UtupiAR: é urgente!

quarta-feira, abril 19, 2006

10 de Março

O nosso envolvimento com a GATS parece começar a andar para frente.

Hoje conforme ficou combinado, encontramo-nos com a Mar em Sants e fomos com ela visitar o seu local de trabalho. Cerca de 30 minutos no comboio e chegamos a Allela, uma pequena povoação que pertence à freguesia de Masnou, no distrito de El Maresme, portanto, noutra cidade nos arredores de Barcelona.

A Mar explicou-nos que o governo da Catalunha exige que cada distrito tenha um Plano da Juventude, financiando-os. Por esta razão, em Allela existe o Àgora Ponto de Informação Juvenil (www.diba.es/agora) e o Casal de Jovens Can Gaza (www.alellajove.info), onde a Mar trabalha como educadora social. No primeiro espaço, para jovens e jovens adultos, que visitamos, também trabalha uma educadora social. Esta explicou-nos que ali, apesar de um espaço agradável, com mesas, cadeiras e alguns computadores com Internet, os jovens não vão muito. É uma espécie de ponto de apoio aos jovens, com viajateca (se querem viajar encontram ali muita informação relativa como inter-rails, pousadas da juventude...), orientação vocacional, intercâmbio, associações, actividades culturais. Funciona também um pouco como serviço de encaminhamento, onde se têm uma dúvida mais especifica, a função da educadora é reencaminhá-lo para um serviço mais adequado ou fornecer os meios para encontrar a informação.

O Plano da Juventude também obriga a que a freguesia tenha um espaço para crianças e jovens adolescentes, e assim nasceu o Casal de jovens Can Gaza, onde a GATS ganhou o concurso para a sua gestão.

O espaço fica num edifício municipal onde também existe um Casal de Gent Grand (na parte de baixo) e um espaço para as crianças mais pequenas (na parte de cima). No meio, no 1º piso, o casal de jovens, com uma sala ampla, mas preenchida (talvez demasiado) com uma mesa de ping-pong, um sofá, uma televisão, uma varanda, um pequeno escritório com computador onde a Mar costuma estar e uma pequena sala com mesas e cadeiras, estilo sala de estudo. Não é um espaço acolhedor, apesar dos desenhos e outras coisas saídas de oficinas e, de os cartazes a anunciarem actividades e pedir colaboração, que estão pendurados nas paredes, tentarem contrariar esse “vazio”.

No panfleto de divulgação trimestral das oficinas, actividades e serviços do “casal” podemos ler que este é um espaço de encontro e dinamização juvenil, que é um espaço dos/das jovens e para os/as jovens, que pretende oferecer alternativas ao tempo livre dos jovens, e que é um equipamento onde os jovens podem participar nas actividades existentes ou propor outras. No entanto, segundo a Mar, e nós também o podemos comprovar, os jovens vão ali para consumir, levam jogos de Playstation e estão ali a jogar horas sem fim e as meninas vão fazer os trabalhos de casa em conjunto. Por isso é difícil que participem nas actividades propostas e mais ainda proporem eles próprios actividades. Na que houve mais inscritos foi na visita ao Parque de Atracções do Tibidabo (montanha em Barcelona). Perguntamos o que fazia para contrariar essa passividade, e achei boa ideia o facto de no Instituto (equivalente às nossas escolas básicas e preparatórias) haver um criança em cada turma que é o “informador”, uma daquelas poucas que se interessa e quer participar nas coisas, que divulga a informação do Casal na escola, informando os colegas das próximas visitas e cursos. Estes últimos nem são caros, dado que são crianças que não têm na sua maioria problemas económicos. Um curso de iniciação à realização de curtas-metragens poderia ser feito por 25 euros (um mês) e um de babysitting 15 € uma semana. Mas também há as oficinas gratuitas só de um dia (como o de fazer papel), normalmente às sextas, e que têm alguma participação. Talvez por serem apenas de um dia.

O grande problema é que a maioria destas oficinas não terem acontecido porque não houve inscrições suficientes que compensassem a vinda do formador.

Existem outros serviços que o Casal oferece como ludoteca, música, apoio à criação de associações e à organização de actividades, cessão de espaço para reuniões e actividades, sala de estudo, “cantinho da banda desenhada”, “oficinas à medida” (mais uma tentativa de tentar a participação nas oficinas, onde com este “serviço” podem propor outros horários para as oficinas), e espaço de entidade juvenis. Este último serviço faz com que os “Diables del Vi d’Alella”, grupo típico que anima as festas da vila, tenham lá sede (uma pequena sala) onde reúnem semanalmente e guardam o material.

Conhecemos algumas das crianças, que falam basicamente catalão, o que dificultou a nossa comunicação. São jovens sem problemas de maior, segundo a Mar, vindos de famílias estáveis e estruturadas. Vão àquele espaço quando vem lhes apetece (está aberto a partir das 17h) e usam-no como querem. Pareceu-nos demasiado “laissez-faire”, e ainda mais quando soubemos que a função da Mar nem sequer é de facto de educadora social, dado que apenas deve estar no escritório a organizar as actividades para os jovens consumirem. No entanto, ela interage bastante com os jovens e esforça-se para que eles se interessem e proponham actividades

Como as raparigas gostam bastante de trabalhos manuais, mostrei-lhes um origami, elas gostaram e propusemos uma oficina de origamis, assim como mostramos as carteiras tetra-pack.

A viagem de volta para casa foi a pensar em tudo isso, no facto de os jovens não quererem participar. A Mar faz um bom trabalho pois tenta detectar o que eles gostam, o que lhes interessa, de forma a propor oficinas mais indicadas, mas deveria insistir noutro tipo de utilizações do espaço em vez do simples jogar Playstation. Até se pode transformar esse “defeito” numa mais valia, organizando por exemplo um campeonato de Playstation (acho que até já o fizeram) mas sendo os próprios jovens a organizarem praticamente tudo sozinhos e a sério, apenas com orientação. Ou seja, fariam eles os panfletos, a programação (que deveria ser mais abrangente, com outras actividades para quem não gosta de Playstation, por ex), a divulgação, tratariam de tudo no dia (comes e bebes, bla bla bla).. Se durante esta organização, as dicas dadas fossem pertinentes e se eles de facto compreendessem a importância de pequenas coisas como actividades paralelas, o evento seria bem sucedido. Teriam protagonismo juvenil, e mais importante que o resultado final, seria todo o processo passado: as reuniões, as discussões, as tarefas, os prazos a cumprir. Acredito que seja difícil motivar os jovens hoje em dia, numa sociedade tão materialista e consumista, em que estamos habituados a ter tudo já feito e à mão de semear, mas se apresentarmos os estímulos certos, se eles compreenderem de facto, torna-se mais fácil. É uma questão de clickes. Assim, não adianta estar a insistir com oficinas, cursos e acitividadezinhas, se só vão servir para continuar o ciclo do consumo inconsciente. No entanto, podem ser usadas como pretexto para, para conversas que dão o tal clike, para detectar problemas, etc. Não sei se é isso que a Mar faz, embora me tivesse parecido, sei é que é isso que gostava de fazer e penso que não é possível num espaço tão curto de tempo e com este problema de comunicação que avizinho.

Mudando de assunto, tento sempre apontar todas as actividades que existem diariamente em Barcelona na minha agenda (normalmente apenas as gratuitas), e começo a aperceber-me que são mesmo muitas. É que cada vez temos acesso à mais informação, a mais locais onde vemos divulgados eventos, a mais agendas culturais gratuitas, a mais um site na Internet. Os dois meios de divulgação que prefiro são uma agenda cultural gratuita, a “Batxuca” e o calendário alternativo internacional Radical Calendar (www.radicalcalendar.org) do qual selecciono o grupo Indymedia Barcelona.

Só para terem uma ideia, as coisas que aconteceram hoje em diferentes locais foram (fora as que não tive conhecimento:

- jornadas ciberfeministas (poesia, exposição, concertos, debates)

- sessão informativa sobre 3 jovens anarquistas que estão presos, segundo algumas pessoas, injustamente

- manifestação “Salvem Eivissa! – “Não queremos auto-estrada”

- 2 documentários sobre a mulher na Venezuela, na Casa da Solidariedade

- espectáculo da companha de teatro social Rebel’art

- video e conversa sobre Israel e territórios ocupados palestinos, onde um grupo de mulheres catalãs (uma pedagoga, uma jornalista, uma historiadora, uma advogada e uma investigadora) esteve em Dezembro de 05 e Janeiro de 06, com o objectivo de visitar organizações de mulheres. Evento organizado pela associação « Service Civil Internacional » e com a participação das protagonistas.

- Jam sessions gratuitas em diferentes bares

- Conferências diversas em variados centros cívicos

No final não fui a nenhuma destas actividades. É que só cheguei a Barcelona ás 19h30m e como o J. (o tal amigo catalão, do HC) tinha-me telefonado a perguntar se queria ir ver uma curta-metragem de animação japonesa (sem diálogo) resolvei aceitar. É que recusar convites dos poucos amigos que tenho cá não gosto lá muito de o fazer.

Fomos petiscar umas tapas e provei pela primeira vez o tão badalado pão com tomate. Ao contrário do que esperava, não é nenhuma geleia de tomate mas simplesmente tomate esmagado com azeite e barrado no pão. Simplicidade deliciosa! E ao que parece, é mesmo típico aqui da Catalunha. Não se vê noutra região de Espanha.

A noite seguiu-se com uma conversa sobre política e políticos catalãs que se tornou acesa aquando da entrada para a discussão de um amigo do J. cujas preferências políticas eram diferentes.

Fiquei a saber que na região catalã há como que 4 “direcções políticas”: esquerda nacionalista catalã, e direita nacionalista catalã, ou seja, que querem a independência da Catalunha; e direita e esquerda que não querem a independência. Quem governa agora é uma triligação entre 3 partidos de esquerda independentistas, entre os quais um de extrema esquerda, e os “verdes”. O presidente da região autónoma é o Pasqual Maragall, segundo eles figura mediática e bastante carismática.

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