UtupiAR: é urgente!

quarta-feira, abril 19, 2006

11 de Março


Hoje o dia foi “formativo”! Fomos a um curso de audiovisuais para prevenir a violência doméstica, no Centro Cívico Can Basté (em Nou Barris). Estava entusiasmada pois normalmente os cursos e oficinas são sempre em catalão, mas informei-me e este iria ser dado em castelhano pois a senhora é americana e não sabe catalão muito bem.

Éramos cerca de 8 participantes, tudo senhoras com uma certa idade. É incrível como o movimento feminista aqui é tão forte e muitas mulheres mais velhas fazem dele parte.

A formadora, inglesa, começou por falar um pouco da importância dos meios audiovisuais na transmissão de mensagens sociais. Ultimamente fala-se muito nos documentários, mas estes têm a desvantagem de não se poder registar aspectos mais sensíveis (devido ao respeito para com as pessoas que muitas vezes não querem ser filmadas), enquanto que a ficção já dá essa hipótese. As curtas-metragens são um dos meios audiovisuais mais usados com esse fim, pois chama a atenção de algo num curto tempo.

Existem muitos recursos audiovisuais que podem voltar a ser usados, isto é, há vários Centros de Documentação que vendem material educativo. Há um Centro de Documentação em Londres, que a formadora aconselhou, que se chama Extreme Information (http://www.xtremeinformation.com/). É incrível como há tanta coisa disponível. Eu aqui quero tentar arranjar alguns filmes fixes, daqueles mais domésticos, feitos por associações e assim, para depois poderem ser usados em Portugal no âmbito do GAIA e das projecções de filmes que ás vezes realizamos ou noutros âmbitos claro.

Primeiro vimos uma série de curtas-metragens sobre prevenção da violência doméstica.

Começamos por uma muito simples onde no ecrã víamos apenas um pano (como uma cortina), sem qualquer ruído de fundo, no fim uma mensagem do género: por detrás desta cortina uma mulher está a ser esfaqueada pelo seu marido. Não faças de conta que não sabes de nada.

Está certo que as pessoas muitas vezes não querem ver, mas neste caso da violência doméstica a ideia que tenho é que muitas vezes não se vê, logo não se pode dizer que as pessoas são indiferentes, na minha opinião, porque é algo escondido pelas pessoas que a “sofrem”.

Algumas curtas eram muito simples e pequenas, como esta, só com uma mensagem final indicando um número de telefone de denúncia ou de apoio. Outras divulgavam números assustadores: 1 em 4 mulheres são vítimas de violência doméstica.

Na segunda parte estivemos a ver o “Making Of” de uma telenovela da Nicarágua que trata de temas sociais. Chama-se “Sexto Sentido” (www.puntos.org.ni) e achei uma ideia mesmo fantástica. É que aproveitam-se do facto de na Nicarágua as pessoas serem aficcionadas por telenovelas para modelarem os comportamentos dessas, concederem-lhes novas formas de analisar a realidade e tomar decisões. Já que as pessoas consomem telenovelas, que consumam algo com qualidade, algo que lhes influencie positivamente e lhes faça pensar.

A telenovela aborda vários temas sociais como abusos sexuais, homossexualidade, alcoolismo, violência doméstica, através de 6 personagens, jovens de diferentes condições sociais. Mas sem rodeios, sem quaisquer preconceitos. Quer ser uma telenovela radical, indo à raiz dos problemas.

É um projecto financiado por diferentes entidades e um projecto barato (que faz “cair” aquela ideia/frase tão batida: “não há dinheiro!”). Com o mesmo financiamento de um episódio de “Friends” (Sitcom) produzir-se-ão 432 episódios de “6º sentido”. Além do mais, é a única novela emitida na Nicarágua que é completamente rodada no país, com uma audiência de 70% ao domingo (dia em que se vê mais televisão no país).

Para além de todos estes pontos positivos, o guião foi escrito por um jovem mas com a participação de muitos outros e os actores são também jovens que não tinham experiência no mundo da representação. Foi um projecto que partiu e contou com a colaboração de várias organizações base feministas e de direitos humanos. Um autêntico projecto de protagonismo juvenil.

Não só a elaboração da novela não foi um trabalho fácil, como a sua receptividade por parte do público também foi difícil. É que Nicarágua é um país bastante conservador, onde se pode ir para a prisão se se tiver relações com alguém do mesmo sexo, por ex. Então esta novela criou muita agitação, o que desde já é bastante positivo, pois trouxe certos assuntos à discussão.

Vimos também um excerto da série da novela que trata o tema dos abusos sexuais, que a organização do projecto usa para debater nas escolas. Exactamente, o projecto não se fica pelas novelas, e até o jovem que encarna a personagem de homossexual vai às escolas falar do seu papel e discutir o tema da liberdade sexual.

A única coisa que tenho a acrescentar é que com jovens, a minha opinião é que se deve trazer as coisas para um panorama mais prático e real. Pois só se costumam abordar esses temas mais sociais através de casos mais “dramáticos” que muitas vezes não fazem parte da realidade de muitos jovens. Uma novela, um filme, seja que meio audiovisual for, conseguir conjugar essas duas vertentes, conseguirá atingir um número muito maior de pessoas. Não sei se esta novela o consegue, mas de qualquer das formas, é uma ideia fantástica e que deve ser “imitada” em todos os países, com as suas adaptações claro está.

Os meios de comunicação são assim potencializadas ao máximo, porque são pensados para atingir social e educativamente massas (em vez de grupos-alvo mais pequenos ou específicos), e aí é que está a inovação deste projecto, que pode abordar outros temas sociais como Direitos Humanos, Imigração, Ecologia, dependendo das necessidades do país.

No final, a formadora relembrou-nos que é muito fácil e enriquece uma mensagem, o uso de audiovisuais. E não é preciso ser um profissional para se conseguir transmitir uma mensagem através desses meios, como muitas vezes se pensa. (Há até concursos para curtas realizadas com câmaras de video de telemóvel! )

Os audiovisuais podem ser meios mesmo eficazes e há que rentabiliza-los. É que muitas vezes, as coisas quando se vêm têm mais impacto que quando ouvidas ou lidas. Assim, meios audiovisuais são óptimos recursos na animação sócio-educativa. Uma boa curta-metragem, por ex., pode impulsionar o debate de um tema; ou um video que regista uma actividade em especifico de uma associação, ilustrar com fidelidade o trabalho desta e assim auxiliar uma apresentação pública da associação.

Saí de lá com ainda mais vontade de aprender mais sobre video e edição de imagem.

Antes de ir para casa ainda vi uma exposição de fotografia no mesmo local intitulada: “Barcelona sobre Barcelona. Espaços de conquista 2002-2005”, basicamente sobre o processo de transformação urbano e tudo o que ele implica e traz: destruição, resistências, etc. É que todas (as poucas) explicações estavam em catalão e dificultou a compreensão. Mostrava-nos o bairro de Poblenou e suas novas requalificações, protestos na Cidade Velha e a repressão e brutalidade nas ruas de Barcelona.

É sábado à noite, mas não vou sair. Amanhã, e apesar de haver uma festa do consumo responsável no centro da cidade organizada pela câmara, (as escolhas começam a ser difíceis), vamos a CanMasdeu (a tal okupa muita activa na montanha). É que se não, adiamos adiamos e nunca mais vamos lá.



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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Excellent, love it! »

8:50 da manhã

 

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