UtupiAR: é urgente!

terça-feira, fevereiro 28, 2006

11 a 15 de Fevereiro


11 de Fevereiro - sábado

É incrível como o Tempo passa a correr. É como se o meu relógio interno estivesse avariado e não conseguisse para-lo quando bem me apetece para as pausas que necessito. Ás vezes queremos que o Tempo pare, outras que passe mais devagar e outras que corra um bocadinho mais, outras vezes se se assemelhasse a uma montanha-russa dava jeito. Mas esse poder, talvez só as máquinas o tenham.

Por um lado (e já que o poder não é sempre bom) ainda bem! É que esse sentir o Tempo é um dos factores importantes para uma auto-avaliação, permite-nos analisar, criticar e melhorar.

Já no inicio do ano tinha decido que o meu “lema” para 2006 seria “focalizar”, vindo também de uma dessas tais análises do/ao Tempo. É que foram tantas as vezes que não fiz aquilo que me havia comprometido a mim mesma a fazer, ou que fiz mal feito, porque o Tempo não é elástico, porque eu sou um ser humano (inserido em diversos contextos, influenciando e sendo influenciada por eles) e principalmente porque as coisas que penso e quero fazer são bastantes. Foi difícil, mas tentei, nos diferentes cenários da minha vida, escolher 1 ou 2 focos: campanha eco-consumidor no GAIA, estágio na Escola... Mais difícil ainda é cumprir essas escolhas. A quantidade de estímulos é imensa, cada vez há mais informação (cada clique na Internet , por ex., é uma oportunidade para aceder a um número sem fim de informação), cada vez temos de tomar decisões mais frequentemente, e ás vezes, é fácil perdermo-nos – literalmente – no meio de tudo isto.

Claro que hoje, tudo foi inevitavelmente rápido! Quase que perdia o avião!!! É que acabei de fazer as malas demanhã, uma amiga ainda veio ter comigo, e a sensação que me devia ter esquecido de algo importante era imensa.

Ontem à noite houve festa cá em casa! Correu muito bem! Fizemos uns jogos, comemos bolo de alfarroba e outro de banana e maçã e bebemos chã. Estive com os amigos de sempre, e com alguns que já não via há algum tempo. É incrível como estas coisas de “ir para longe durante algum tempo” juntam as pessoas! E eu gosto tanto de ver que os meus amigos, embora às vezes de grupos completamente diferentes, conseguem divertir-se todos juntos!

Agora estou com aquela sensação que se estes últimos meses em Coimbra passaram a correr, em Barcelona o Tempo também vai estar agitado. Mas a sério que eu não queria, quero ter tempo para saborear toda esta experiência. Tempo para sentir, para pensar, para analisar, para fazer!


12 de Fevereiro - domingo

Às vezes, quando desço à Terra, assusto-me. Por isso, quando saio à noite (e gosto de o fazer, de vez em quando) prefiro mesmo ir para discotecas em que gosto da música, porque se não gosto, estou nesse estado de “susto” todo o Tempo. Gosto do papel de observadora, também, mas incomoda-me quando sabem que estou a fazê-lo, portanto, esse papel também não o posso ter “à vontade” numa discoteca ou bar. Parece que, ou sou como os outros, ou então não devia estar ali. Se todas as discotecas aqui forem como aquela, acho que posso dizer que Barcelona é uma cidade mesmo “louca”. Não é que os rapazes na discoteca que fomos ontem, e ainda por cima uma discoteca considerada pelo meu guia de “alternativa”, “atiravam-se” às raparigas que era uma coisa de doidos! Eu já achava que em Portugal, nas discotecas, o ambiente era assim muito de engate, mas então aqui...! É que até nas ruas!! Todos os rapazes se metem com as raparigas, fazem perguntas, dançam...

Não costumo gostar desses ambientes... Tenho que “estar na minha”, estar noutro Mundo, só a curtir a música, e aí sim, estou mesmo bem! E acho que de certa forma devo transparecer essa barreira inter-galáctica entre a Lua e a Terra, porque eles lá não se vão metendo muito!

Faz-me confusão, confesso, a mescla de corpos a roçarem-se, as caras muito próximas, as bebidas atrás de bebidas, o descontrolo... Não sei, às vezes acho que deveria ser algo “bonito”, digamos, partilhar o físico e o emocional, partilhar e viver intensamente um momento, não olhar a Passados e Futuros... Mas por outro lado, acho tudo demasiado “fácil”, demasiado normalizado, muito cara e pouco coração, ou muita bebida e pouca cabeça. Estes últimos, lá está, até podem ser positivos, digamos, porque nem tudo deve ser controlado, pensado, racionalizado. Só que é algo de certa forma egoísta, um egoísmo partilhado, portanto talvez deixe de ser egoísmo. Isto é, vais para a noite, bebes uns copos, mas como tu, muita gente faz exactamente os mesmos gestos, entretanto o teu olhar cruza-se com o de outra pessoa, passado uns minutos os corpos já estão próximos, nem são preciso palavras, o álcool deixa-te descontrolado, excitado, corajoso, os lábios tocam-se, os corpos balançam juntinhos ao ritmo da música.... Se as sensações perdurarem, às tantas a noite acaba noutro lado... No final, cada um vai para o seu canto, às tantas nem nomes sabiam... E é esta “desumanização” que me faz confusão, esta animalização, além do tal egoísmo, do saciar uma fome de prazer afectivo e/ou sexual.

Mas claro, não sei do que falo, nunca fui assim, sou demasiado racional, romântica, talvez (embora deteste aqueles clichés...), gosto das coisas demasiado “bonitas”, como muita gente, claro... A diferença é que só gosto dessas. Não devo ser uma pessoa lá muito equilibrada pois não? Há também quem me chame de inocente.

No entanto, por perceber essas diferenças, por ter noção que esta é mais uma das minhas reflexões, teorizações, e porque não somos todos iguais, e sentimos de maneira diferente, é que não condeno ninguém. Na prática, faz-me confusão, gostaria que não fizesse, mas faz, por todas as razões que apontei. Mas como também acho que cada um deve é fazer aquilo que o corpo lhe “pede”, não deve reprimir emoções nem sentimentos, não condeno mesmo nada. É que emoções reprimidas deve ser algo muito negativo, podendo trazer repercussões graves um dia mais tarde (veja-se o exemplo dos padres, por ex.).

Escrevendo agora sobre coisas mais “práticas”, não sei se mais chatas ou não, ontem um rapaz do HC (Hospitality Club) foi buscar-nos ao aeroporto (a Marlene é que tinha feito as combinações) e fomos para casa dele e do primo onde estavam também uns amigos e outros dois membros do HC da Lituânia. Depois fomos até a um bar, aqueles bares tipo Tasca, pequeninos, onde toda a gente se conhece, era como o ponto de encontro deles em Barcelona. Isto porque eles viviam noutra cidade - L’Hospitalet de Llobregat, mesmo ao lado de Barcelona. Estivemos a jogar setas e foi engraçado porque eles são brincalhões e então, como eu pelos vistos atirava as setas com muita força, chamavam-me “canhonzito pum!”. Conheci uma amiga deles italiana, muito simpática, que namorava com um catalão e tivemos a falar sobre Barcelona, línguas, Erasmus e programas de Intercâmbio, HospitalityClub, etc. Foi a única conversa produtiva da noite, creio. Sim, porque eu adoro conversar sobre coisas assim mais para o concretas, sentir-me útil de alguma forma, partilhar conhecimentos...

Pelo caminho até à discoteca, com mais duas inglesas do HC que entretanto se juntaram, ainda parámos à porta de um bar onde o porteiro era brasileiro. É sempre engraçado encontrar assim de repente pessoas que falam a mesma língua!

Na discoteca, entramos sem pagar, porque os nossos amigos HC conheciam o porteiro que era português, e por sermos portuguesas, “ganhamos” uma entrada grátis! A discoteca até passava música porreira, mas estava mesmo a abarrotar.

No caminho para o taxi, íamos só eu, a Marlene, e um dos nossos anfitriões, paramos já não sei como a falar com uns rapazes do Gâmbia. Foi um momento bastante curioso! Toda a gente ali na conversa às 6 da manhã, uns um pouco bêbados, resulta numa espécie de filme bizarro. Até fotos tiramos!

Chegamos a casa e azar dos azares, não conseguimos entrar. É que o rapaz não tinha a chave porque o primo é que ficou de abrir a porta, só que ás tantas ainda não devia ter chegado a casa.. Eu estava tão cansada que só me lembro de ter adormecido nas escadas (porque a porta da entrada do prédio estava aberta); mas diversas vezes fui acordada porque ora íamos à casa de um vizinho amigo, ou íamos tentar de outra forma, até que o J. conseguiu abrir a porta, às 8h, claro, porque pediu a chaves ao condómino do prédio.

13 de Fevereiro – segunda-feira

Ontem foi um dia calmo. Fomos comprar comida com eles e fomos à casa da família de um deles para irmos à Internet.

Os primos parecem mesmo aqueles espanhóis de gema, ouvem Flamenco e música espanhola, não falam catalão mas castelhano entre eles porque dizem que nos arredores de Barcelona, nas zonas de bairros, como o deles, há muitos imigrantes e as pessoas acabam por falar sempre em castelhano, falam alto, são divertidos e principalmente sinceros e “sem problemas”.

Estive na conversa com o J. e perguntei-lhe o que achava dos movimentos independentistas de Espanha. Respondeu-me que na Catalunha são os que mais querem ficar independentes. E são muito ricos, pois 80% da industria encontra-se na Catalunha por isso é que também não interessa ao estado conceder-lhes independência. Eu pensava que o Pais Basco era o mais “ferrenho” ao que ele me responde que é muito barulhento por causa da ETA, mas só 30 % querem a independência e 10% falam a língua no dia a dia. Fiquei admirada e quero confirmar essa informação.

Se calhar ao contrário do que acontece em Portugal, em Espanha, segundo ele, cada região tem uma cultura muito própria, “Los cátalas son muy cátalas, los andaluces son muy andaluces, los vascos muy vascos...”. Em Portugal encontram-se também diferenças de região para região, não só ao nível de dialecto, mas costumes muito específicos e uma cultura muito própria, mas talvez eu não chegasse ao ponto de fazer uma distinção tão grande. Disse-me também que em Barcelona há muitos estrangeiros, quase tantos como em Londres. Mas há catalãos que se recusam a falar castelhano, e respondem sempre em catalão.

Hoje fomos à universidade que está mesmo no centro, que é a de Línguas - porque os outros pólos estão mais afastados do centro -, procurar anúncios de quartos para alugar. Conhecemos uma rapariga catalã muito simpática, a Jasmina, que estava à procura de gente para dividir apartamento, mas não dava porque era preciso contrato (e nós só vamos ficar 3 meses e meio). É incrível como há pessoas que simpatizo logo assim ao primeiro contacto de uma forma impressionante. Trocamos contactos e eu quero mesmo voltar a falar com ela!

Aproveitamos para descer as Ramblas, ao mesmo tempo que eu lia em voz alta o que o meu guia indicava sobre esse percurso, que tem de facto algo de encantador, talvez por isso se diga que é a avenida mais famosa de Barcelona. Dois passeios nos dois lados da rua, um grande passeio no meio, entre duas pequenas ruas para os automóveis. Nesse passeio do meio, duas filas de árvores, vários quiosques e aqui e ali, estátuas-humanas (algumas mesmo muito bonitas) e criações bastante criativas e engraçadas, digamos. As pessoas que por lá passeiam são imensas, e dá assim um ar mais primaveril, digamos, às ramblas.

Através do guia percebi que a Ramblas se dividem em várias ramblas, conforme os artigos que os quiosques vendem; passamos então primeiro pela rambla dels acells (rambla dos pássaros) devido à venda de aves, onde vemos algumas lojas que ainda mantêm a fachada antiga (como uma farmácia e alguns restaurantes), para passarmos depois pela rambla de les flors (das flores) cujas 18 bancas de floristas aí permanecem desde 1853. O Pla de l’Ós (plano do osso) é um ponto de referência da avenida, com um mosaico enorme e circular de Miró no passeio. No fim das ramblas (ou inicio), junto ao mar, ergue-se a estátua de Colombo, que é também um miradouro. Antes, fomos procurar o Bosque das Fadas, que pensávamos que era um jardim. É que várias pessoas tinham aconselhado a Marlene de ir visitar. Mas era um café/restaurante muito engraçado, com montras cheias de origamis e com um interior muito acolhedor.

Não posso deixar de mencionar o Mercado de “La Boqueria” (com entrada mais ou menos a meio das Ramblas) que já na minha última visita de uma tarde a Barcelona me tinha fascinado. Por duas razões: a quantidade e diversidade de frutas e legumes (é que como vegetariana, interessam-me particularmente estas duas classes de alimentos), e a maneira como estão dispostos. Todos organizados nas suas caixas, tão direitinhos, que eu até tenho medo de imaginar a trabalheira que teve a pessoa que os coloca assim.

Almoçamos num restaurante vegetariano muito bom e fomos ver dois quartos duplos. Um era do outro lado da cidade de onde vamos trabalhar e nada acolhedor. O outro era muito giro, num bairro típico, assim numa rua estreitinha, e num prédio antigo, só que só poderíamos entrar a 15 de Março. Entre estes ainda vimos dois que não chegamos a ver, ou seja, fomos até ao local, mas um só dava para uma pessoa e o outro já tinha sido alugado (e devia ser hiper caro, já que o apartamento parecia um museu!!).

Chegamos a casa à meia noite e completamente exaustas.

14 de Fevereiro – terça feira

Hoje quando acordamos fomos visitar o Casal Cívico de Gornal, no bairro onde estávamos. Sabíamos que havíamos de encontrar um senhor simpático que tinha sido treinador de futebol dos rapazes que nos estavam a alojar, e que agora estava também no Centro Cívico. E o Sr. Roan era de facto simpático, mostrou-nos todas as salas do centro, apresentou-nos as educadoras sociais que trabalham no Centro, respondeu a todas as nossas perguntas, sempre muito prestável e falador. A Marlene tirava fotos e eu fazia apontamentos.

Ficamos a saber que o Centro tem 3 salas polivalentes, uma delas usam muito como sala de teatro, ou para reuniões, conferências, sala de ping-pong, tendo mesmo bastantes usos, até para a policia dar acções de formação já serviu. Outra é também uma biblioteca e é onde acontecem várias reuniões de jovens, e também, segundo o Sr. Roan, o lugar escolhido para estudar e fazer trabalhos dado as suas inúmeras mesas e cadeiras. A outra sala ficava na cave e funcionava mais como ginásio, por ser bastante ampla.

Mais em relação aos serviços, o Centro tem uma ludoteca/biblioteca para crianças dos 6/10 anos, uma sala para os mais pequenos dos 3 aos 6, e para as crianças com menos de 3 anos, o Centro tem um serviço chamado “Cuida de um filho” que é dirigido às mães para estas aprenderem como cuidar dos filhos, para tirarem dúvidas, etc.

O Centro do Gornal tem uma Escola de Adultos, que segundo o que percebi não é uma escola de cursos profissionais mas sim para quem não terminou a escola secundário o poder fazer, ou para, e aí fiquei admirada, ajudar a preparar a entrada dos jovens na universidade.

A sala de orientação vocacional, que dá assistência também a jovens
à procura de emprego, é dirigida por 3 educadoras sociais. Um Ponto de Informação Juvenil é outro dos serviços do Centro.

Sala de informática (livre ou com professor a ajudar) e laboratório são as restantes salas do Centro, juntamente com a de professores e as de aulas.

No panfleto sobre o centro (ver panfleto “Casal Cívic Gornal) pode-se ler que é um centro que oferece vários recursos e actividades para impulsionar a dinamização sócio-cultural, a promoção do civismo, a participação e cidadania e o fortalecimento do tecido associativo. Se isto realmente funcionar, isto é, se no centro realmente cumprirem com esta missão, é de facto um espaço sócio-educativo. Ainda para mais, com um programa de dinamização e suporte às associações, que segundo as actividades que elas por lá realizam (oficina de trabalhos manuais, artes marciais, sevilhanas...) deve estar a funcionar. Para além das próprias actividades que o centro organiza: tertúlias em catalã, teatro, curso de danças latinas, entre outras, dirigidas a adultos; oficina de carnaval (para realizarem as máscaras), dia das mães trabalhadoras (no dia da Mulher, para construírem prendas para oferecerem). Como o centro se encontra num local com pessoas carenciadas, muitas das actividades são gratuitas.

Por fim, ficamos a saber que o Centro pertence ao Ayuntamento (câmara) de L’Hospitalet de Llobregat, que por sua vez pertence à Generalitat (esta palavra não sei a tradução, mas é como se fosse cada governo das regiões autónomas) da Catalunha, assim como os outros centros cívicos de outras cidades. Depois cada câmara ainda tem as suas freguesias (que aqui se chamam distritos) e que por sua vez se dividem em bairriadas (bairros). É que todas estas diferentes terminologias estavam-me a confundir e assim finalmente fiquei esclarecida.

Não podia deixar de ir embora sem colocar algumas questões sobre o bairro. Tem 12 mil pessoas! Realmente o bairro parecia daqueles bairros grandes, porque os prédios eram altos e via-se muita gente na rua, mas nunca pensei que fosse tanta gente! Segundo o Sr. Roan, o bairro tem bastantes imigrantes e é um pouco problemático. O Centro recebe cerca de 400 pessoas diárias, maioritariamente depois das 17h.

Á tarde fomos a uma Biblioteca muito bonita, num antigo convento, a Biblioteca Nacional da Catalunha, pelo que deve ser a maior aqui de Barcelona. Mas fiquei decepcionada com o sistema de registo deles, pois deram-nos um cartão que fizeram no momento, todo plastificado, mas que só valia para aquele dia, e depois era para deitar fora. Ora isto constitui um grande desperdício de plástico, que é dos materiais menos sustentáveis. Fomos procurar quartos a alugar num site que me aconselharam vária pessoas do Hospitality Club, o www.loquo.com. No entanto não havia muitos anúncios de quartos duplos. Enviamos também um e-mail à GATS a anunciar a nossa chegada e a propor uma reunião. Tentei enviar o meu projecto de estágio via e-mail ao meu orientador de estágio e coordenadora de curso, mas não consegui porque os computadores não deixavam instalar a pen-drive.

Já não comíamos à algum tempo, então fomos a uma tasca indiana no Bairro do Raval (um bairro dos mais antigos, no centro de Barcelona, bem perto das Ramblas, cujo meu guia apelida de “bairro chinês” e eu não percebi bem porquê) comer umas pitas (pão tipicamente israelita, pensava eu). Aproveitamos (ou o contrário) e fizemos alguns telefonemas para marcar algumas visitas aos quartos para o dia seguinte.

Depois fomos a casa da Ana Lúcia e Helena, as portuguesas da nossa turma que já estão aqui há 2 semanas a estagiar na Tasca, uma empresa de animação. Foi bom revê-las, estava mesmo com vontade as ver e de saber como se estão a dar. A Ana Lúcia está com uma conjuntivite mas de resto, estão bem. Estão a gostar da Tasca, dizem que são muito simpáticos com elas e que falam em castelhano para elas apesar da língua que é falada na Tasca ser o catalão. Elas moram mesmo no coração da cidade, no Bairro Gótico, na casa de uma rapariga que colabora com a Tasca, uma daquelas casas antigas, que faz um quadrado e no meio tem umas janelas que dá para uma espécie de pátio minúsculo. É mesmo engraçado, porque os vizinhos conseguem ver-se uns aos outros! E é daqueles andares altos e com decorações antigas no tecto!!! Gostei mesmo da casa delas!

15 de Fevereiro – quarta-feira

Hoje fomos ver duas casas perto da estação de comboios, que chegamos à conclusão que é área ideal para ter casa pois a GATS fica a 40 minutos de comboio de Barcelona! Uma delas era muito gira, com um terraço enorme, moram lá um holandês e um italiano, e o Holandês, que é o que subaluga a casa e arrenda um dos quartos ao dia, portanto a casa é como uma espécie de “pousada”. O que seria o nosso quarto tem um quartinho mais pequenino, resguardado, com um paninho a fazer de cortina.

A outra era numa avenida movimentada, já não gostei tanto, e moravam dois italianos e um espanhol. Quem nos mostrou a casa foram um rapaz catalão e uma rapariga brasileira, o que nos mostra uma vez mais como em Barcelona encontramos todas as nacionalidades!

Fomos a uma biblioteca e depois à universidade procurar mais anúncios. Pelo caminho vimos um Centro Cívico e entramos: “Golferichs centre civic”, cuja especialidade é a fotografia. Por isso têm um espaço de fotografia com exposições, laboratório e uma oferta imensa de cursos de fotografia, chamado “Català-Roca”, em homenagem ao Francesc Català-Roca, fotógrafo famoso catalão, segundo nos explicou uma das senhoras que lá trabalha.

Como o panfleto de divulgação das actividades do centro (ver panfleto “Cursos, Tallers, Itineraris”), com diversos cursos, oficinas e itinerários é enorme mas com preços algo elevados, e a frequência parece ser bastante, a senhora elucidou-me, explicando que comparando com outras ofertas formativas e culturais, os preços eram bastante acessíveis.

Mesmo ao lado do centro, está a Fundação Carles Pi e Sunyer que faculta várias salas para as actividades do centro. No momento em que lá estivemos estava a decorrer numa das salas uma aula de história, que estava a ser assistida por bastantes adultos. Quarta-feira, 18h30 na cidade de Barcelona, e a cidade não pára, com actividades para todos os gostos.

Este centro Cívico fica na freguesia de L’Eixample, que é aquela zona que alguns de nós temos imagem de Barcelona, com um plano urbanístico todo aos quadradinhos.

À noite fomos deixar com os espanhóis HC as nossas malas maiores na casa da Ana e da Helena, pois não sabíamos o que os próximos dias nos reservavam a nível de alojamento e assim sem malas a disturbar, seria mais fácil. De seguida fomos até à tal Tasca que eles costumam frequentar. Eu e a Marlene tivemos mais na conversa com o R. (um deles) sobre línguas e ele ensinou-me uma música em castelhano para crianças. É que acho sempre que ajuda a aprender uma língua, porque normalmente são também para ensinar às crianças a própria língua. Passo a transcrevê-la:

El gallo llo, El gallo llo

El gallo, la gallina y el caballo llo

La gallina na, chiquitina na,

Pone huevos en la cocina na.



">
(<$BlogItemCommentCount$>) comments


segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Como tudo começou?

Em Setembro de 2005, estava eu no 3º ano de animação sócio-educativa, a escolher (e a ver se seria “escolhida”) uma associação para estagiar durante 14 semanas no segundo semestre. Primeiro pensei numa associação de desenvolvimento local, porque sempre foi das minhas áreas de eleição devido à sua abrangência (e lá está, devido à minha capacidade de focalização). Mas logo “reparei” num projecto do GAIA que já anteriormente me tinha chamado a atenção que era de implementar um Centro de Convergência no meio rural, no Alentejo, numa área desertificada. Centro esse que seria uma espécie de infra-estrutura que apoiasse várias iniciativas locais ou dirigidas para o local, que convergisse vários projectos e actividades no mesmo espaço, mesmo tendo áreas especificas de trabalho como permacultura, juventude, turismo rural, investigação, arte e cultura... O melhor de tudo, é que o timings pareciam coincidir com os da Escola, isto é, o estágio teria de começar em Fevereiro, o Centro de Convergência estava previsto para Fevereiro. Como o GAIA (Grupo de Acção e Intervenção Ambiental, associação juvenil ambiental, à qual pertenço) é uma associação que admiro, principalmente pela sua forma informal de trabalhar, pelo seu carácter transparente e estrutura horizontal, pensei “porque não fazer o estágio com o GAIA?”.

E tal foi o que propus ao GAIA, e comecei então por envolver-me no projecto compartido do Centro de Convergência, ficando responsável pelo “Ponto Jovem” e mais concretamente com o meu projecto de estágio - “Activar” – cujo público-alvo seriam jovens. Depois o projecto teve uma mudança radical, devido a uns contratempos, digamos, e que exigiu um novo projecto. Daqui surgiram duas hipóteses: uma espécie de diagnóstico local participado numa aldeia do Alentejo à volta do problema de desertificação; ou um projecto de dinamização do grupo local do GAIA no Porto. Escolhi Alentejo.

Mas, à última hora, surge uma nova hipótese: Barcelona. Oportunidade que depois de dar muitas voltas à cabeça, aceite. Vou para Barcelona, conhecer o cosmopolitismo, a animação, e a mim mesma, mais um bocadinho; e um bocadinho que desejo imenso.

Motivações (retirado do meu projecto de estágio – “Apre(e)nder (em) Barcelona”

Decidi que ia agarrar na oportunidade de ir para Barcelona estagiar por diversas razões, não sei qual delas a mais forte, cada uma com o seu peso, tempo e lugar.

No inicio, e por mais estranho que pareça, Barcelona apareceu como uma hipótese mais segura que o Alentejo. Nesta última, não tinha encontrado ainda um quarto para ficar, ia trabalhar praticamente sozinha, não conhecia ninguém, as despesas sairiam todas do meu bolso e ia estar 3 meses e meio num local com pouca oferta cultural. No entanto, as mesmas coisas que me assustavam nesta hipótese eram as que me desafiavam: estar “sozinha”, experimentar a vida rural, tentar interagir activamente com pessoas que não conhecia, passar de estranha a familiar.... Mas tinha medo de não ser capaz, do projecto ser demasiado ambicioso, de não estar preparada.

Em Barcelona, poderia ter um Mundo que sempre quis descobrir à minha espera; já quando estava no 12ª coloquei a hipótese de estudar em Barcelona como estudante “free mover”, fazendo lá toda a licenciatura. Imagino Barcelona como uma cidade activa, com bastantes ofertas, com um povo participativo e critico.

Para além de realizar este “sonho em espera”, teria a oportunidade de estagiar numa associação com um âmbito completamente diferente do que estou habituada a “trabalhar” até agora, dado que estive sempre mais envolvida na temática ambiental e social mas de uma forma mais descontraída e pouco especifica; e com jovens e adultos e mais raramente outros grupos. Se escolhesse Barcelona, também poderia “beber” imenso de temas que aí têm já uma “história” considerável e que em Portugal não são tão “trabalhadas” ou divulgadas como a Organização Horizontal, os Movimentos Libertários, os fortes Movimentos Juvenis, a Democracia Participativa, entre outros; assim como aprender coisas novas e nunca antes por mim imaginadas. Não menos importante, teria oportunidade de ter todos os dias completamente e diversamente preenchidos; já imaginava um típico dia: de manhã estava na associação, momento de escrita no inicio da tarde, a meio desta uma conversa sobre a Catalunha, ao fim da tarde uma reunião de um movimento juvenil, à noite uma ida ao Teatro. Por fim, não estaria sozinha, teria o acompanhamento de uma associação, e a entre-ajuda da Marlene e também da Ana e Helena.

Todas estas motivações ainda eram acrescidas do facto de ter tido uma experiência anterior no estrangeiro (aquando programa Erasmus no ano lectivo anterior) e ainda por cima num país com uma cultura tão diferente da nossa como é a Finlândia, que faziam com que não me sentisse insegura ou com receios, pelo contrário, estava certa do enriquecimento a todos os níveis que acontece quase inevitavelmente. O único contra que encontrava, era mesmo que se preferisse Barcelona, todos os prós de “Colos” deixariam de existir. A questão era então quais os prós que fariam mais sentido para mim existir no momento e quais é que poderiam existir noutra altura. Colos estava certa que poderia existir noutra altura, e faria mais sentido noutra altura, porque às tantas não seria em Colos mas no local onde o Centro de Convergência estivesse implementado e o projecto teria mais sustentabilidade. Barcelona, além de não estar certa quanto à possibilidade de no 4º ano agarrar nessa oportunidade porque poderia surgir outra aos meus olhos mais adequada ou com mais vantagens no momento, parecia ser o que me apetecia mais: vontade de estar activa, de fazer “milhentas” coisas ao mesmo tempo, de aprender para trazer para Portugal...

">
(<$BlogItemCommentCount$>) comments