa da freguesia na parte superior e com todos os meses preenchidos com várias actividades organizadas por diversas instituições da freguesia. Como os só um centro físico fazia parte do calendário, perguntei porque é que os outros não faziam e qual era a diferença entre os centros cívicos e aquele casal. O senhor explicou-nos que Nou Barris têm uma forte participação cidadã e que as pessoas gostam elas mesmas de organizar as coisas de forma independente e sem estarem conectados com a câmara. Os centros cívicos estão fortemente dependentes da câmara. E a associação que elaborou o calendário (Coordenadora Cultural de 9 Barris) lá achou que só queria colocar aquelas actividades organizadas mesmo pelas pessoas da comunidade e não por funcionários da câmara. Pelo menos, foi assim que interpretei.
Mais uma olhadela no placar com informação e tivemos conhecimento de um Festival Sopas do Mundo que se vai realizar no dia a seguir ao Carnaval lá na praça, com mais de 60 sopas de culturas diferentes; e de umas jornadas contra a guerra, a 25 de Fevereiro. À das sopas vamos de certeza! Eu cá também fiquei interessada nas jornadas, só que como devem ser em catalão, não vou perceber nada, portanto acho que me vou ficar pela manifestação contra a guerra dia 18.
O espaço que se seguia era o Casal de Jovens do Barri Prosperitat, mas encontrava-se fechado. Seguimos então para o Centro Cívico Via Falencia onde fomos muito bem recebidas por uma senhora que coordena um serviço de alguns centros que é uma espécie de ponto de apoio à Mulher. Para além desse serviço, neste centro podemos encontrar um Casal de Gent Grand (Centro de Dia para idosos) e uma vasta oferta formativa. Foi engraçado ver tanta gente idosa animada a conversar.
Por último visitamos o tão ansiado Ateneu Popular 9 barris (www.noubarris.net/ateneu). Foi difícil lá chegar e pelo caminho vimos pela 1ª vez Barcelona de um ponto bastante alto. A imagem: uma cidade grande, com algumas torres e um pouco cinzenta, com poucos espaços verde, onde o único que se destacava era o de Montjuic (a pequena montanha que foi palco da exposição universal de 1929 e dos jogos Olímpicos de 1992).
Avistamos uma tenda de circo e pensamos que deveria ser a Escola de Circo que faz parte do Ateneu. Descemos e confirmarmos. Mesmo ao lado estava o Ateneu, numa antiga fábrica de asfalto que em 1977 foi reconvertida através da luta dos moradores do bairro num centro cultural e social. Num dos armazéns havia um bar, uma sala ampla, um pequeno palco para actuações e uma exposição sobre a Mulher e a Prostituição intitulada “Trabalhador/a do sexo, e porque não?”, cuja associação organizadora (L.I.C.I.T. - “línia d’Investigació i cooperação com inmigrants treballladores del sexe) reivindica soluções pela parte dos políticos para esse grupo em vez de “marginalizações” e que os direitos humanos, laborais e civis das pessoas que trabalham no sector do sexo sejam reconhecidos. As fotos da exposição eram acompanhadas de uma pequena história de vida das mulheres, e lê-las lembrou-me como as pessoas, no geral, põe tudo no mesmo saco; lê-las relembrou-me que cada um de nós têm uma história para contar, um pensar que nem sempre é expressado, ou mesmo uma coisa tão simples como gostos diferentes, ou melhor, opinião própria; relembrou-me que vivemos em liberdade de expressão e de opinião, mas que se pensarmos bem, também conseguiríamos justificar que não o vivemos.
Mal entramos na zona do bar, fomos encontrar a tal senhora da Associação de Mulheres Vitimas de Violência que conhecemos no Centro Cívico Via Falência, que fomos encontrar ali sem contar! Estava numa espécie de reunião com outras mulheres, reconheceu-nos logo e até nos deu um panfleto que deveria ter acabado de “sair” daquela reunião, sobre umas jornadas sobre mulheres em 9 Barris a acontecer em Março.
O outro armazém tinha várias salas e no inicio uma secretaria onde perguntei algumas coisas sobre o Ateneu. Ficamos a saber que é gestionado por uma associação sem fins lucrativos (a “Associació Bidó de Nou Barris), e que a câmara apenas cedeu o espaço, e embora financiando-o, não tem peso nenhum no planeamento de actividades e gestão do centro. No panfleto de apresentação do Ateneu podemos ler que “o sistema de tomada de decisões é baseado num mecanismo aberto e participativo em que as diversas comissões de trabalho (comissão da participação, da programação, da “revista i junta directiva”) funcionam a partir de ideais de independência, responsabilidade, eficácia e transparência.” Tal como outros espaços, aqui também vários grupos e associações têm sede e organizam actividades, além de estar aberto a outras propostas e projectos. Assim, o Ateneu tem uma série de espaços disponíveis para emprestar ou alugar, como um Teatro/Sala polivalente com capacidade para 320 pessoas; espaço com bar e pequeno palco com espaço para 150 pessoas; 3 salas de reunião; uma oficina; um ginásio; um armazém de material e uma sala de ensaio para músicos.
Quanto à intervenção comunitária do Ateneu, segundo o panfleto, vemos que se regem por 3 eixos básicos: a participação cidadã e o voluntariado; incentivo, apoio e valorização de iniciativas surgidas dos grupos e movimentos associativos; dinamizar um espaço de debates, encontros e conferências à volta de novas propostas políticas e sociais.
Gostei bastante deste espaço, não só por me fazer lembrar do GAIA quanto à sua forma de organização e gestão, mas especialmente porque acho que deve fazer um “trabalho social” mais “cara à cara” e de construção de alternativas.
Como comentei com a Marlene, acho que este espaço social é um bom local para se fazer um estágio de animação, por tudo o que disse, pelo carácter construtivo e diverso das actividades que realizam e principalmente, porque seria um local “cívico” mas com uma organização e gestão diferente de outros que conhecemos (que a ESEC, neste caso) melhor como os Centros Cívicos.
Além do mais, é uma freguesia com bastantes equipamentos culturais e sociais. Para além destes que vimos ainda há o Casal Jove Prosperitat, Casal Jove les Roquetes e cerca de mais 4 centros cívicos nesta freguesia.
De noite dormimos na casa da Anna G., que foi nossa professora em Coimbra no 1º ano, mas é cá de Barcelona. Gostei muito de a rever! Está a trabalhar agora com uma Fundação que “ganhou” a coordenação dos “Casais de Gent Grand” (espécie de lares de idosos) da Câmara. E diz estar a gostar, dado que como faz parte da equipa de coordenação, anda sempre de centro cívico em centro cívico, nunca está num só local.
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