6 de Março - segunda-feira

Hoje fui ao Centro Cívico Can Basté (o tal em Nou Barris) para falar com a Associação Ecologistas em Acção (www.ecologistasenaccion.org) que têm lá sede, mas, infelizmente, a pessoa que estava responsável nesse dia adoeceu. Aproveitei para, numa espécie de hall de entrada (onde estava a secretaria, mesas e cadeiras, exposição sobre o dia das mulheres), ler umas revistas que lá estavam disponíveis. Revistas feitas por associações de vizinhos, associações locais, associações de jovens! É incrível a quantidade de associações que existem em Barcelona. Sei que em Portugal o número de associações também é elevado, mas é que muitas acho que não está lá muito activas. Só existem praticamente no papel. Aqui muitas fazem realmente coisas, já que nas revistas podem-se ver divulgadas várias actividades. E existem associações de todos os tipos e para todos os gostos. Há também aquelas bastante curiosas, como uma associação de pessoas com apelidos de animais.
Continuando a contar o meu dia-a-dia., desapontada, resolvi ir dar um passeio pela cidade e nunca me senti tão desorientada. Passado uns minutos, lá encontrei uma associação que procurava: “Xarxa Consum Solidário” (Rede de Consumo Solidário – www.xarxaconsum.org). Depois de comprar uns livros que estavam em promoção e eram sobre o Fórum Social de Porto Alegre e os movimentos sociais, perguntei mais coisas sobre a associação. É que podiam ser uma associação que se dedicasse só ao Comércio Justo e divulgação dos seus produtos ou então poderia ter outras áreas de actividade. E de facto, o Turismo ético e solidário, a cooperação internacional com as associações dos países do Sul (com quem trabalham, actualmente com associações de Marrocos e Equador), as campanhas de sensibilização e uma cooperativa de produtos ecológicos e biológicos são outros projectos da organização não governamental que estão em marcha, como me explicou uma das raparigas simpáticas que estava no escritório/sede da associação. Em relação ao Comércio Justo; apenas têm uma loja comércio justo com produtos biológicos, artesanato, livros, entre outros, mas têm muitos dos produtos espalhados por 180 pontos de venda diferentes.
Perguntei como podia ajudar mais activamente, tendo em conta que não falo catalão nem sequer um castelhano perfeito. Falamos da possibilidade de serem precisos voluntários para o armazém, para distribuir os legumes no âmbito” da cooperativa de produtos biológicos, para dinamizar bancas de divulgação e venda em eventos específicos... Perguntaram qual a mina disponibilidade e fiquei de lhe enviar um e-mail enquanto ela iria falar com os outros companheiros da associação para ver onde eu poderia participar. Mais uma vez não foram muito receptivos, simpáticos sim, mas receptivos não. Fico com a ideia que aqui as associações já têm gente suficiente e não andam como em Portugal ansiosos por novos voluntários.
De seguida, como sabia que ficava perto, fui procurar a RAI (Recursos de Animação Intercultural), mas desorientada como estava, não encontrei!
Sem querer, fui parar ao Centro Cívico Sant Agusti (dos primeiros que visitamos) e vi uma exposição sobre escolas públicas: “Um século de escola em Barcelona – acção municipal e popular – 1900-2006”.
Com a exposição universal de 1888 em Barcelona, esta começou a crescer e a tornar-se numa cidade “moderna”. No entanto, “o crescimento da cidade supõe, ao mesmo tempo, o aumento das diferenças sociais.” Foi bastante agradável ler esta frase dado que nos diz exactamente que o que tem acontecido é um crescimento insustentável e que talvez as cidades já tenham crescido demais. Retomando, com o crescimento de Barcelona houve também uma forte agitação política e social protagonizada por grupos regionalistas, republicanos e anarquistas. A nível educacional, o facto é que metade da população era analfabeta. A escolarização das crianças situava-se em contextos muito diferentes: escolas elitistas, escolas populares e na rua, e mesmo crianças que não iam escola, ao invés, trabalhavam.
Surge a Ley Moyano (1857) que diz que a educação é obrigatória dos 6 aos 9 anos. Uma das coisas que achei engraçado foi que essa lei implica que não se possam construir praças de touros nas aldeias e vilas onde não haja escola, havendo por outro lado recompensas para as câmaras e entidades que construam escolas. As primeiras escolas da política educacional e pedagógica da Câmara de Barcelona são concebidas como laboratórios experimentais, pretendem introduzir a gratuitidade, a coeducação, a neutralidade religiosa e a certificação do mestre. São escolas municipais ao ar livre e seguem os princípios do movimento higienista e da Escola Nova. Além da Natureza ser o meio natural da criança, era particularmente importante na época, pois melhorava o físico das crianças, das quais algumas estavam bastante afectadas pela tuberculose.
Outros dos princípios da Escola Nova são:
-ensino baseado nas experiências e actividades das crianças;
ensino que parte dos interesses espontâneos das crianças;
- motivação para a reflexão, ao contrário da acumulação de conhecimentos memorizados;
-ambiente de beleza, educação do corpo, música colectiva;
- trabalho individual e em equipa;
-organização de viagens, excursões e acampamentos;
Com a 2ª república o desejo de ensinar e aprender aumentou e o Estado assume pela primeira vez a responsabilidade plena da Educação. Prioriza-se assim a Escola Pública e 27 000 escolas são criadas. Em 1931 já se tinham construído 7000 delas e o magistério passa a ter reconhecimento oficial. Os Grupos Escolares aplicam de forma fiel e rigorosa os princípios da Constituição Republicana, do Estatuto de Autonomia e da Escola Nova: o Ensino é totalmente gratuito; as aulas dividem-se em catalão e em castelhano; os exames são substituídos por avaliação continua e o livro de texto por consulta na biblioteca e atribui-se grande importância à participação democrática e educação cívica.
Em 1939 surge a Ditadura Franquista e ensina-se e aprende-se debaixo do silêncio até 1975. O nacionalismo converte-se na doutrina oficial do regime e a prática religiosa é obrigatória. Tal como o “Deus, Pátria a Família” e Salazar. As aulas são separadas por sexo (a coeducação é proibida); a língua de ensino passa a ser somente o castelhano; a pedagogia é autoritária, do silêncio, das ordens e da disciplina severa; volta-se aos métodos tradicionais de memorização e repetição e o aluno não tem qualquer protagonismo.
No fim da ditadura, embora eu considere que na exposição faltou explicar melhor este ponto, surge um grande movimento de reivindicação das escolas públicas e gratuitas de outra hora. As 1ªs jornadas pelas escolas públicas são organizadas em 1985 pela Mesa de Nou Barris em defesa do Ensino Público; o que me faz pensar que Nou Barris deve ser uma freguesia com uma história passada a nível de activismo que justifica, talvez, o seu fulgor reivindicativo de hoje em dia. Em 1988 vão “Todos ao Parque da Cidadela” pela “defesa do ensino público e sua qualidade”, como se pode ler nos antigos cartazes de divulgação.
Como estamos perto do final da exposição, há uma espécie de mostra de livros indicados (presumo eu): “Pedagogia do oprimido” de Paulo Freire, “Por uma escola do povo” de Célestin Freinet e “A sociedade descolarizada” de Ivan Illich, são alguns dos exemplos.
Mesmo ao lado, um mural a imitar uma típica parede com grafitis e dizeres: “Nem uma criança sem escola, nem um professor sem trabalho”, “Voltem os nossos professores”, “Escolas activas para bairros obreiros”, “Escolas em luta”, entre outros.
Por último, as escolas de Hoje são apresentadas e foi a parte que menos gostei. Tinha pouca informação. Só umas imagens e um texto a dizer praticamente quantos anos tinha a escola, o que leccionava, etc. Algumas referiam as “típicas” actividades extracurriculares. De notar que muitas delas apresentavam actividades interculturais, devido ao número elevado de imigrantes que tem a cidade, e como forma de promover a integração destes através da valorização da sua cultura e o seu intercâmbio.
À noite quando cheguei a casa, vimos um filme (eu, Marlene e C., o italiano que vive connosco), daqueles que fazia parte da minha lista de filmes a ver, que consegui requisitar na biblioteca (é que os dvd’s parecem ser artigos bastante requeridos na Biblioteca): “Celebração”. Muito bom. Enquanto todos celebravam os 60 anos de um pai de uma família respeitada, o filho não dava motivos para celebrar. Pelo contrário. Denunciou com coragem as práticas pedófilas do pai com ele mesmo e sua irmã em crianças.
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