UtupiAR: é urgente!

segunda-feira, março 13, 2006

26 de Fevereiro – domingo



Ontem a festa correu bem, ao contrário do que os rapazes esperavam, não apareceram mais de 100 pessoas, e talvez por isso o chão não acabou preto nem com pessoas de rastos!

Estavam pessoas de vários cantos do Mundo: Chile, Brasil, Israel, Rússia, Estados Unidos, França, Itália (que estava bem representada, pois quase metade eram italianos), Polónia, Holanda, e claro, Espanha e Portugal. A maior parte das pessoas ou estava cá em Erasmus ou então eram imigrantes. Foi mais com estes que falei, sobre Barcelona, porque tinham decidido vir para cá, diferenças, línguas...

Hoje para além das limpezas à casa, ainda fomos ao Terceiro Festival de Sopas Do Mundo Mundial (traduzindo exactamente o título em catalão). Tendo Barcelona muitos emigrantes de todo o Mundo, é o palco ideal para um festival como este. Festa que também acontece noutras cidades do Mundo, havendo já uma plataforma internacional de cidades organizadores de festivais de sopas do Mundo.

“É a similaridade entre a diversidade dos nossos bairros e a das sopas que deu origem ao festival de sopas do mundo. A sopa é como uma desculpa para o convívio e como uma símbolo: todas as sopas têm na sua essência o mesmo apesar de únicas, todas diferentes apesar de semelhantes, como as pessoas”[1]

Penso que é mesmo uma boa ideia isto das sopas do Mundo. Acho que tem potencialidade para mobilizar os imigrantes. Em Portugal, lembro-me de algumas (poucas) associações (como o GAIA, a SOS Racismo, o Musas, o 555, e principalmente a Assembleia Libertária do Porto da qual fazem parte várias pessoas a titulo individual ou como representantes destes diversos grupos) terem-se juntado para organizar uma Festa Sem Fronteiras cuja um dos objectivos era juntar associações de imigrantes e de luta contra o racismo para organizarem actividades futuras conjuntas. No entanto, o esforço feito (contactos, telefonemas..) não teve grandes consequências já que na festa não apareceu nenhuma das associações de imigrantes contactadas (e só uma ou duas apareceram nas reuniões de organização) e tão pouco imigrantes apareceram. Falta algo que una as pessoas, algo mais palpável. Por mais estranho que possa parecer assim de repente, a sopa acho que é uma dessas coisas! Vou propor isso lá no Porto para a próxima Festa Sem Fronteiras!!

Quanto à festa de cá, eu cá acho é que o convívio foi muito pouco já que começou ás 13h30 e às 14h30 já estava tudo a arrumar e a ir embora!! E como só chegamos às 14h20, as sopas já tinham acabado. Mas havia o prazer de ouvir boa música dada por um grupo que actuava num palco no centro do pavilhão. E um pormenor interessante: a organização tinha um plano B! Estava a chover, portanto o evento em vez de decorrer numa praça decorria num pavilhão. E para demonstrar a boa organização, na praça, estavam afixadas folhas a dizer que o local se alterou devido à chuva (e era mesmo lá perto) e depois também reparei que no panfleto de divulgação também estava indicada a possibilidade de alteração do local se mau tempo.

E valeu, mais uma vez, pela observação: as mesas estavam em forma de quadrado gigante, as pessoas circulavam com a tijelinha e eram servidas com a sopa que quisessem. Tinham várias à escolha: sopas regionais de Espanha (o gaspacho da Galiza, por ex.), sopas indianas, africanas e mesmo sopas “inventadas” como “Sopa de fígado de porco capitalista” ou “Sopa rap”. Todas elas eram servidas pelo próprio grupo que a confeccionou. Nós chegamos a pensar em participar com um caldo verde e escrevemos para a organização, mas já não íamos a tempo. No entanto, era só preciso enviar a receita (provavelmente para eles fazerem um dossier com todas as receitas) e depois levar a sopa já feita na quantidade que quiséssemos que eles lá aqueciam. E claro, estarmos lá, servirmos a sopa e aproveitar o facto (imagino eu) da sopa ser um motivo de inicio de conversa com várias pessoas de vários cantos do Mundo.

E ainda falei com um rapaz da Can Masdeu (a tal okupa na montanha - www.canmasdeu.net) por causa de um panfleto que estavam a distribuir sobre um grande evento em Abril, de forma a tentar saber qual o melhor dia para os visitar o quanto antes. A resposta foi que além de uma actividade em concreto (cuja programação de Março vão já colocar na Internet), a altura melhor é ao Domingo pois é um dia aberto ao público onde fazem visita guiada pela casa e área. Antes desta rápida conversa, falamos com um senhor para nos ajudar a perceber o tal panfleto e dessa forma esclareci uma curiosidade anterior: “calçotada” é o nome de um prato típico da Catalunha que são apenas cebolas assadas (percebi eu) com salsa (posso comer!!!).

Depois desta “saída” e tanta limpeza, não houve tempo foi para ir à inauguração do “Ateneu Llibertari de Sants”.

A nossa rua: Vallespir

Para já, gosto do nome, um misto de suave (valle) com forte (spir).

Saí à rua para comprar pão e aproveitei para conhecer a rua de uma ponta à outra (ainda que superficialmente). Claro que pão, não havia. Barcelona realmente tem muitos estabelecimentos abertos depois das 19h (lembro-me agora de uma francesa ontem na festa responder-me que gosta mais de aqui estar porque na cidade de onde era, ao final da tarde já estava tudo fechado e não havia nada para fazer...) mas a um domingo às 21h30 não se espera que alguém vá comprar pão!!

Quanto à rua, tem de tudo: padarias, frutarias, mercearias, lojas de alimentação indianas (não quer dizer que vendam produtos indianos, mas são pequenas lojas estilo mercearia com disposição de mini-mercado que há muito por cá, normalmente de indianos), restaurantes, cafés, sapatarias, lojas de roupa, lojas chinesas, esteticistas, cabeleireiros, retrosarias, papelarias, drogarias, lojas de móveis e decoração, imobiliárias, clínicas médicas e dentárias, lojas de viagens, bastantes “lucotórios/Internet” (imagino que sejam locais para telefonemas para o estrangeiro e para usar a Internet), uma casa de envio de dinheiro (estes dois últimos pontos mostram-nos mais uma vez que Barcelona tem bastantes imigrantes), uma clínica veterinária, uma farmácia, cinema no fim da rua, uma sala de ensaios, infantário, escola secundária, escola primária, uma escola de línguas, uma empresa de trabalho temporário, uma curiosa Fundação Privada para a Promoção da Auto-Ocupação da Catalunha (não faço ideia que seja isto, ainda para mais com um aspecto estilo clínica médica), no fim da rua um jardim público com palmeiras e outras árvores mesmo ao lado, e até uma casa okupada (e mesmo ao lado da nossa casa!). E não é uma rua grande, só tem um sentido e são cerca de 200 números de porta.

A nossa casa fica mais no inicio da rua, perto da estação principal de comboios de Barcelona (Sants) e na freguesia com o mesmo nome. A meio da rua, temos a Plaza del Centre (com estação de metro), que faz cruzamento com uma grande avenida (Avenida Madrid), está em obras, e talvez por esses dois motivos não a ache muito bonita. Muito perto, na rua ao lado e também na zona mais baixa, há uma biblioteca e uma praça bonita: Plaza de Sants (também com metro).

Nunca antes tinha morado assim numa rua e numa zona com estas características. Pequena e com tudo!


[1] Traduzido do panfleto de divulgação do evento.



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