UtupiAR: é urgente!

quarta-feira, março 01, 2006

16 de Fevereiro - quinta-feira


Depois de uma ida a um banco para sabermos se era vantajoso abrir cá conta (chegamos à conclusão que não, depois de conversa com os meus pais ao telefone) e de um dia sem vermos nenhuma casa, lá fomos tornando o dia produtivo visitando alguns centros cívicos e espaços culturais.

Visitamos o Centro Cívico Can Deu, numa praça muito bonita, e num edifício também muito bonito! A senhora que estava na secretaria foi muito simpática connosco, respondeu prontamente às nossas dúvidas e curiosa, fazia também perguntas em relação a Portugal. Com esta visita fiquei a ter a certeza que a maioria dos centros cívicos especializam-se nalguma área, sendo a deste o Jazz, onde organizam todos os anos um grande festival de jazz. No momento, estava a decorrer uma exposição de pinturas feitas por crianças com paralisia cerebral. E tal como o centro de Gornal, este também é gerido pela câmara e pessoal contratado para o efeito.

Eu estava cada vez mais entusiasmada com os centros cívicos, ainda para mais este tinha um bar com esplanada no mesmo edifício, o que trás muita gente ao centro.

De mapa na mão, e panfletos noutra, identificamos um Centro Cultural ali perto e lá fomos. Chama-se Centro Cultural Les Corts (Les Corts é uma das freguesias de Barcelona) e também alberga o Casal de Jovens Les Corts. Enquanto a Marlene foi ver uma exposição, eu fiquei a falar um bocadinho com a senhora da secretaria. É engraçado como nos vamos entendendo com o nosso castelhano misturado com português. E onde às vezes saem umas palavras em inglês. É que quando o meu cérebro pensa “trocar de língua” vai logo para a inglesa, porque é a situação que até agora acontecia mais frequentemente!

O Casal está aberto das 18h ás 22h, que desde logo me chamou a atenção, pois deve fazer todo o sentido, dado que normalmente os jovens e jovens adultos têm aulas até tarde e è ao final da tarde e noite que têm mais tempo livre. Têm várias actividades, cursos e espaços abetos (de circo, de breakdance, de revelação fotográfica, todos eles gratuitos). Existe ainda um espaço para exposições, um sala para ensaios, e um ponto de informação juvenil.

Segundo o panfleto, “o Casal de Jovens Les Corts é um equipamento municipal dos jovens e para os jovens. O Casal pretende ser um espaço de participação, criando uma alternativa aos tempos livres de forma a dinamizarem o nosso bairro. Como o Casal quer ser um reflexo do que querem os jovens, é por isso que tu podes participar nas actividades que propomos ou propor novas.”. Só me resta entender melhor como é feita a gestão do Casal, se é feita pelos próprios jovens, ou pela câmara de uma forma pouco transparente e participativa (como acontece em Portugal com as Casas da Juventude, por ex., pelo menos a que conheço).

Ainda tivemos tempo de ir a uma Biblioteca na zona de Sants procurar mais anúncios.


E por fim, como combinado com a Ana Lúcia e Helena, às 18h30 lá estávamos nós em casa delas para irmos fazer uma visita a um Centro Cívico que elas marcaram. É bem no centro da cidade, na zona antiga, e claro, o Centro é num edifico antigo, mais propriamente num bonito convento que já foi utilizado por militares. Agora é o Centro Cívico Convent de Sant Agustí. Ficamos a saber que é normal esta recuperação de edifícios antigos ou inutilizados pela parte de câmara para equipamentos culturais.

Todos os Centros Cívicos são municipais, mas há uns que são gestionados pela própria câmara, há outras que são gestionados por empresas privadas. É o caso deste centro (ao contrário de outros que visitamos) que é gerido por uma empresa privada - Transit – que imaginamos ser parecida com a Tasca.

Uma senhora simpática mostrou-nos alguns espaços do centro: um salão nobre para exposições, uma sala polivalente usada por vários grupos e para diversas actividades, o “ATL” que não podemos visitar porque estavam lá as crianças, salas diversas para as oficinas e outras actividades... Lembro-me de ter perguntado se todos os centros dispões destes serviços estilo “ATL” e respondeu-me que depende das necessidades locais. Há centros cívicos que não têm nenhum espaço exclusivo para crianças, e há outros que até têm para idosos.

Este centro é especializado em Arte e Música, mais concretamente em música electrónica. No momento estava a decorrer um curso de DJ’S, mas era engraçado por era numa sala mas como a porta estava aberta e as janelas sem cortinas, até na rua dava para ver; então tinha assim um ar muito “transparente” e acolhedor. Outros cursos que realizam no momento são: break dance, teatro social e disfarces para os mais jovens a preços desde os 20 aos 30 euros por trimestre (metade do preço para menores de 18) e para os mais graúdos worskhops de tai-xtxi, flamenco, dança contemporânea, percussão, e muitos cursos em novas tecnologias, até 70 euros por trimestre.

O que mais me impressionou foi que o centro aloja 15 entidades fixas, que têm “sede” lá como a Vaca (uma associação de mulheres), a Ribermusica, a Facevalue, a Euskal Herria (do país Basco), os Dj’s Contra a Fome (que organizam espectáculos cujo lucro reverte para a luta contra a fome), a Barri Brosa, e também uma associação de músicos de rua e do metro. A senhora mostrou-nos um dossier com as actividades do centro no ano anterior, muitas das quais tinham sido organizadas por estes colectivos. Porém, sempre com o apoio do Centro Cívico que vai desde a cedência de um espaço com computadores e armário para cada associação, a apoio a nível de edição de panfletos e outro material de divulgação, a ajuda para fazer o planeamento de um projecto. Em troca, cada associação tem de dar algo à comunidade local, como por exemplo uma oficina ou uma formação. No entanto, o centro tem salas disponíveis para outras associações que não se encontram nele sediadas, e cujo acesso é fácil dado que basta apresentar a actividade e marcar um dia na agenda “global”, tudo gratuito e com pouca papelada envolvida. Eu estava especialmente interessada nesta parte, pois acho que em Portugal, tal sistema seria bastante interessante, dado que são muitas as associações sem sede e com apoios muito distanciados e muito burocráticos (como é o caso do PAAJ – Plano de Apoio às associações juvenis, do IPJ).

Outra actividade apoiada pelo Centro que todas achamos interessante foi os Tallers Oberts, que consiste em uma vez por ano as pessoas abrem as portas de suas casas para ensinar um oficio. No entanto, depois de lermos melhor num panfleto, percebemos que era algo mais para mostrar os “produtos” de cada um (na área do artesanato, principalmente) e que tinham de pagar para participar do que uma coisa mais “popular”, mais de troca de ofícios e saberes.

O dia foi cumprido, pois ainda fomos ao aeroporto buscar a mala perdida da Marlene que tinha sido encontrada! Chegamos a casa cansadas e um pouco desanimadas por não termos visto nenhuma casa. Ainda para mais, recebemos uma mensagem de uma das casas que vimos a dizer que outras pessoas que viram primeiro vão ficar com o quarto.



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