5 de Março – domingo
Ás 10h estava a sair de casa. Queria aproveitar algumas entradas gratuitas em alguns Museus por ser o primeiro Domingo do mês. Fui em direcção ao Museu Picasso onde a fila para entrar era enorme! Tudo apenas para ver uma exposição sobre Picasso. Uma exposição cronológica onde fiquei admirada com os seus primeiros anos que curiosamente foi dos que mais gostei pela novidade de umas telas muito pequenas, tamanho A5! A fase modernista também me agrada, onde penso que se insere a sua obra “Guernica” que infelizmente não está neste museu e é das minhas favoritas.
Um toquezinho à campainha da casa da Ana e da Helena (que é mesmo perto) e vamos todas ao Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona ver uma exposição sobre Circo – “Circo Contemporâneo Catalã, a arte do risco”.
A exposição explicava a história de um novo estilo de circo na Catalunha, o chamado Novo Circo. Nasce no final da Ditadura Franquista, com a Revolta Social e o carácter de festa e risco cénico desta. A vida e a festa começa a fazer-se nas ruas, a liberdade que estava reprimida é posta em prática, recuperando-se assim tradições e o folclore catalã.“ Os comediantes escolheram a reivindicação do saltimbanco. São músicos, acrobatas, , palhaços, malabaristas!” (Xavier Fábragas).
Depois, através dos festivais, associações profissionais, entidades cívicas, revistas, centros de formação, o circo cresceu e misturou tradição e inovação. Em 1981, o “Circ Cric” era um marco de referência desse Novo Circo (e ainda existe, estando agora em actuação em Montjïc; gostava de assistir). “Pode parecer que o circo se situa à margem da cultura, mas na realidade está no centro” (Paul Bouissac).
O Novo Circo não usa animais nos seus espectáculos, apenas pessoas, potencializando as suas capacidades. Assim, figuras como os mimos, os ilusionistas, o teatro visual e gestual, também aparecem e fazem parte deste Novo Circo. São exploradas novas dimensões poéticas mas onde as palavras faladas geralmente têm um papel secundário.
Em Barcelona, actores, músicos e coreógrafos começam a incorporar elementos circenses nos seus espectáculos. O Circo contemporâneo tem então características de híbridação, diversidade, com múltiplas influencias e linguagens. Influencia e é influenciado.
Concluindo, “o Circo é um poema a compartir”, (como disse Bernard Kidlak), e que está a ser compartido. Pelo menos foi com essa impressão que saí da exposição.
No mesmo local, vimos uma exposição denominada “Mulheres diante da guerra” organizada pela Cruz Vermelha. São testemunhos e fotografias de situações que envolvam e retractem mulheres durante as actividades de protecção e assistência médica da Cruz Vermelha.
A exposição retractava os diferentes papeis da mulher nos conflitos armados: o papel de combatente; de presa; de parte da população civil que é vitima; vítima de abuso sexual; refugiada; sem casa e bens; o papel da mulher que busca desesperadamente os seus familiares e até o papel da jovem mulher que forçosamente tem de adoptar o papel de adulta.
“Eu não se exactamente, mas toda a gente diz que tenho 10 anos, um dos meus irmãos tem 5 e o outro 7. Quando os meus irmãos têm fome pedem-me de comer. Não me lembro quando é que morreu a nossa mãe.” [1]– Mah Bibi, Afeganistão.
Como podemos ver, a exposição apresentava-nos uma realidade crua e dura que muitas vezes tentamos esquecer e “empurrar” para longe. Uma realidade que nos choca no momento mas que não fica muito tempo.
Ás 12h estava já na agenda e esperada por mim com alguma ansiedade a 19ª Calçotada popular de Sants (organizada pelo Casal Independentista de Sants), com jornada informativa sobre el TAV (comboio de alta velocidade que vai ligar Madrid a Barcelona e sobre o qual há um grande movimento cívico contra), com gigantones, música ao vivo, e claro, os tais calçots e outras comidas típicas catalãs. No entanto, estava tanta chuva que não assistimos a quase nada!!!! E esta organização não previa um plano B! Mesmo assim, os “pauliteiros” (pareciam mesmo os nossos pauliteiros de Miranda) continuavam a tocar e dançar debaixo da chuva torrencial! Vimos tudo de longe, tentando estar abrigadas, mas ao mesmo tempo não vimos nada! Depois a Marlene é que nos contou como eram os calçots afinal, já que ela foi mais cedo e ainda não chovia. Contou-nos que os calçots parecem o nosso cebolinho e assam-nos tal como vêm da terra. Só que têm de estar de máscaras e tudo porque a fumarada é muita! Aproveitam a brasa para assar salsichas e depois servem também o famoso pão com tomate catalão (ou será espanhol? Tenho que confirmar!). Molham os cebolinhos num molho especial para o efeito e comem-nos com as mãos, embora haja uma técnica para o fazerem sem se sujarem.
Pesquisei na Internet e li que os “calçots” são um tipo de cebola (branca, tenra e doce) que só se cultivam desde o final do inverno até ao principio da primavera, em certas aldeias do interior do distrito de Tarragona. Portanto é um prato típico e originário nesta região ocidental da Catalunha, tendo exactamente a sua origem em Valls, en Alt Camp.
Receita da salvitxada (molho para as calçots)
Ingredientes (para 4 pessoas)
1 cabeça de alho escalvado e um alho cru
100 g. amêndoas torradas e peladas
30 g. de avelãs torradas e peladas
4 ou 5 tomates maduros escalvados
aproximadamente 80 cl. de azeite
1 pouco de pão seco torrado e ensopado de vinagre
1 polpa de nyora (uma espécie de pimento seco) ou 2 colheradas de pimentão vermelho
sal
Preparação (por ordem):
Numa tigela (ou batedora) põe sal a gosto, De seguida pica os alhos. Acrescenta e pica as amêndoas e avelãs. Pica os tomates. Acrescenta o azeite a pouco e pouco sem deixar de picar (bater), até que vejas que o molho já está bom (dependendo da quantidade de azeite podes fazer o molho mais espesso ou mais leve). Por fim acrescenta o pão, a polpa da nyora ou o pimentão..
(A textura do molho tem de estar bem homogénea).
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