3 de Março - sexta-feira
Saí de casa zangada por sair tarde. E com razão, já que cheguei a um mercado de 2ª mão que há quase todos os dias na Praça Las Glories e já estava a fechar. Ia procurar bicicletas em 2ª mão e o que aparecesse. É que adoro lojas de 2ª mão, sótãos e tudo o que tenha objectos de outros tempos. Gosto de imaginar outros ambientes, outras situações e vivências. Além disso, é aquele acto do “descobrir”, do estar a mexer em coisas antigas, como se tivéssemos a remexer no “secreto”, no que não é “raro”.... E é um mundo de associações, de levantar de pó.. Um objectivo faz-nos recordar uma situação, lembra-nos uma pessoa, um momento...!
A seguir, como planeado, por ser perto, fui à Sagrada Família. É que ainda não a tinha visto de dia (pelo menos agora desta vez que cá estou em Barcelona). Tirei algumas fotos! Ou melhor, muitas! É que um edifico grande e com tantos pormenores é difícil evitar clicar mais uma vez na máquina. O edifício inacabado de Gaudi é de facto interessante para se observar. É que não é propriamente belo, digamos que aqueles guindastes todos estão ali a mais, mas como é tão pormenorizado e com detalhes engraçados, torna-se um edifício bastante curioso.
No caminho para o centro da cidade, resolvi entrar na Casa Asiática, e dia consigo-a ver melhor e é realmente uma casa muito bela, com uns vitrais (adoro vitrais) simples e bonitos (assim mais para o geométricos). Através do panfleto que lá li, fiquei a saber que o edifico era o antigo Palácio Baró de Quadras, edifico modernista do arquitecto catalão Josép Puig i Cadafalch, construído no inicio do séc. XX. Já albergou o Museu da Música, mas desde 2003 é a sede da Casa Ásia, tendo como objectivo desenvolver as relações entre Espanha, Ásia e Pacifico em vários âmbitos.
A casa tem várias salas diferentes (antigos salões de jantar, salas bastante bonitas) que podem ser usadas para exposições, debates, cursos, entre outro; um auditório; uma biblioteca e vídeoteca (especializadas no Mundo Oriental, claro), uma sala Internet; um Centro de Negócios no piso superior; um restaurante oriental e o “Infoasia” (ponto de informação sobre Ásia e Pacifico).
Foi na Galeria de Arte da casa que vi uma exposição intitulada “Retratos Asiáticos” de Pierre Gonnard. São 24 retratos fotográficos da série dedicada a modelos fotográficos que se identificam na sua maioria com a marginalidade e exclusão. Porém, em muitas das fotos não consegui interpretar essas situações. Não obstante, eram de facto bonitas fotos (ainda para mais como estavam tão ampliadas tinha mais impacto).
A seguir desci para o Passeio da Grácia, o passeio com as casas de Gaudi e outras do movimento arte nova, mas infelizmente, a máquina fotográfica ficou sem bateria! É que um dos meus objectivos de hoje era tirar algumas fotografias. Entrei no Palácio Robert, que é um Centro de Informação da Catalunha com espaços para exposição e vi a única que estava disponível no momento: uma da delegação de Barcelona da organização mundial Médicos sem Fronteiras (www.msf.es). A exposição focava-se em duas áreas de acção: conflitos armados e epidemias em diferentes países como Somália, Tchetchénia, República Democrática do Congo e Colômbia. O que mais me impressionou (admirou) foi as inúmeras mortes ocorridas devido a uma epidemia chamada “chagas” cujos governos tentam silenciar.
A Bicicletada/Massa Crítica em Barcelona é na primeira sexta do mês, ao contrário de Portugal que acontece na última. Embora não tenha bicicleta, estava na praça da Universidade à hora marcada (20h) para além de tentar saber onde posso comprar uma bicicleta em 2ª mão, conversar com os participantes, saber mais coisas sobre a Massa Critica barcelonense, as diferenças em relação à portuguesa e o que mais surgisse. É que presumi que, tal como em Portugal, houvesse um movimento inicial de ponto de encontro, de reunião, até que, passado uma meia hora, aí sim, partia-se para a Bicicletada.
E estava certa pois os barcelonenses também não são pontuais, e às 20h30 ainda não tinham partido, altura em que resolvi vir embora. Isto porque não me estava a sentir muito bem recebida. Talvez seja problema meu, que também não tenho muito à vontade quando chego assim a um local de repente, onde não conheço ninguém.
Mas lá tentei! Cheguei e vi poucas bicicletas. Aproximei-me de dois rapazes que estavam mais próximos e perguntei num castelhano com pronúncia à portuguesa se iam participar na Massa Crítica. Responderam afirmativamente e então contei-lhes que era de Portugal e que costumava participar na Massa Critica e bla bla bla, fiquei a saber que na última estavam 30 participantes e que como era a 2ª vez que eles participavam não me podiam ajudar muito. Disseram que há um rapaz que costuma estar mais envolvido, que tem os panfletos, mas que ainda não chegou. No meio desta conversa eles começavam a falar catalão entre eles e não me “ligavam” nenhuma. Até que eu fui-me sentar lá num banco, e enquanto esperava por mais “bicicleteiros”, apontei no meu bloco uma série de perguntas em relação ao movimento em Barcelona!
Entretanto, mais bicicletas aproximaram-se do tal par inicial e eu aproximei-me passado um bocado. Sem saber muito bem o que dizer perguntei se alguém tinha um panfleto. Disserem que não e mais nada pronunciaram, pelo menos para mim. Fui sentar-me de novo desanimada. Não passado muito tempo, chega mais um grupo. Dirigi-me a uma das raparigas e fiquei a saber que no Casal de Jovens Roquetes (grupo de jovens em Nous Barris) reparam e oferecem (será?) bicicletas. Quando tentei saber mais sobre o movimento, só me disse que o número de participantes depende muito; mesmo assim tentei saber qual foi o máximo a que ela assistiu mas a rapariga respondia sempre “depende”.
No geral não os achei nada simpáticos. Se é um movimento cívico deveriam querer mais pessoas a participar, então têm de informar, estar receptivos, motivar as pessoas a participar!! Ás tantas no Porto, na Massa Crítica, a imagem que damos não é que somos simpáticos e calorosos, é que deve depender muito das perspectivas. Se calhar, falta, em ambos os casos, alguém com uma função de “receber” quem vem de fora, quem vem pela 1ª vez, quem vem curioso, quem vem com dúvidas.
Segui pelas Ramblas até à Casa da Ana e da Helena para perguntar se queriam ir a uma festa chamada Yomango, de um movimento (?) com o mesmo nome. Na altura quando vi o anúncio na Internet não percebi muito bem do que se tratava e fiquei curiosa.
A festa era numa casa okupada enorme!! Todo o edifico estava ocupado, numa rua mesmo em frente à marina (Passeig Joan Borbon) e bem identificada. A festa era só no rés-do-chão, com uma mesa com comes e bebes, um projector onde estavam a passar um video sobre o colectivo Yomango, uma zona com uma Dj e em todo o espaço, em pé e numas almofadas no chão, várias pessoas de todos os “feitios”. O espaço era pequeno mas acolhedor. E as pessoas simpáticas, já que pelo menos sorriam!
Ao contrário da bicicletada, falei com um jovem que parecia fazer parte da “organização” e foi bastante simpático! Explicou-nos do que se tratava o movimento: YoMango significa literalmente Eu (Yo) Mango (gamo – roubo). Mas roubar apenas em multinacionais, como forma de protesto contra o capitalismo, a sociedade materialista e o consumo desenfreado.
Disse-lhe que eu, embora não gostasse de multinacionais (pelas mesmas razões que ele, creio), não conseguia roubar e consumir os seus produtos, pois fazer-me-ia confusão, prefiro o boicote total à empresa. Ao que ele me respondeu que cada um tem a sua forma de luta, a forma que se identifica mais, que se adapta melhor, que é mais coerente com o seu pensamento e personalidade. Ás vezes há movimentos com os quais simpatizo, como o movimento okupa, embora não me identifique com a sua forma de agir, não seria a ideal para mim. Roubar em multinacionais, divertir-me com tudo isso (como vi num dos seus vídeos em que se divertiam à brava a dançarem tango dentro de uma grande cadeia de supermercados e a roubarem ao mesmo tempo), acho que não é para mim, embora considere legitimo quem o faça e saiba justificar. Isto é, em todos os movimentos sociais há quem faça parte dele só por fazer, por moda, por acréscimo, por diversão....É como em todo o lado e todas as coisas. Mas há quem realmente saiba o que está a fazer, saiba justificar e fundamentar. Tal como os movimentos, que também têm a sua fundamentação teórica. Yomango tem bastantes textos na sua página Internet, que tentam justificar a sua existência, vou lê-los e logo comento mais.
A festa aconteceu para colectarem algum dinheiro para enviarem para o grupo Yomango no México que pagou uma multa de 3000 euros por roubarem numa multinacional; pelo que o preço das bebidas revertia para o grupo e a comida era gratuita (roubada, supostamente).
Acabamos a falar todos sobre Portugal e Espanha, já que o rapaz tinha bastante curiosidade acerca do nosso país. Dizia que na escola, por ex., nunca falaram de Portugal. Então aquela ideia estereotipada que tinha dos Espanhóis “esquecerem-se” muito de Portugal confirma-se mais um bocadinho.
Trocamos contactos, ele deu-me um dvd com vídeos Yomango, autocolantes, cartazes para distribuir e mandar para Portugal.
A seguir, como mais ou menos combinado, fomos sair com o J. e os franceses do Hospitality Club (e mais um amigo catalão do J. que se juntou mais tarde). Fomos primeiro a um bar que estava a abarrotar de gente e é o único que se bebe absinto cá. É que é proibido, assim como muitas outras coisas parecem ser proibidas aqui na Catalunha. Há uma lei que proíbe vários actos de acontecerem nas ruas como urinar, escarrar, barulho (que até aqui parece bem), mas também beber, e imagine-se só, jogar à bola.
No caminho para a discoteca ainda passamos num bar que era uma espécie de homenagem a uma famosa actriz catalã: Sara Montiel, todo cheio de retratos e adereços dela a decorar.
A noite acabou na “La Paloma,” que era um antigo salão de baile e então o espaço era deslumbrante, com um candeeiro enorme no meio e com um tecto rebuscado. Parecia mesmo aqueles salões de bailes dos castelos (ou melhor, dos filmes). Um dado interessante é que durante a fila para a entrada, estavam vários mimos em andas que pediam ás pessoas para fazer pouco barulho. Pelo que li é uma espécie de campanha da câmara de Barcelona para o silêncio nocturno e respeito pelos moradores. Uma boa ideia!
Ao final tive pena porque os franceses vão embora amanhã de manhã! É que gostei mesmo deles! Daquelas pessoas que se está mesmo bem! Preciso de conhecer mais catalãos assim urgentemente!">
(<$BlogItemCommentCount$>) comments
1 Comments:
mercado em 2ª mão todos os dias?? quem me dera.
vou agora praticar mais um bocado em londres o movimento yoskipo!
sarita montiel, um ícone quase tão grande como diana dias, uma menina portuguesa cheia de vontade de conhecer coisas novas. pode ser que me contagies um pouco.
10:10 da tarde
Enviar um comentário
<< Home